Mozart e a Maçonaria

Nossa intenção não é expor ao Mozart como pessoa, músico ou a sua obra musical em geral, senão um tema concreto de sua vida: Mozart como Maçom e sua obra musical maçônica.

Apesar das biografias e estudos de hoje sobre a personalidade deste Mestre são inumeráveis, são poucos os que se dedicam exclusivamente o tema de Mozart e de nossa Ordem, e algumas obras tratam apenas de alguns fragmentos, quando não evitam o tema. No entanto, na vida de Mozart a Maçonaria foi um aspecto muito importante.

Porque Mozart não tinha para Obediência como uma de tantas atividades recreativas, se não que se sentia realmente comprometido com a causa maçônica; para ele ser Maçom era um motivo de orgulho e não se molestava em o proclamar e dizer abertamente em público, e todo o mundo conhecia sua filiação maçônica. Mozart se considerava um Maçom militante, o qual ocupou um lugar destacado na sua existência e ampliou o horizonte.

Por outra parte, para as atividades maçônicas, dedicava grande parte do tempo e desejos, e sobretudo brindava com grande talento musical, dirigindo concertos de beneficência ou honra dos trabalhos de música nas Lojas e compondo obras em honra ou para eventos da Maçonaria ou obras profanas onde a marca daquele estava presente, como mostraremos mais a frente em detalhe.

1784, o ano da consagração maçônica de Mozart, quando este tinha 28 anos de idade e somente 5 anos antes do que seria a Revolução Francesa (1789), via uma Maçonaria muito ativa e entusiasta no Império da Áustria, e particularmente na capita Viena. Gozava da condescendência e proteção do Imperador José II, a quem se atribui a reorganização das Lojas em Viena e a quem se associa na ópera “A Flauta Mágica” com o sacerdote Sarastro, do qual não há, no entanto, parecer unânime dos estudiosos da obra mozartiana.

A Maçonaria vienesa era pujante e progressista, nutriente e difusora das Nova Ideias que circulavam pela Europa, e buscava espíritos inovadores, esclarecidos.

É necessário mencionar que a Maçonaria desta época não era incompatível com o Catolicismo, apesar que a Igreja já ter a condenada na Encíclica “In Eminenti” (1738), pelo que se destaca que Mozart jamais abjurou de sua condição de católico.
Separadamente, não deve se esquecer que a Grande Associação, que não era considerada secreta nestes dias constituía toda uma novidade e moda em Viena, o que impelia a muitas pessoas a querer pertencer a Obediência. No entanto, a tensão que vive a Europa a nível político naquela época, a qual se sacude pela onda expansiva da Revolução Francesa, motiva que a Maçonaria comece a ser mau vista pelos pertencentes ao “sistema” e a ser tomada como subversiva, especialmente quando se sabia que se discutia no seio das Lojas temas atinentes à Política, e o próprio Imperador José II toma uma postura de distância e de vigilância, e a sua morte (1790), seu sucessor Leopoldo II iniciará um tratamento hostil com respeito à Ordem, proibindo-se mais tarde.

Como Maçom, Mozart acreditava na Natureza e na Igualdade dos Homens, e realmente confiava que na Maçonaria, este segundo ideal, encontrava su realidade.

Se considera que Mozart era de espírito bom, generoso e compassivo, e tal foi o ardor com que Mozart tomou à Ordem e tal a devoção que tinha por sua Loja que determinou que seu Pai entrara, também, pouco mais tarde. Do Trabalho, e particularmente de alguns Irmãos generosos, Mozart recebeu ajuda econômica em seus tempos mais difíceis, pelo que guardou, também, um profundo agradecimento. No entanto, a nível da sociedade estabelecida Mozart começou a ser mau olhado pela sua condição de Maçom, sendo objeto de discriminações e postergações por outros músicos intrigantes e medíocres, a ao tal ponto que a Igreja lhe escamoteou seus auxílios religiosos nos últimos momentos pelo fato de ser Maçom.
O dia 05/12/1784 a Resp∴ Loja “Zur Wohltütigkeit” (“A Beneficência”) dirige uma Prancha consignando que o dia 14/12/1784 às 18h30min. Seria iniciado o “diretor de orquestra Mozart” o qual é confirmado em outra Prancha de data 11/12/1784. Finalmente Mozart, tal qual o previsto é iniciado na Loja “Beneficência”.

Pouco depois começa a participar ativamente em outra Loja chamada “Zur Wahren Eintracht” ( “A Verdadeira Concórdia”), de tendência progressista, registrando-se seu nome na Lista de Visitantes no dia 24/12/1784. Nesta segunda Loja é dada um Aumento de Salário a Companheiro por delegação e solicitude sua Loja Mãe em data de 07/01/1785. Nesta Loja “A Verdadeira Concórdia” se inicia Haydn, outro grande músico e amigo de Mozart, cerimônia a qual este segundo não pode concorrer por se postergar de 28/01/1785 para o dia 12/02/1785. Diz-se que Mozart pode ter chegado a Mestre, do qual nada consta nos arquivos, não podendo em verdade ser isto corroborado.

Temos dito que impelido por seu filho, Leopold Mozart se inicia na Grande Confraria, o que se concretiza em 1785 na Loja “A Verdadeira Concórdia” e tão grande foi seu esforço que em pouco tempo e no mesmo ano chegou ao grau de Mestre. Consta a participação de Mozart na direção de um concerto de beneficência da Maçonaria fechado em 20/10/1785. Pouco depois, e devido a uma reestruturação das Lojas vienesas, a Loja Mãe de Wolfgang Mozart se funde com a Loja “Zur Neugekronten Hoffnung” (“A Nova Coroada Esperança”), onde nosso músico concluirá sua carreira maçônica, que só interromperá com sua passagem ao Oriente Eterno. Nesta Loja conhecerá a Schikaneder, quem será importante colaborador com os livretos de algumas obras musicais de conteúdo maçônico.

Considera-se a Mozart o criador ou o impulsor mais destacado do simbolismo musical maçônico. De sua atividade para nossa causa o Irmão Mozart dedicou muitas composições aos Trabalhos das Lojas a cujo Quadro pertencia ou com quem mantinha vinculações. Ainda hoje muitas de suas composições maçônicas se escutam nas Lojas de Alemanha e Áustria, e um fragmento de uma obra sua é nosso atual Hino Maçônico.

Como obras que poderíamos considerar “pré-maçônicas” temos uma pequena Ária acompanhada de teclado chamada “Die Freude” (“A Alegria”), composta sobre um poema maçônico e que data de 1767; em segundo lugar “O Heiliges Band” (Índice Kichel 148), ano 1772.

Dentre das obras musicais maçônicas propriamente ditas de Mozart temos:
Cantata “Dir, Seele des Weltalls” (I.K. 429) de 1783, dedicada ao Sol e em modo Mi b Maior (três bemóis), tonalidade muito usada nas composições maçônicas mozartianas.

“Gesellenreise (Die ihr einem neuen Grade)”, I. K. 468, “A Viagem do Companheiro”, composta segundo se diz para o Rito do pai de Mozart. De 26/03/1785.

Cantata “Die Maurerfreude” ou “Sehen, wie dem Staren Forscherauge” (I.K. 471), “A Alegria dos Maçons”, composta em honra de Ignaz Von Born, Venerável Mestre da Loja “A Verdadeira Concórdia” e benfeitor de Mozart, estreada em presença do pai de Mozart, e com a qual foi recebido em Praga pelos Irmãos da Loja “A Verdade e a União” com motivo de estreia nessa cidade de sua ópera “A Clemenza de Tito”. Data de 26/04/1785.

“Oda Fúnebre” ou “Maurerische Trauermusik” (I.K. 477), de novembro de 1785, em honra dos Irmãos Mackleburg e Esterhazy. Se tem considerado um enlace entre a Missa em do menor e o Requiem.

Dos Lieder para tenor, coro e piano “Zerfliesset heut, geliebte Brüder” e “Ihr, unsre neuen Leiter” (I.K. 483 e 484, respectivamente). Este segundo para instalação de funcionários de Loja, de 1786.

Adagio en Fa, para entrada solene de Membros de Loja. Neste se podia escutar o ruído dos machetes. Hoje supostamente perdida.

Cantata “Die ihr des unermesslichen Weltalls Schöpfer ehrt” (I.K. 619).

“Eine kleine Freimaurer-Kantate” (“Pequena Cantata Maçônica”), para a inauguração do novo Templo da Loja “A Nova Coroada Esperança” em 15/11/1791, que chegou a dirigir Mozart, em Do Maior e uma de sua últimas obras, já em seu leito de morte, um de cujos movimentos constitui o nosso atual Hino Maçônico, do qual no Dicionários Enciclopédico da Maçonaria consta uma transcrição para piano com uma letra em espanhol do Irmão Rosendo Arus e Arderiu de péssimo conteúdo literário e que não corresponde com o texto original alemão(I.K. 623).

“Lasst uns mit Geschlungen Händen” (I.K. 623 a), hino à Fraternidade Universal e que serviu como base para o Hino Nacional Austríaco.

“A Flauta Mágica” (“Die Zauberflüte”), I.K. 620, sobre livreto do Irmão Schikaneder. Não é uma obra propriamente maçônica, se bem que o texto e música se inspiram na simbologia Maçônica. Ópera em alemão que apresenta a primeira vista, um argumento fantasioso, mas apreciável para Iniciado, ambientada no Egito antigo, cuja abertura está escrita em Mi b Maior (três bemóis) e começa com três acordes. Sua análise daria lugar a um tema aparte.

Diário Maçônico

Tradução livre feita por Juarez Castro
Fonte: https://www.diariomasonico.com/