O Galo e o Amanhecer

Um dos símbolos que enfrentamos em nossa iniciação na Maçonaria é uma figura que para muitos passa desapercebida depois da cerimônia e é a de um “Galo” na câmara de Reflexão.

Nos textos da Maçonaria não encontramos muita referência a esta figura, que sem dúvida no esoterismo tem um significado muito grande, se nos diz que o Galo nos indica “O despertar interior do homem, o triunfo da Luz sobre as trevas, assinalando ainda a necessidade da vigilância que temos de ter sobre nossos atos, não permitindo que nada nos afaste do caminho da Verdade, da Justiça e da Honra”.

Os animais na antiguidade e mesmo no universo sempre foram matéria de estudo para o ser humano, muitos deles por suas características peculiares foram associadas também a épocas do ano; às mudanças climáticas e inclusive associados à divindades para aquelas que serviam de ajudantes, guardiões ou de elementos de conexão com o ser Superior. Essa conexão era que nos fazia precisamente tão peculiares.

Essa mesma conexão era o que os tornava tão peculiares de acordo com suas habilidades como o movimento, sua ferocidade, a maneira de procurar comida ou seu estilo de vida. Em algumas religiões, eles até alcançaram o sítio da Divindade.

No entanto, ao longo da história antiga, há um animal que sempre esteve presente, durante todo o ano e em todas as estações, sua importância estava associada ao dia e à noite, este animal é o Galo; é visto desde a antiguidade no Egito e tem sido usado em muitas religiões para sempre se referir ao Sol e sua aparição no dia. Dado que a maioria das religiões está associada ao Deus Sol em relação ao dia e à noite, este animal está presente em quase todas; da mesma forma, um detalhe muito importante e peculiar se soma a isso e é a cor de sua plumagem como o vermelho intenso de sua crista.

Na África o galo está associado a ritos de Iniciação de vodu; a passagem de uma vida para outra ao nascer ou ao morrer para uma nova vida é representada por este animal, a cor preta lhe dá a característica de ritos de morte e a cor vermelha aos de iniciações.

Os sírios, egípcios e gregos, devido à sua plumagem avermelhada e terminando na crista em um vermelho intenso, o associam ao simbolismo do sol e do fogo. Eles também o chamavam de Arauto da manhã do Sol. Vou apenas mencionar alguns aspectos e não vou me aprofundar em como o Galo esteve presente nessas culturas porque seria muito extenso.

O Canto do Galo em muitas crenças populares está associado a espantar os demônios e espíritos malignos que rondam à noite. Na Idade Média, a figura do Galo era colocada nas igrejas como símbolo de vigilância.

A imagem do Galo tem sido usada desde então nas cataventos para simbolizar a luz solar ou crística que é capaz de dissipar e vencer as trevas do mal com o vento a favor ou com o vento contra.

Para os primeiros cristãos representava o amanhecer de uma nova era e a ressurreição de Cristo no dia do Juízo Final; já em passagens bíblicas do Novo Testamento é mencionado em algumas ocasiões, mas assume um significado quando é mencionado no evangelho em que Pedro Simão terá três negações antes que o Galo cante.

Os antigos cristãos usaram essa metáfora de uma maneira diferente do que o Conselho de Nicea estabeleceu mais tarde. O verdadeiro significado era muito semelhante à Lenda de Hiram, que se recusou três vezes a dar a palavra sagrada. Pedro Simão deveria guardar o segredo daquela sociedade e seus conhecimentos dados pelo Cristo antes de sua morte.

O cristianismo moderno alude a que Pedro negaria o Cristo três vezes antes que o Galo cantasse pela segunda vez; no entanto, em alguns textos antigos, alude-se que Pedro se recusaria a revelar os segredos de sua Ordem Iniciática e apenas os revelaria à nova luz; aqui o galo representa precisamente essa nova luz, o novo amanhecer ou o verdadeiro despertar. O canto do galo era justamente isso, acordar daquela noite escura e da ignorância para abrir os olhos à luz da sabedoria. 

Da mesma forma, o galo nos lembra que mesmo dormindo devemos estar vigilantes e alertas, mesmo em sonhos não podemos nos desconectar da realidade, devemos buscar o equilíbrio perfeito entre o consciente e o inconsciente, entre o real e o fictício; mas acima de tudo estar alertas a esse canto do galo já que se não o ouvisse, continuaríamos no sono profundo e eterno da ignorância. É por isso que aqueles primeiros cristãos tinham exercícios de escuridão entrando nas catacumbas para se conectar internamente e no escuro com seu ser mais interno; eles relatam alguns textos que podiam ver luz mesmo na escuridão e apenas o canto do galo poderia tirá-los daquele transe e fazê-los voltar à luz do dia no exterior.

Esses primeiros cristãos, portanto, o usavam iconograficamente em seus rituais e o chamavam de "a hora do galego" ao amanhecer, onde se devia agradecer a Deus pela Luz divina e na hora do Lucerna ao pôr do sol representado por uma lâmpada onde se realizavam rituais orientados para o descanso, mas não para o sono que os mergulharia novamente na ignorância.

Sempre ligada às Religiões e a figuras como Apolo, o Deus IAO, etc; o Galo teve muitas variações quanto ao seu significado e quanto à sua associação com a Vigilância e a Atenção. 

No renascimento, dava vida aos cataventos nas igrejas e em algumas pinturas; no entanto, ainda era usado como símbolo esotérico graças à herança dos rituais templários, os quais faziam alusão à Negação de Cristo em três ocasiões por parte de Pedro como os primeiros cristãos. Representava as três purificações que o homem deve enfrentar antes de alcançar a sabedoria ou a ressurreição de seu Cristo interior. Essa passagem do Enxofre ao Mercúrio mediado pelo fogo, fez com que o Galo representasse o Mercúrio da filosofia secreta, em poucas palavras o galo é o sucesso do Mercúrio.

O nome I.A.O. era representativo de Ignis (fogo); Aqua (líquido ou mercúrio) e Origo (a verdadeira origem); este último era o mediador da filosofia secreta entre enxofre e mercúrio; no entanto, e com o desaparecimento de muitos escritos templários, o Galo passou simplesmente a fazer parte da nova corrente cristã como um símbolo a mais e com pouca relevância; só permaneceu em vigor em algumas sociedades secretas herdeiras de ritos judaico-cristãos e com tradição dos antigos egípcios.

O galo ganha novamente relevância na França convulsionada em 1879; graças à Revolução Francesa e às Logias da época foi que este animal foi adotado como símbolo e emblema nacional na França, berço da Maçonaria moderna, mas também a algumas características que deveriam lembrar a partir de agora aos franceses o porquê da verdadeira Revolução; o galo deveria lembrá-los que:
1. Está sempre de pé e ereto, símbolo do Orgulho
2. Está sempre atento, símbolo de Vigilância.
3. Lute até morrer; símbolo de Nunca se deixe vencer.

O Galo na Maçonaria é, portanto, uma mistura de muitas tradições, mas acima de tudo de muito significado interno e pessoal; nos representa a verdadeira busca do trabalho interno, a luta constante da parte escura do nosso ser, a busca em nosso interior e entre as trevas alguma clareza, estar alerta e vigilante para uma vez descobertas as trevas poder dissipá-las com a centelha do trabalho dado pela luz externa; mas ao mesmo tempo é o despertar todos os dias daquela ignorância em que poderíamos cair se nos deixarmos cercar pelo profano do mundo que poderia nos fechar os olhos ou deslumbrar com uma luz falsa. O galo não deve apenas estar presente em nossa iniciação, mas deve estar sempre presente ao longo de nosso despertar diário, tanto físico quanto espiritual.

Gerardo Bouroncle Mc Envoy
R:.L:.S:. Progreso Universal N° 16
Vall:. Del Callao, Or:. Del Perú.

Fonte: Diario del Masón

Tradução livre: Juarez de Oliveira Castro