O compromisso

Faz tempo que este artigo me mastiga os miolos pensando em sua forma, em seu conteúdo, em sua grossura e seu ritmo. Porque as coisas belas se transmitem desde o interior, pois são belas.

Em todas as ideias tormentosas, expressões e momentos que nos incluem nesse equilíbrio cósmico que a Loja imprime em cada Irmão e vice-versa. Esses momentos são muito difíceis de reproduzir no mundo profano, cheio de raízes quadradas e imaginação.

Está escrito que hoje os transcrevo com a voz, poderia ter levado pelo título “O compromisso maçônico”, mas, a última hora decidi que se chamará assim “o compromisso”.

E assim o pensei porque uma das conclusões mais importantes que minha pouca idade maçônica me tem reportado e cujo significado se amplifica entre estas colunas é, sem dúvida, o motivo desta Peça.

O compromisso com meus Irmãos, com o “todo” desta Loja, que representa a diversidade de pensamentos que no mundo profano podemos encontrar é o motivo de minha alegria. Um “todo” diverso e heterogêneo. Uma unidade composta de distintos núcleos que fortalecem o espírito mesmo que nos reúne aqui: a fraternidade, entendida em toda sua dimensão simbólica e real.

Liberdade, Igualdade e Fraternidade é nosso lema. E quem não tenha esta máxima presidindo todos seus atos e pensamentos, viverá na escuridão, ainda pertencendo à Ordem. E debaixo desta premissa, debaixo deste guarda-chuva que nos protege da chuva ácida da barbárie, nós maçons nos amparamos, comprometidos com nossos símbolos, que não são outra coisa que representações de uma realidade que se transforma e espera ser transformada pela nobreza dos altos objetivos que nos prateamos ao redor de todo o planeta.

Não pretendo que isto seja um motivo de demonstração erudita acerca de nenhum tema em concreto, fruto de um intenso estudo dos afazeres universais, senão que pretende simplesmente, mostrar o conjunto de sensações que se manuseiam e se constituem em cada minuto de cada sessão, em cada símbolo, em cada ritual.

Tudo isto me serviu para iluminar minha interpretação da realidade, reduzindo a ideologia mesma a uma pura anedota por ser esta potenciada e se por ao serviço dos mais altos valores humanos de uma forma militantemente bela. Que militância pode ser mais sublime que aquela que te escraviza ao serviço da liberdade absoluta? Que escravidão é aquela que libera das cadeias profanas e te situa no estado intelectual e espiritual que te sincroniza com o futuro da raça humana?

Não há alternativa que a emancipação espiritual e intelectual no futuro que os homens, e o meio para chegar a ele, é a maçonaria. Uma maçonaria com uma raiz fincada nos mais profundos conhecimentos do saber humano, que deriva das mais antigas tradições de sábios que iluminaram com sua erudição o futuro humano. Que ainda sendo contraditórios em todos seus argumentos, têm desconstruído a realidade até quebrar todas as convenções próprias de suas respectivas épocas.

Sem esta emancipação, sem a liberação conceitual de nossas mentes, sem sair do mundo “profano”, que procede dos vocábulos latinos “pro” (diante) do “fanum” (templo), somente nos ficaremos aí, diante de um mundo que não alcançamos a compreender se não é através do que outros profanos nos contem interessadamente acerca dele.

Por outro lado, necessitamos uma liberação física de nossas cadeias, intimamente ligada à anterior, na que incluo a espiritual. Uma liberação que nos permita aceder a um entorno de proporções humanas que permita ao ser desenvolvida em toda sua plenitude, e em qualquer de suas fases de desenvolver, desde crianças até chegar a adultos.

Pela maçonaria deve propiciar isso, como o tem feito historicamente através de instituições tão revolucionárias ainda hoje como a Instituição de Livre Ensinamento. Poderíamos concluir, pois, que sim a maçonaria não é liberação, simplesmente não é.

Precisamente através da fraternidade se fomenta dita liberação. Fraternidade e compromisso essencial que a maçonaria devera manter com os excluídos do sistema por ele mero fato de que seu poder aquisitivo não seja o adequado para gerar mais valia.

A igualdade, entendida como o fato fundamental de uns seres humanos que se adotam de leis para conviver em redor em que ninguém seja mais que ninguém pelo fato de ter nascido a uns quantos quilômetros uns dos outros, ou em função da cor de sua pele, credo ou sexo. Definitivamente, preceitos contidos em nossa Carta magna, sem ir muito longe, e que ninguém se preocupa de cultivar mais além de algumas atuações insossas que não querem mais que contentar à galera e permanecer no estrito e politicamente correto, enquanto se envia a imigrantes e nacionais a indigência, ou à mais obscena ausência de direitos civis e sociais mínimos garantidos. Aí deve atuar a maçonaria através de seus componentes, ilhada ou conjuntamente contra a escuridão, contra a barbárie, contra o canibalismo que engole todo aquele que não reporta benefício algum pecuniário e imediato.

E a liberdade interpretada em todas suas formas como um caminho à perfeição, e em todas suas vertentes mais ou menos anárquicas. Confiar na capacidade do ser humano para se adotar dos mecanismos que lhes permitam ser livres sendo iguais em oportunidades de uma maneira fraternal e honesta.

Talvez isto nos pareça utópico, mas sem o compromisso com estas três coisas fundamentais não terão absolutamente nenhuma possibilidade de alcançar a perfeição e desfrutar enquanto esta se alcança. A maçonaria se tem construido através de radicais que não fundamentalistas nem dogmáticos que revolucionaram seus respectivos períodos históricos com teorias e práticas impossíveis. Condenados, perseguidos, exilados e fuzilados na Espanha até a poucos anos, aos maçons querem “caçar” por um só motivo, lutávamos, lutamos e lutaremos contra a escuridão, e neste país tem havido muito. Se não somos radicais, isto é, se não atuamos na base à raiz das coisas, se ficamos admirando nossas virtudes, nossas purezas e não nos virarmos no campo de batalha, seguiremos sendo um ralo que passa sem pena nem glória pela história, e gastaremos mal o legado de pessoa como Bolívar, José Marti, Garibaldi, Mozart para citar alguns dos mais conhecidos. O mesmo ritual nos dispensa o tratamento de obreiros, independentemente de nosso grau e condição: façamos, pois, honra a nosso nome.

Se nossa escravidão não reside em alcançar a liberdade plena através do conhecimento, a honestidade e o progresso, sinceramente, somos somente um clube de amigos melhor ou pior estabelecidos.

Fonte: Diário Maçônico.

Tradução livre do espanhol para o português feita por: Juarez de Oliveira Castro

O compromisso com meus Irmãos, com o “todo” desta Loja, que representa a diversidade de pensamentos que no mundo profano podemos encontrar é o motivo de minha alegria. Um “todo” diverso e heterogêneo. Uma unidade composta de distintos núcleos que fortalecem o espírito mesmo que nos reúne aqui: a fraternidade, entendida em toda sua dimensão simbólica e real.