NA EDUCAÇÃO INFANTIL BRINCAR É FUNDAMENTAL

 

RESUMO

     O presente artigo tem como objetivo enaltecer a importância do brincar na primeira infância, onde através dela é possível desenvolver suas capacidades e habilidades, oferecendo através da brincadeira uma maneira gostosa e leve de aprender. O aprendizado na brincadeira facilita a construção e o desenvolvimento do ser humano de forma integral em todos os aspectos, físicos, sociais, emocionais, culturais e cognitivos. Onde através do ato de brincar a criança desenvolve sua autonomia, sua capacidade de racionar e argumentar de forma criativa, proporcionando assim a formação de sua personalidade. Esta pesquisa fundamenta-se na leitura de livros que abordam o tema, provocando a reflexão sobre as práticas pedagógicas no universo lúdico infantil.

Palavras-chave: Brincar. Educação Infantil. Aprendizagem. 

 

1. INTRODUÇÃO

 

     Aos olhos de um adulto, o que seria um bom professor na educação infantil? Acredito que a grande maioria dos pais responderiam que um bom professor é aquele que tem domínio total e absoluto controle sobre as crianças, aquele que consegue deixar todas quietas e imóveis em estado de total obediência e muitas vezes até mesmo imobilizados em cadeiras. Ao pensar nas mudanças sociais que temos vivido, onde o consumo e a tecnologia tomam conta de nosso cotidiano, as crianças vem sofrendo com as consequências da modernidade. Claro que tecnologia é muito bom, e nos ajuda e facilita nosso dia-a-dia, porém não podemos esquecer que crianças precisam ser apenas crianças. 

     Parte de sua infância vem sendo roubada, onde são cada vez mais cobradas e exigidas de comportamento e obrigações, ações estas, que impedem que as crianças se desenvolvam de maneira natural, respeitando o tempo e a etapa de cada faixa etária. A infância é a etapa mais importante para a formação e o desenvolvimento do ser humano, e deve ser vivida de acordo com suas necessidades, e brincar é uma delas. 

     Diante de tantos questionamentos, este artigo tem como justificativa a reflexão das práticas pedagógicas utilizadas nos espaços escolares, a fim de que os educadores compreendam a necessidade de mediar suas ações utilizando o brincar como método de ensino.

     O presente trabalho tem como objetivo geral analisar as práticas pedagógicas na educação infantil. Analisar a forma como o brincar é utilizado, sobre a visão dos educadores e como as instituições escolares estão desenvolvendo a aprendizagem das crianças. Este artigo tem como metodologia a fundamentação teórica baseada em pesquisas bibliográficas de grandes autores referentes ao tema. Sua relevância, visa enaltecer a importância do brincar na primeira infância, o que provoca uma reflexão sobre as práticas pedagógicas utilizadas no ambiente escolar. As mudanças sociais do mundo moderno nos obrigam a compreender as necessidades do mundo infantil, onde o brincar é o meio pelo qual a criança se prepara para a vida, constrói conhecimento e explora o imaginário infantil, fator essencial para o desenvolvimento humano.

     Portanto, para maior compreensão da importância do brincar na educação infantil, este estudo foi divido em três sessões. Na primeira sessão vamos abordar as mudanças do cotidiano infantil, onde as crianças iniciam sua rotina escolar cada vez mais cedo, devido às transformações do mundo moderno e às exigências do mercado de trabalho. A segunda sessão trará uma reflexão sobre as práticas pedagógicas e o brincar, ressaltando o papel do educador, sua conscientização e a importância da brincadeira na primeira infância. Finalizando, na terceira sessão trataremos sobre ambiente preparado, onde cabe à escola e ao educador, disponibilizar um espaço organizado, onde os materiais fiquem dispostos de modo acessível estimulando sua utilização, um ambiente confortável e adequado, pois é nele onde ocorre o processo educativo.

 

 

2. AS MUDANÇAS DO COTIDIANO INFANTIL

 

     Nos dias atuais não podemos esquecer de que crianças são apenas crianças, e exigir demais delas é com toda certeza um desrespeito à essa etapa tão importante na formação do ser humano. Com as mudanças do dia-a-dia dos pais, onde tudo é tão corrido e as crianças vão às creches cada vez mais cedo, onde são tão cobradas e exigidas, e passam a maior parte do seu dia nas escolas, estas acabam por esquecer do essencial, que é o brincar. Kishimoto (2001), afirma que a urbanização, a industrialização e os novos modos de vida fizeram com que a criança fosse esquecida e que a infância se encerrasse, transformando a criança em um precoce aprendiz. Com a conquista da independência das mulheres e sua participação cada vez maior no mercado de trabalho, as mães acabam entregando seus filhos cada vez mais cedo aos cuidados das instituições escolares, lugar onde as crianças passam a maior parte de seu tempo, muitas vezes de seu dia, quando em período integral. As cobranças de comportamento, as regras, o sentimento de abandono, a falta de atenção por parte dos pais, já que os mesmos precisam trabalhar, vão dando cada vez mais abertura para as tecnologias, que estimulados pelo consumo acabam sendo utilizados como recompensa. A televisão e os brinquedos eletrônicos, cheios de cores e luzes chamam a atenção dos pequenos, proporcionam certo encantamento, porém, acabam por deixar os mesmos hipnotizados e imóveis em frente a tanta tecnologia. Diante desse mundo tão inovador e também tão estático para as crianças, o brincar torna-se fundamental no ambiente escolar. 

     As crianças são cobradas muito cedo sobre suas responsabilidades, cumprindo regras, avaliadas em seu comportamento, cheias de obrigações com aulas extras como idiomas, balé, capoeira, natação, entre outros, e acabam sem tempo para brincar, brincar de maneira livre, usar sua imaginação, estar com outras crianças, pintar, se sujar, criar, enfim, ter tempo para ser criança.

     Muitas mudanças ocorreram nessa etapa tão importante da infância, por motivos de segurança, as crianças já não brincam mais livremente nas ruas, sua grande maioria mora em apartamentos o que dificulta o contato com a natureza, não conhecem os alimentos e suas origens, apenas as embalagens de supermercado, e tudo isso gera a necessidade no ambiente escolar em proporcionar aos mesmos este contato que foi perdido ao longo do tempo. É na escola que a criança consegue observar os alimentos, ter contato com a areia, andar descalço, interagir com brinquedos ou até mesmo criá-los, fazer amigos, ter contato com os livros, aprender a criar relações e a lidar melhor consigo mesmo.

     Para Oliveira (2000), o brincar não significa apenas recrear, é muito mais, caracterizando-se como uma das formas mais complexas que a criança tem de comunicar-se consigo e com o mundo. O brincar na educação infantil é de fundamental importância devido aos grandes fatores que envolvem o seu desenvolvimento. É na infância que a criança descobre o mundo, onde sua imaginação é capaz de criar um mundo próprio e peculiar, e, através dele, descobre a si. Os estímulos trazidos no ato do brincar desenvolvem autonomia e habilidades capazes de construir o raciocínio e com ele a aprendizagem. Nesta perspectiva, Zanluchi (2005), relata que quando brinca, a criança prepara-se a vida, pois é através de sua atividade lúdica que ela vai tendo contato com o mundo físico e social, bem como vai compreendendo como são e como funcionam as coisas. Deste modo, ao brincar a criança explora os objetos à sua volta, experimentando, criando e imaginando de forma espontânea sua interpretação da realidade. 

     Sua visão de mundo nessa etapa da vida é criada através da imitação e de sua imaginação. Vygotsky (1998), refere-se à brincadeira como uma maneira de expressão e apropriação do mundo das relações, das atividades e dos papéis dos adultos. Os brinquedos e as brincadeiras são capazes de despertar nas crianças a curiosidade e atenção necessária para interagir com o meio, a capacidade de resolução de conflitos, dividir o brinquedo, noções de regras e espaço, tudo de maneira leve através do brincar. A brincadeira é uma atividade natural e espontânea que deve ser respeitada pelos adultos. Com a brincadeira a criança aprende a lidar melhor com suas emoções, seus sentimentos e ajuda a expressar-se, melhorando assim sua comunicação.

     Quando a criança brinca, ela é capaz de pensar, ao contrário do que acontece com os brinquedos industrializados que trazem consigo um esforço mínimo de raciocínio e de movimento. Na visão de Lopes (2005), a criança, justamente pelo fato de depender do adulto para quase tudo, precisa também de tempo para crescer em paz e, aos poucos, deixar de ser criança, virar moça ou rapaz e, devagar, caminhar para a vida adulta [...]. Através do brincar livre ou com brinquedos não estruturados, as crianças são capazes de desenvolver relações sociais, solucionar conflitos, obedecer e estabelecer regras, movimentar-se, correr, pular, imaginar, conhecer seu próprio corpo, seus limites e emoções, ou seja, a criança aprende brincando, cada uma ao seu tempo, respeitando cada etapa de seu desenvolvimento.

     Zanluchi (2005), ainda afirma que a criança brinca daquilo que vive; extrai sua imaginação lúdica de seu dia-a-dia. Hoje em dia é muito comum ver as crianças brincando de falar ao celular, imitando tablet e outras tecnologias, isso porque imitam sua realidade. Nesse contexto, cabe à escola proporcionar outras possibilidades, mostrando outro mundo até então desconhecido à elas, onde podem criar seus próprios brinquedos, utilizar pedras, madeira, tecidos, diferentes texturas, pinturas e cola, entre outros inúmeros materiais que devido à falta de tempo e espaço os pais não os disponibilizam. Pois, como afirma o autor Vygotsky (1998), a essência do brinquedo é a criação de uma nova relação entre o campo do significado e o campo da percepção visual, ou seja, entre situações no pensamento e situações reais. A construção de ideias criativas proporcionadas ao brincar no ambiente escolar faz com que a criança se desenvolva das mais variadas formas, desenvolvendo assim a construção do ser humano de forma plena e integral, onde, através da experimentação do ato de brincar acontece a aprendizagem.

 

2.1. AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E O BRINCAR

 

     Brincar é um direito da criança, e é dessa forma que a criança aprende na infância. A infância é a etapa mais importante da formação do ser humano, e a alfabetização precoce, o excesso de obrigações e disciplina de comportamento exagerado, como aquele que impõem às crianças que fiquem sentadas, e apenas recebam ordens de forma autoritária, afim de plena obediência, impedem que a criança se desenvolva de maneira natural. Uma das práticas mais preocupantes, são as utilizados com as crianças da primeira infância, onde ficam privadas de seus movimentos, muitas vezes presas em cadeiras, o que ao olhar de um adulto pode parecer disciplina e domínio de um bom professor com a turma, porém isso nada mais é do que anular os instintos naturais de movimento da criança. Seguindo essa mesma linha de pensamento, Hansen (2017), afirma que:

 

Um dos maiores erros que cometemos, sobretudo na imensa maioria das famílias e também nos berçários de muitas escolas, é prender o bebê em cadeirinhas ou no chamado bebê-conforto. Alguns poderão afirmar que o que se faz não é prender, e sim usar um pequeno “cinto de segurança.” Porém trocar as palavras não altera o fato de que as crianças são imobilizadas contra a sua vontade. E antes de tudo, devemos lembrar que a vida é movimento. Em toda a natureza não há nada que não se mova e todas as coisas se movimentam porque precisam se desenvolver. (HANSEN, 2017, p. 88)

 

     A criança aos poucos e de acordo com cada etapa de sua vida, vai crescer e se desenvolver, sem ter a necessidade de que os adultos e as instituições escolares acelerem e desrespeitem esse processo, processo este de exploração e experimentação livre, de objetos, da vida e de si mesmo. O autor, Hansen (2017), ainda afirma que imobilizar o corpo do bebê e da criança pequena significa paralisar sua inteligência, sua criatividade, sua capacidade de pensar, de aprender e de desenvolver-se de modo geral. Essa imobilização do corpo não significa estar preso à uma cadeirinha apenas, mas, utilizar brinquedos cheios de tecnologias, onde a criança fique estática sem movimento e sem a participação de seu pensamento e sem estimular seu raciocínio, onde o brinquedo faz praticamente tudo sozinho e a criança participa apenas olhando, ou colocá-la diante de uma televisão ou tablets por horas, afim de que não faça bagunça ou fique “quietinha”, o que para alguns isso pode significar bom comportamento, na realidade tais ações impedem o desenvolvimento corporal e intelectual da criança.

     A preocupação dos pais diante das mudanças sociais e também de valores que são impostas à nós e a atual educação que nos é ofertada, faz com que tenhamos que olhar com mais atenção e cuidado para as práticas pedagógicas, e através delas buscar qualidade sem tirar o direito das crianças de brincar e aproveitar essa etapa da vida que é tão gostosa e fundamental para seu desenvolvimento. Deste modo, uma educação recebida na infância com qualidade, resultará na formação de uma vida adulta saudável.

 

O brincar aberto, aquele que poderíamos chamar de a verdadeira situação de brincar, apresenta uma esfera de possibilidades para a criança, satisfazendo suas necessidades de aprendizagem e tornando mais clara a sua aprendizagem explícita. Parte da tarefa do professor é proporcionar situações de brincar livre e dirigido que tendem atender às necessidades de aprendizagem das crianças e, neste papel, o professor poderia ser chamado de um iniciador e mediador da aprendizagem. Entretanto, o papel mais importante do professor é de longe aquele assumido na terceira parte do ciclo do brincar, quando ele deve tentar diagnosticar o que a criança aprendeu – o papel de observador e avaliador. Ele mantém e intensifica esta aprendizagem e estimula o desenvolvimento de um novo ciclo. [...] O treinamento inicial e prático dos professores precisa assegurar que eles adquiram suas competências nesta área afim de acompanhar as tendências nacionais e manter o papel vital do brincar no desenvolvimento das crianças. (MOYLES, 2002, p. 36)

 

     De acordo com o autor acima, o professor deve mediar a brincadeira, fazer parte, orientar, observar como a criança interage com seus colegas, participar, estimular e fazer com que a criança se sinta confiante. Estabelecer novos projetos pedagógicos onde se proponham novos desafios para as crianças, afim de fazê-las enfrentar novas situações e problemas, desafios estes que disponham de bastante movimento, que estimulem o pensar e lhes atribuam responsabilidades. Wajskop (2005), relata que o adulto é um importante mediador, “ora como observador e organizador, ora como personagem que explicita ou questiona o desenrolar da trama, ora como elo de ligação entre as crianças e o objeto.” Cabe ao professor auxiliar no uso das diferentes linguagens, interferir quando necessário e de maneira adequada, orientar a atividade de acordo com as habilidades específicas de cada criança, respeitando sua faixa etária, organizando e planejando atividades capazes de identificar as dificuldades e as potencialidades de cada uma delas. O professor não precisa chamar a tenção das crianças a todo momento, e sim interpretar e compreender as necessidades das crianças na hora do brincar.

     Para Vygotsky (1998), o brincar é uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e adultos. A influência do lúdico no processo de aprendizagem faz com que através da imitação a criança recrie regras utilizadas pelos adultos em seu cotidiano, a imaginação estimula o desenvolvimento cognitivo, resultando na formação de sua personalidade, na construção do mundo e de sua realidade, ou seja, na construção do ser. Nessa perspectiva, Santos (2002), refere-se à ludicidade como:

 

“[...] uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção de conhecimento.” (SANTOS, 2002, p. 12)

 

     O brincar desperta curiosidade e gera encantamento. Ao brincar, a criança estabelece uma conexão com o universo lúdico, expandindo sua imaginação e criatividade, construindo reflexão sobre seus atos, aprende a lidar com regras e a lidar melhor com suas frustrações, solucionar conflitos, desenvolve seu raciocínio, formula pensamentos e argumentação. 

     Vygotsky (1998), aponta que a essência do brinquedo é a criação de uma nova relação entre o campo do significado e o campo da percepção visual, ou seja, entre situações no pensamento e situações reais. Por essa razão, o brincar deve fazer parte do cotidiano pedagógico. O uso das brincadeiras contribui para o seu desenvolvimento integral, em todos os aspectos, físicos, sociais, culturais, emocionais, cognitivos e afetivos. Estimula seus sentidos, organiza suas emoções, torna a criança mais autônoma, onde aprende a expressar-se e dessa forma aflora sua comunicação. 

     Além disso, Leontiev (2006), destaca que brincar é a principal atividade das crianças pequenas, pois é ela que vai impulsionar a criança para outro nível de desenvolvimento. Brincar é uma forma importante de educar, é o meio pelo qual a criança se desenvolve e aprende desenvolvendo suas potencialidades. A brincadeira não pode ser vista apenas como diversão, ela é uma necessidade física da criança na qual deve ser respeitada e estimulada como método de aprendizagem. Vygotsky (1998), ainda afirma que é no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva. As brincadeiras contribuem para o desenvolvimento das habilidades motoras como equilíbrio e coordenação, estimulam a coordenação grossa e fina, noções de lateralidade, tempo e espaço, faz com que as crianças conheçam seu próprio corpo e seus limites, além de ter domínio sobre si.

     Para Freinet (1996), a criança aprende pela experimentação concreta no mundo real, na relação com o mundo, com as pessoas, enfim, com o meio social. A aprendizagem no brincar vem da experimentação. A criança se desenvolve brincando e com a brincadeira a capacidade cognitiva, a motricidade e suas relações afetivas e sociais são estimuladas. Ao brincar a criança é capaz de entender o mundo e descobrir sua própria identidade, internaliza normas sociais, ativa a memória, sua atenção e concentração, aprende também a ganhar e a perder, saber esperar por sua vez de brincar ou jogar e com isso adquirir paciência. Vygotsky (1998), ainda acrescenta:

 

[...] No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além do seu comportamento diário; no brinquedo é como se ela fosse maior do que ela é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo ele mesmo uma grande fonte de desenvolvimento. (VYGOTSKY, 2007, p. 134)

 

 

     Sendo assim, ao educador cabe a compreensão da capacidade da brincadeira como instrumento essencial de aprendizagem e de desenvolvimento da criança. A conscientização dos pais e educadores sobre a importância da brincadeira na educação infantil, é fundamental, pois somente através desta, veremos mudanças na educação e na forma como esta é repassada às nossas crianças. De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (RCNEI), educar significa:

 

“Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidado, brincadeiras e aprendizagem orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural.” (BRASIL, 1998, p. 23)

 

 

     O brincar é um método de suma importância para o desenvolvimento humano, um instrumento atrativo e encantador capaz de construir conhecimento e explorar o imaginário infantil. O professor deve ter a habilidade de planejar o brincar com qualidade, como forma de educar, fazendo parte do processo como mediador, ou seja, inserir em sua prática pedagógica o brincar, de forma organizada e consciente, tornando-se parte de seu planejamento e da educação infantil.

 

2.2. A IMPORTÂNCIA DO AMBIENTE PREPARADO NA ROTINA ESCOLAR

 

     O espaço escolar é um dos fatores mais importantes para o processo educativo, por essa razão deve ser planejado adequadamente de acordo com as necessidades do universo infantil. 

     O autor Hansen (2017), relata que na educação infantil um ambiente bem preparado deve oferecer condições de espaço e brinquedos que permitam experiências sensório-motoras e emocionais para que as crianças as vivenciem de forma autônoma. Esse espaço deve proporcionar condições para a livre exploração do ambiente e dos objetos dispostos em sala de aula, bem como a livre circulação da criança de forma segura e confortável para que as mesmas possam desenvolver-se de forma espontânea e desafiadora, estimulando assim sua independência e seus processos cognitivos. Neste sentido, Hansen (2017), afirma que:

 

 

“Caberá ao adulto oferecer tempo e espaço adequados para as crianças. E, uma vez cumprida essa tarefa, bastará ter paciência e confiança, aguardando o momento e o tempo adequados em que cada criança irá interagir com cada elemento, a seu modo, no seu ritmo.” (HANSEN, 2017, p. 125)

 

     O ambiente deve ser preparado pelo professor, este deve organizá-lo de forma em que a criança se sinta acolhida e confiante, e por esta razão deve ser planejado nos mínimos detalhes, desde a cor das paredes, até o tamanho dos móveis, materiais de fácil acesso, onde cada canto seja arrumado com uma intenção pedagógica. Para o autor Hansen (2017), a estética do ambiente confere à criança um sentido de proporção. Quando um ambiente é estético significa dizer que há relações adequadas de cores, formas e objetos que compõem os espaços. A sala deve ser dividia em vários cantos, o canto da leitura, da música, da beleza, das panelas, do aconchego, dos blocos e encaixe, dos bonecos, dos carrinhos e assim por diante, de acordo com cada faixa etária. Essa separação de cantos proporciona à criança a livre escolha, sem que dependam da interferência do professor, dando à mesma autonomia para vivenciar suas experiências no ambiente em que está inserida, potencializando assim a aprendizagem. Deste modo, Hansen (2017), faz a seguinte referência: 

 

“Uma condição importante é que o adulto responsável possa organizar o ambiente de tal forma que permita à criança explorar livremente os brinquedos sem maiores dificuldades. Quando a criança pode brincar com cada objeto por si mesma, experimenta um grande sentimento de êxito, sente-se capaz.” (HANSEN, 2017, p. 117)

 

     O ambiente preparado deve ser organizado, de forma que a criança se sinta acolhida naquele espaço que foi montado exclusivamente para ela, para seu desenvolvimento através da experimentação. Conforme Hansen (2017), ao tentar obter, possuir e reter objetos, as crianças começam a experimentar os fundamentais conceitos de “meu”, “seu”, “nosso” e aprendem os comportamentos relacionados com esses conceitos. Um ambiente atrativo possibilita à criança opções de escolha, e incentiva a interação com os demais colegas, criando assim um convívio social. A escola deve disponibilizar um espaço que seja livre para seus movimentos e que também tenha opções de brinquedos estruturados e não estruturados para que possa brincar com sua imaginação.

     Segundo Hansen (2017), a preparação do ambiente deve envolver também riscos calculados, que são os desafios que esse ambiente irá oferecer. Esses desafios, além da noção de espaço, fazem com que as crianças aprendem a ter cautela com certos movimentos e objetos, e com isso aprendem a ter limites, pois um ambiente adequado também é desafiador, fazendo com que as crianças consigam se movimentar diante de certas dificuldades estabelecidos pelo próprio meio, pois, ainda de acordo com Hansen (2017), quando um ambiente traz uma margem natural e controlada de desafios, ele confere a possibilidade de a criança aprender a ser prudente, ela aprende que viver requer limites.

     Um ambiente apropriado oferece condições para que a criança manifeste suas preferências e habilidades, estimula a concentração e a organização de si mesmo e do meio. De acordo com Kishimoto (2001), é ainda a relação espaço-objeto-usuário que estimula e orienta a criança, facilitando a exploração. Quando o espaço está organizado, limpo e os materiais sempre dispostos da mesma maneira, trazem para as crianças noções de orientação fazendo com que se sintam seguras para explorar o espaço destinado à elas. Nessa perspectiva, Hansen (2017), acrescenta o seguinte fato:

 

“Outro fato importante a ser levado em conta é que os espaços da sala da criança não devem ser mudados com tanta frequência. Encontrar a cada dia o ambiente organizado da mesma forma, com os mesmos cantinhos, com os mesmos grupos de brinquedos, com os móveis posicionados da mesma maneira, no mesmo lugar, representam um fator fundamental para a segurança e a orientação das crianças pequenas.” (HANSEN, 2017, p. 106)

      

     Ainda o autor Hansen (2017), defende a ideia de que um bom espaço para a educação de crianças pequenas deve possibilitar que se sintam atraídas, encantadas e abraçadas por ele. O ambiente escolar e a sala de aula devem ser um lugar em que as crianças gostem de estar, pois somente se sentindo acolhidas e parte do meio é que as crianças são capazes de desenvolver-se e aprender. Para as crianças, a escola é sua segunda casa, pois é o local em que muitas passam a maior parte de seu dia, e como toda casa, deve proporcionar o sentimento de acolhimento e segurança necessárias para que sua funcionalidade seja concreta.

 

 

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

     Após os estudos realizados, foi possível perceber que a infância na sociedade atual, requer atenção e mudanças por parte dos pais, educadores e instituições escolares, pois é nessa etapa da vida que se forma o ser humano, e esta etapa precisa ser vivida de forma natural e de acordo com suas necessidades, afinal, brincar é um direito da criança. Cabe aos educadores criar um olhar mais atento ás práticas pedagógicas oferecidas nos ambientes escolares, pois são eles que ensinam as crianças a criar o primeiro olhar de mundo, um mundo recriado por sua imaginação e experimentação, experimentação esta que requer movimento, liberdade para se expressar e conhecer-se, criar laços e aprender a enfrentar os desafios do convívio social, e assim desenvolver suas habilidades. Um olhar atento que seja capaz de identificar e estimular suas potencialidades de forma única e individual, onde cada um tem o seu tempo.

     A cobrança precoce de alfabetização e obrigações, fazem com que as crianças percam essa etapa da vida tão fundamental para o seu desenvolvimento, etapa onde se aprende a lidar com as emoções e sentimentos, e quando estas não são trabalhas na etapa correta do desenvolvimento do ser humano, acarretam sérios problemas psicológicos, como dificuldades de aprendizagem, concentração, não conseguem conviver em sociedade, respeitar regras sociais e nem lidar com suas frustações. Portanto, tenhamos calma com o excesso de cobranças, pois ao crescerem as crianças terão seu tempo para serem adultos, por isso a importância do respeito a cada etapa do desenvolvimento do ser humano, onde, ao ser criança, precisa-se brincar, é uma necessidade do corpo, e a mesma deve ser estimulada.  

     Já que nos deparamos com um mundo moderno onde tudo está ao nosso alcance através da internet, e por motivos de segurança acabamos nos isolando cada vez mais, e utilizando recursos tecnológicos que nos entretêm e nos envolvem em um processo de consumo cada vez maior, torna-se vital que a escola seja um ambiente, onde a criança possa desenvolver suas habilidades de forma livre e tenha contato com um ambiente que possibilite a interação com a natureza, com crianças e adultos, com implementos adequados e seja capaz de promover atividades desafiadoras proporcionando assim a aprendizagem.

     A escola deve ser um ambiente adequado para o seu desenvolvimento, disponibilizando todos os meios e materiais que sejam capazes de produzir o aprendizado na criança. Onde possam manifestar suas vontades e explorar o universo ao qual estão inseridas, um universo onde o brincar é natural e espontâneo. A intencionalidade dos projetos pedagógicos devem ser voltados para o aprendizado através da brincadeira, pois essa é a principal atividade na infância e somente através dela a criança é capaz de assimilar a sua realidade e desenvolver-se de maneira plena e saudável. Um ambiente em que a criança possa aprender brincando, porque brincar na educação infantil é fundamental.

 

 

Priscilla Arana Castro

Pedagoga

 

 

 

 

4. REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998, volume: 1 e 2.

FREINET, Cèlestin. Pedagogia do bom censo. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

HANSEN, Roger. Pedagogia Florença I: Bases para a Educação Infantil de 0 a 3 anos. Santa Catarina: Edição do autor, 2017.

KISHIMOTO, Tizuco Morchida. Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação. São Paulo: Cortez, 2002.

KISHIMOTO, Tizuco Morchida. Brinquedos e materiais pedagógicos nas escolas infantis. Educação e Pesquisa: Campinas, 2001.

LEONTIEV, A. N. Uma contribuição à teoria do desenvolvimento da psique infantil. In: VYGOTSKY, L.S; LURIA, A.R & LEONTIEV, A.N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 10ª ed. São Paulo: Ícone, 2006.

MOYLES, J.R. Só brincar? O papel do brincar na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2002. 

OLIVEIRA, Vera Barros de. O brincar e a criança do nascimento aos seis anos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

SANTOS, Santa Marli Pires dos. O lúdico na formação do educador. 5 ed. Vozes, Petrópolis, 2002.

VYGOTSKY, L.S. A Formação Social da Mente. 6ª ed. São Paulo, SP. Martins Fontes Editora LTDA, 1998.

WAJSKOP, G. Brincar na Pré-escola. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2005.

ZANLUCHI, Fernando Barroco. O brincar e o criar: as relações entre atividade lúdica, desenvolvimento da criatividade e educação. Londrina: O autor, 2005.