Maçonaria: uma síntese de sua ação política.

A Maçonaria, muito embora marcadamente reconhecida por suas finalidades educativas e filantrópicas, é em verdade, uma instituição de características essencialmente políticas, exercendo sua atuação dentro dos limites da boa ética, no sentido da preservação das principais conquistas sociais da humanidade e da exaltação das idéias libertárias. É bem verdade que proibida é no interior dos seus templos a discussão política, a fim de que não seja quebrada a fraternidade e a harmonia que devem existir entre os maçons. Todavia, tal proibição é pertinente apenas à discussão político-partidária, pois este já tem o seu espaço ocupado pelos partidos políticos.

Seria paradoxal até dizer-se a Maçonaria uma instituição apolítica, se sobejamente conhecida é a ação maçônica nas lutas pela liberdade, pela paz e pelo bem-estar da humanidade. Na história das nações, através dos séculos podemos vislumbrar uma série de triunfos maçônicos em prol da conquista e manutenção da liberdade e da justiça social. A Revolução Francesa, a Declaração dos Direitos do Homem, a Declaração da Independência dos Estados Unidos, a Unificação Italiana, a libertação do México, Argentina, Chile, Venezuela, Colômbia, Perú e de outros paises latino-americanos, a luta subterrânea contra Hitler e Mussolini, a volta das franquias democráticas a Portugal e à Espanha, a Lei do Ventre Livre, a extinção da escravatura, a Inconfidência Mineira, a Guerra Farroupilha, a Independência do Brasil, a República, foram sem dúvida alguma, direta ou indiretamente, feitos heróicos da Maçonaria.

A Maçonaria, porém, não age como um partido político, nem como uma entidade de frente procurando rodar moinhos de vento, ou procurando uma luta para a divulgação pública através da imprensa. Sua luta tem sido sempre uma luta de doutrinação, uma luta apartidária, uma luta sem preconceitos. Sua ação se dá pelo exame dos problemas político-sociais, pelo planejamento das soluções que lhe são adequadas e pela escolha da posição a ser adotada pelos maçons em face dos mesmos, no mundo profano. Este é que o grande trabalho político das lojas maçônicas, pois, mais ou menos teoricamente, com mais ou menos ciência e imaginação, os problemas sociais são estudados, resultando das discussões idéias sábias que, disseminadas na sociedade pelos maçons, fazem estes a obra de propaganda oculta, que é a verdadeira ação política maçônica.

A Maçonaria, e particularmente a Maçonaria do Brasil, tem assim permanecido atenta às grandes questões nacionais e contribuido mediante sua forma pacífica e discreta de ação, para a solução dos problemas da nação. Seu trabalho, que sempre se dirigiu à elevação moral, espiritual e social do homem, à melhoría das condições de bem-estar da sociedade e ao aperfeiçoamento permanente das instituições democráticas, não tem tido conotações com qualquer corrente de cunho político-partidário, mas tão somente com os postulados da Justiça Social, da Verdade e do Trabalho.

Exemplos desta ação estão registrados em inúmeros momentos da história, entre os quais destacamos: a propositura feita a Dom Pedro I, em 1822, para a convocação de uma Assembléia Legislativa e Constituinte, objetivando a formação de um Estado e de uma Nação livres e independentes; o apêlo público feito pelas Grandes Lojas do Brasil, em 1982, ao Presidente da República, para a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte a ser elaborada por representantes diretamente delegados pela vontade popular; o manifesto divulgado pela Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil, em 1984, advertindo aos segmentos responsáveis pela Administração Pública, pelos Partidos Políticos e Entidades Privadas, da necessidade premente de retorno à normalidade institucional-democrática, com a retomada do desenvolvimento econômico, político e social, como caminhos indispensáveis à conquista do bem comum e da grandeza da pátria; a Proclamação de Brasília e a Declaração de Belém, ainda em 1984, concitando governantes e governados à conciliação nacional; em 1986, a convocação interna e a manifestação pública, com vistas a atender o anseio da nação de total reformulação do Estado, mediante a vigência de um novo Estatuto Constitucional, que possibilitasse o reordenamento das instituições nacionais e que contivesse normas que protegessem o povo e a sociedade, contra desmandos e aventuras prejudiciais aos mais elevados interesses da nacionalidade; em 2000, a denúncia de que a crise sócio-econômica vivida pelo país resulta da política governamental de privilégio do econômico sobre o social, ante a manutenção a qualquer custo do plano de estabilização da moeda e de alinhamento à globalização da economia, vinculada a regras traçadas pelo Fundo Monetário Internacional; neste ano de 2001, a conclamação ao povo brasileiro, no sentido de que as autoridades constituidas adotem posições enérgicas e definitivas para a solução de graves problemas sociais, que têm levado a nação ao caos moral, social, político e econômico. É impossível desconhecer-se a falta de segurança nas ruas e nos lares e que se alastra ao meio rural fomentando a agitação social, o incremento da circulação das drogas alucinógenas que tem ceifado vidas de nossos jovens, a permanente tendência de privatização da educação pública, o desprezo pela vida que torna cruel o sistema de saúde pública, o aumento do índice de desemprego provocado pela globalização da economia, a desumana concentração de renda que faz o rico tornar-se mais rico e o pobre mais miserável, a volumosa corrupção ativa e passiva que desagrega o sistema sócio-político brasileiro. Vê-se, pois, por tudo isto exposto, que a Maçonaria tem sido sempre defensora incansável da democracia, da liberdade e dos direitos humanos.

No dia 20 de Agosto, toda a Maçonaria Brasileira comemora o Dia do Maçom. Tal comemoração nessa data prende-se ao fato de ter sido realizada no Rio de Janeiro, em 20 de Agosto de 1822, a histórica Assembléia Geral do Povo Maçônico, na qual foi aprovada a moção apresentada por Gonçalves Ledo, de proclamação da independência do Brasil.

Naquela data, o Primeiro Grande Vigilante do Grande Oriente do Brasil, Irmão Joaquim Gonçalves Ledo, na ausência do Grão Mestre, Irmão José Bonifácio de Andrada e Silva, presidiu a Assembléia Geral dos Maçons, que estava composta pelos obreiros pertencentes às Lojas Maçônicas Metropolitanas "Comércio e Artes", "União e Tranqüilidade" e "Esperança de Niterói". Segundo o historiador Tito Lívio, ficou registrado em ata que nessa sessão o Irmão Gonçalves Ledo pronunciou "um enérgico e fundado discurso, demonstrando com as mais sólidas razões, que as atuais políticas circunstanciais de nossa Pátria, o rico, fértil e poderoso Brasil, demandavam e exigiam imperiosamente que a sua categoria fosse inabalavelmente firmada com a proclamação de nossa independência e da Realeza Constitucional na Pessoa do Augusto Príncipe Perpétuo Defensor do Brasil". A ata de reunião ainda registra "que esta moção fora aprovada por unânime e simultânea aclamação expressada com o ardor do mais puro e cordial entusiasmo patriótico".

Levando-se em consideração seus princípios de liberdade e a preparação sigilosa nos seus Templos para a libertação nacional do jugo português, o Grito do Ipiranga nada mais foi do que o eco daquilo que já ficara resolvido e decidido naquela assembléia de 20 de Agosto. Dom Pedro I, que já havia sido iniciado nos Augustos Mistérios da Maçonaria, e que se tornou posteriormente Grão Mestre da Ordem, ratificou em ato público e político o que o Grande Oriente do Brasil já deliberara naquela memorável sessão. Historiadores renomados asseguram este fato, entre eles Gustavo Barroso, quando afirmou que "a Independência do Brasil foi realizada à sombra da Acácia, cujas raizes prepararam o terreno para isso"; Adelino de Figueiredo, na sua afirmativa de que "ninguém ignora as quatro paredes dos templos maçônicos"; Visconde de Porto Seguro, na sua afirmação de que "temos hoje a certeza de que a idéia e resolução primeira da proclamação de Dom Pedro como imperador e até a designação para o dia 12 de outubro, foi obra exclusiva da Maçonaria".

O papel que desempenhou a Ordem Maçônica no mais notável acontecimento da História do Brasil, foi tão importante e decisivo para a evolução social e política da Nação, que o Sete de Setembro se transformou na realidade dos sagrados ideais maçônicos de Amor à Liberdade. Os maçons brasileiros, no seu Dia, podem regozijar-se de pertencer à Sublime Ordem Universal do Esquadro e do Compasso. Em verdade, embora os compêndios escolares omitam a atuação maçônica nos movimentos libertários e de emancipação política, sempre coube à Maçonaria posição de destaque em tais ocorrências. Portanto, se a data de 7 de Setembro significa para todos os brasileiros o dia magno de consagração à Liberdade, o dia 20 de Agosto representa para os maçons o marco que os faz recordar das lutas e das vitórias da Instituição em prol da liberdade política da Nação.

Ambas as datas têm, pois, para os maçons brasileiros, alta representatividade em seus corações e em suas consciências, pois simbolizam as chamas vivas da luta inextinguível contra as garras esmagadoras da tirania e da opressão. Mais do que isso, esta data deve servir para nos lembrar que a luta pela independência não terminou, que o patriotismo não deve servir somente para demonstrações festivas, mas sim, como um sentimento vigoroso, que em todas as ocasiões deve estar latente em nosso espírito, em nossa mente, impulsionando-nos a agir com otimismo, a trabalhar com perseverança e a buscar sempre as melhores soluções para o bem-estar de nosso povo e de nossa querida pátria.

Nos tempos de paz, temos a obrigação de contribuir com nosso esforço, e até com sacrifício se preciso for, para se alcançar o bem comum, pois existe o patriotismo da paz da mesma forma que existe o patriotismo da guerra. Um dos mais importantes meios para nossa atividade patriótica é estarmos sempre alertas contribuindo em todos os momentos, em todos os segmentos de nossa participação na sociedade, dando o melhor de nossos esforços, com sinceridade, honestidade, altruismo e fraternidade, para a realização de nossos objetivos.

Quando nós nos revestimos da qualidade de maçons, assumimos redobradas responsabilidades como cidadãos e como membros da Maçonaria, e temos o dever, conhecendo os princípios fundamentais da Ordem, de lutar e trabalhar no sentido de ajudar e servir esta terra maravilhosa.

Cada um de nós, maçons, nos orgulhamos de pertencer à Ordem, não só pelo que ela tem feito através dos séculos pela emancipação dos povos em todo o mundo; não só pelo que ela tem feito em favor dos desamparados, dos órfãos, das viúvas; não só pelo seu merecido prestígio; não só pelo impacto que ela causou nas lutas pela independência. Mas sim, porque nossa Ordem continua até hoje preservando os ideais pelos quais lutaram os irmãos que nos antecederam, seguindo seus exemplos e preparando, com os mesmos objetivos, os que continuarão a obra no futuro; mas sim, porque ela continua a ser fiel guardiã dos anseios de liberdade, igualdade e fraternidade; mas sim, porque ela persevera em seu trabalho diuturno, buscando a perfeição para a humanidade; mas sim, porque ela acompanha passo a passo os acontecimentos mantendo-se atualizada e sempre pronta a dar a sua colaboração para se obter a harmonia, a paz e o bem-estar do povo.

Nos dias atuais podemos dizer que a situação da Maçonaria continua com o mesmo prestígio, dela participando valiosos elementos, em todos os setores da vida nacional. No comércio, na indústria, na agricultura, nas profissões liberais, encontramos muitos maçons, assim como nas forças armadas, nos poderes legislativo, executivo e judiciário, como em todas as entidades públicas. Entre os políticos, de todos os partidos, muitos são maçons. Temos certeza, que em suas atividades diárias, todos buscam, através do ideal maçônico, bem servir aos seus semelhantes, e lutar pelo bem-estar do povo e pelo progresso do Brasil.

Dentro desse espírito de participação na comunidade, desse acendrado ideal de servir que é o objetivo da Maçonaria, muito tem se beneficiado a sociedade, pois todos os movimentos resultantes das atividades maçônicas têm sempre como meta principal a melhoría do povo e o bem-estar da humanidade. Dentro desse espírito de otimismo e confiança é que nós maçons, mesmo reconhecendo a situação ainda angustiosa que vivemos, nestes momentos de dificuldades, devemos como maçons, unidos a todos os compatriotas, manter viva a chama da esperança de melhores dias. Temos o dever de fazer renascer esse ideal, torná-lo realidade, colocando-o em prática em todos os momentos e em todas as atividades de nosso viver, fazendo hoje, para vencer as dificuldades que se interpõem em nosso caminhos, o mesmo que fizeram nossos Irmãos em 1822, ou seja, lutarmos por nossa independência e precipuamente, por nossa independência econômica.

A crise que ainda se defronta o país possui características pecuiliares, e que se tornou agravada por formulações anteriores equivocadamente ajustadas, cujas repercussões política e social foram negativas sobre a qualidade de vida do nosso povo. Mas, estamos confiantes na formulação de um grande projeto nacional, contendo os indispensáveis subsídios de todos os segmentos sociais, com o pressuposto básico do aperfeiçoamento democrático, do desenvolvimento acelerado das regiões mais pobres, notadamente do Nordeste, e da melhor redistribuição da renda nacional, pois tal projeto irá recolocar o país frente a frente com seu futuro, fazendo ressurgir o bem mais escasso no Brasil de hoje, que é a esperança.

Nesse contexto, a Maçonaria dará, mais uma vez, sua valorosa contribuição para unir o povo brasileiro em busca da solução da crise econômica e social que nos aflige. Devemos implantar nos trabalhos das oficinas os métodos para fazer renascer a esperança e o orgulho na consciência de cada cidadão. Devemos lutar para que cada brasileiro resgate a sua dignidade, que será representada pelo direito à habitação, emprego, saúde e educação. Devemos trabalhar por um objetivo comum, no qual possamos unir todos os setores da sociedade em busca da recuperação do Brasil. Devemos cada vez mais estimular a prática da sabedoria, da tolerância e o exercer da fraternidade.

A Maçonaria tem, neste momento, uma grande oportunidade de reafirmar-se no processo histórico brasileiro, bastando para isso transferir à sociedade todos os princípios que nos influenciam e nos dirigem. Confiemos neste povo que sempre soube enfrentar as dificuldades interpostas em seu caminho, e sempre soube encontrar a solução para suas dificuldades, acabando por fazer prevalecer o bem sobre o mal.

Com a fé no Altíssimo, unidos em um mesmo espírito de solidariedade, em uma mesma cadeia de união, demo-nos às mãos e juntos, com o sacrifício que for necessário, ajudemos aos nossos dirigentes a encontrarem a direção acertada para a solução dos nossos males, trabalhando para a construção de um presente harmonioso e benéfico para o nosso povo, e a certeza de um futuro radiante e esplendoroso para nosso querido Brasil, sob a proteção e iluminação do Grande Arquiteto do Universo.

Eis, pois, em breves palavras, a síntese da ação política da Maçonaria. A sua mensagem é de transcendental importância à toda sociedade, face o papel que ela tem a cumprir para o bem da humanidade. Não tivesse ela essa mensagem, já teria desaparecido na voragem do tempo, pelas perseguições de que foi vítima, pelas injunções políticas contrárias à sua trilogia de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, pelo inconformismo de seitas e ideologias imbuidas de fanatismo. Ela, entretanto, sobrepuja todas as adversidades e acaba triunfando, pois, tem uma missão sagrada a cumprir e que é a luta pelo aperfeiçoamento do homem. Toda sua simbologia, toda sua doutrina, todo seu ritualismo, têm por objetivo esse aperfeiçoamento, pois nele reside a base do bem-estar, da paz, da harmonia e da felicidade de toda a humanidade.

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Autor

* Ailton Elisiário de Sousa 
Escritor Maçônico.