O aluno brasileiro busca a excelência?

Quando escrevo aluno brasileiro, refiro-me a um conceito generalizante e não a qualquer aluno brasileiro. Por este conceito, estou tentando visualizar características pertencentes a maioria dos alunos brasileiros e, neste artigo, se a busca pela excelência seria uma dentre elas. Além disso, restrinjo o campo de observação a minha  experiência como professor do ensino fundamental, médio e superior na cidade de Campina Grande, Paraíba, há mais de quarenta anos.
 
Esta questão deve ser logo respondida como um não. Isto é, a maioria dos alunos brasileiros não vão à escola buscar a excelência no domínio de uma área do conhecimento e, nem tão pouco a excelência no domínio do conhecimento como um todo.
 
A meta do aluno brasileiro é ser aprovado em cada disciplina em que se encontra matriculado. Saber, dominar, todo o conteúdo da disciplina é secundário. Doravante, refiro-me ao aluno brasileiro apenas pela palavra aluno.
Tanto é assim que, ao ser considerado aprovado, por ter obtido média igual ou maior que sete nas avaliações parciais de uma dada disciplina, o aluno imediatamente cessa de estudá-la. Observe, ele assim o faz mesmo não tendo tirado nota dez; mesmo assim, o seu foco é concentrado nas disciplinas que ainda não obteve aprovação.
 
Quando o aluno obtém média inferior a quatro nas avaliações parciais de uma dada disciplina, ele está automaticamente reprovado. Todavia, em algumas escolas, há ainda um processo de recuperação, ensejando a oportunidade do aluno participar de uma avaliação global do seu aprendizado na disciplina. Em outras, a recuperação é oferecida para cada avaliação parcial, de modo que o aluno poderá até mesmo ser aprovado por média.
 
Se o aluno obteve nota média inferior a sete e superior ou igual a quatro nas avaliações parciais de uma dada disciplina, ele estará automaticamente habilitado a participar da avaliação global no processo de ensino aprendizagem disciplinar.
 
Uma vez aprovado, o aluno cessa de estudar a disciplina, mesmo que tenha passado com nota global mínima, no caso 5. Portanto, o foco não é a excelência no domínio do conhecimento do conteúdo de uma dada disciplina, mas na aprovação nos exames avaliadores do processo de ensino aprendizagem da mesma.
 
Ser considerado aprovado é sempre motivo de comemoração, mesmo que esta aprovação seja obtida mediante o Conselho de Classe. Neste o aluno reprovado, tem a oportunidade de ser considerado apto a continuar os seus estudos nas etapas superiores, mesmo não tendo obtido nota mínima necessária para a sua aprovação na disciplina.
 
O que legitima outorgar igual título de aprovação aos alunos, independentemente da aprovação ser com nota máxima ou mínima? O mercado de trabalho e/ou o governo federal. Ser portador de um histórico escolar brilhante não é garantia de sucesso na vida profissional, assim como não tê-lo não é passaporte para o fracasso profissional. E o governo federal está prioritariamente interessado nos números de formados; quanto maior, melhor. Aliás, igual interesse dos empregadores, maior oferta, menor salário.
 
Este mundo acima descrito é o oposto do mundo das práticas esportivas profissionais. Lá os que militam buscam a excelência. Lá não adianta em nada apenas participar, o que importa mesmo é vencer. Ao vencedor toda a glória, aos derrotados a vergonha e o choro.
 
Da escolinha de futebol à condição de jogador profissional de futebol só avança quem tem real vocação, determinação na execução dos exercícios, pontualidade, disciplina... mérito. Ser o melhor, estar em primeiro lugar, mesmo que coberto com uma postura de humildade, de respeito ao adversário, etc... é o que efetivamente importa. Afinal, o que interessa a quem paga ingresso é vê o seu time vencedor, é gritar gol, e cantar "que felicidade, o meu time é o melhor da cidade".
 
Diferentemente, para quem paga as mensalidades escolares e outros custos, em que importante é a aprovação nos exames escolares, para o torcedor o que efetivamente importa é o resultado final.
 
A consequência disso é fácil de ver mediante outros olhares. Compare, por exemplo, os  salários dos professores universitários - os que recebem maiores salários - com os dos treinadores de futebol. Estes nem precisam de sindicatos, de carreira estável e nem de greves para garantirem melhores salários do que os que são pagos aos professores universitários.
 
Além disso, as pessoas que se aventuram na profissão de treinador de futebol não precisarão ficar, a vida inteira, amarguradas por estarem condenadas a ensinar a quem não quer aprender em primeiro lugar; mas, muito mais e muitas vezes apenas, ser aprovado nos exames da disciplina.
 
 
Se, também, o treinador não tornar o time que treina campeão, logo estará desempregado. Não é o caso dos professores, estes terão para sempre os seus empregos garantidos e os seus salários melhorados, independentes do sucesso profissional, caso exista, dos seus alunos.
 
Para que não julguem, precipitadamente, que culpo o aluno por este cenário, devo lembrar que a criança não opta por entrar ou não na escola. A ela, a escola é imposta sem consulta e é para o seu "bem". Depois, sair dela não é fácil. O medo vai está presente tanto no ficar para enfrentar os exames, quanto no sair da escola sem diploma.
 
Também não culpo os professores, não me culpo. Nós nada mais somos do que alunos que receberam os diplomas, mas não soubemos viver longe da escola. Assim, somos eternos estudantes, cada vez mais envelhecidos e distantes da vida fora da sala de aula e dos laboratórios de ensino e de pesquisa.
 

* Dr. Hiran de Melo - Professor Associado da UFCG.