"NEM TUDO O QUE CAI NA REDE É PEIXE" (provérbio popular)

De uns quinze anos para cá, a internet vem se transformando numa “tribuna” maçônica de preferência, substituindo o cenário apropriado onde instruções, debates e mesmo decisões deveriam, por tradição, serem tomados: as Lojas.

Com a pandemia, essa realidade se impôs ainda mais. E não sabemos por quanto tempo, e de qual forma, sobreviveremos como fraternidade iniciática sentados numa poltrona, com celulares nas mãos, aceitando que a realidade virtual imite a vida.

A Maçonaria, assim como todas as escolas, as religiões, universidades, agremiações e clubes, carece – precisa e exige – do contato pessoal, o diálogo humano: às vezes íntimo e confidencial – para que se concretizem objetivos maiores.

Desde que as Lojas foram substituídas pelo WhatsApp, pelo FacebookYouTubeMessengerInstagramTwitterLinkedInSkypeTeamLinkZoomMeet e outras bugigangas eletrônicas, não é impossível imaginarmos que, num futuro próximo, nossas reuniões sejam protagonizadas por robôs ritualísticos paramentados e avatares digitalizados que comandaremos de casa, através de um celular chinês, no conforto de nossa poltrona favorita, de pijama listrado e tendo aos pés nosso fiel amigo, o cão, com toda a criançada correndo e festejando intermináveis férias.

Quanto ao conteúdo dessas formidáveis sessões em Bits e BytesTerabytes, sistemas operacionais, Aplicativos e “memórias RAM” (já que não temos nenhuma outra memória humana), só nos resta especular sobre CONTEÚDOS e precedência ÉTICA (leiam com calma: eu não disse PROcedência e sim PREcedência – isto é: “situação do que vem antes, que precede, condição do que deve estar em primeiro lugar”).

PRIMEIRA ESPECULATIVA: quais são os temas constituintes do verdadeiro estudo maçônico? Seria algum dos ramos da Antropologia, da Arquitetura, da Astronomia, da BiotecnologiaCiência PolíticaCiências NaturaisDireitoEconomiaFilosofiaFísicaGeografiaHistóriaLinguísticaMatemáticaMeteorologiaOceanografiaPedagogiaPsicologiaQuímicaSociologia, etc. etc.? Resposta: “NÃO, absolutamente não. Esses saberes são úteis, são quase perfumarias e adornos; mas NÃO CONSTITUEM O VERDADEIRO ESTUDO MAÇÔNICO” (desculpem-me as maiúsculas).

Saber que Frederico "Barba Ruiva" herdara o Ducado da Suábia; que Branca de Castela tornou-se regente em nome do filho Luís IX de França; saber que rei anglo-saxão Athelstan era filho de Eduardo, o Velho e sua primeira esposa Ecgvina (mulher de baixa condição social); saber que nucleotídeos são formados pela esterificação do ácido fosfórico e nucleosídeo, ou que a palavra liberdade em grego pronuncia-se "elefthería"..., nada disso fará de mim ou de você um Maçom Autêntico. Nem sequer a untuosidade de alguém ser expert em ritualística lhe garante o galardão supremo de Homem Maçom.

SEGUNDA ESPECULATIVA: qual o tema fundamental, determinante do único e verdadeiro estudo maçônico? Resposta: “A proposição e assunto fundamentais do autêntico estudo maçônico é o ser humano em sua dimensão moral, ética e social.” É disso – dimensão moral, ética e social – que não se fala nas redes sociais – nem uma string, nenhuma Url, inacessível tema para os browsers, desconhecida filosofia para os chips ou os mais velozes modens; dimensões raízes alheias às nossas placas-mães, assuntos abafados pelos Query e webmasters da vida; sobre essa moral e a desejada ética, dá-se OnDoubleClick, um inesperado reset, dá um “boot”, ... é o BUG! – e tudo pode acontecer bem debaixo dos nosso empinados narizes.

Já dizia um pensador italiano (de esquerda) chamado Antônio Gramsci: “A crise consiste no fato que o velho morre e o novo não pode nascer; neste interregno ocorrem os fenômenos mais diversos e anormais.”

* José Maurício Guimarães