O elevado custo da amnésia social.

O historiador britânico Eric Hobstawm (1917-2012), na obra intitulada Globalização, Democracia e Terrorismo (2007), assinala que a principal contribuição dos historiadores é “relembrar” o que outros esqueceram ou “querem” esquecer, sempre tornando a devida distância dos registros da época contemporânea, enxergando-os em um contexto mais amplo e com uma perspectiva mais extensa.

Tal alerta nos parece imperioso, tendo em vista a pouca importância dedicada à memória social pelos meios de comunicação tradicionais e também por determinados processos de escolarização, que esvaziam os conteúdos fundantes do conhecimento histórico.

Preocupa-nos, por exemplo, que a famigerada ditadura civil-militar instaurada em nosso país na década de 1960 tenha sido resgatada a partir de uma mística ilibada nas últimas manifestações Brasil afora, o que revela o pouco senso crítico e desconhecimento histórico. Além disso, um dos maiores conglomerados midiáticos da América Latina em seu telejornal noturno apresentou a sua versão histórica sobre os últimos 50 anos de vida política, econômica, social e cultural do Brasil.

Tal versão escamoteia a conivência desta empresa do ramo das comunicações com a ditadura militar, assim como a sua perspectiva de classe, acentuada pela cínica manipulação de dados, cortes de edição e até mesmo ocultamento das falas discordantes. O consenso social por intermédio das classes dominantes tenta se sustentar pela grosseira forma como os fenômenos sociais são tratados em termos documentais ou jornalísticos, quase sempre de maneira aligeirada e desistoricizada.

O economista britânico Guy Standing, por seu turno,  problematiza o uso exacerbado das novas tecnologias de informação e comunicação nos hábitos de determinada fração de classe da sociedade, entendendo-as como novas formas de reprogramação do cérebro.

A vida digital e as redes sociais virtuais estariam destruindo o processo de consolidação da memória de longo prazo, que é a referência central do que gerações de seres humanos vieram a considerar como inteligência, a capacidade de raciocinar mediante processos complexos e de criar novas ideias e modos de imaginação. Em outras palavras, as redes sociais acabam refreadas – ainda que não de maneira deliberada – num presentismo interminável e sem conexões históricas consistentes.

Logo, o custo da amnésia social é justamente, como bem afirmou Hosbawm, aceitarmos sem nenhum questionamento ideias, valores e perspectivas que são criadas da noite para o dia, como se fossem a última maravilha do mundo!

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Autor

Jéferson Dantas

Professor.

Fonte: Jornal "Notícias do Dia".