O Jornalista e o Aprendiz

 

O experiente jornalista estava em sua máquina de escrever conversando com um jovem aprendiz que iria trabalhar como seu ajudante e repórter de rua e no envio de notícias para a redação:

- Pois é meu chapa. Escrever é coisa de gênio. Você um dia vai chegar até onde eu estou. Mas leva bastante tempo e perseverança.

O jovem aprendiz interessado na conversa, perguntou-lhe:

- Sim. Espero que possa aprender bastante com você. Terminei a faculdade, mas preciso de muita pratica. Mas como se escreve uma notícia? .

- É só ficar observando o que eu faço e como faço então você chega lá. Mas faça sempre do seu jeito. Asseverou o jornalista.

- Quer um exemplo? Vá lá fora e veja aquele florido ipê no meio de praça e volte aqui e conte-me como ele é que eu descreverei para você em minha máquina de escrever. Solicitou ao aprendiz.

O aprendiz aceitou o desafio e foi até à praça e ficou admirando o belo ipê florido. Voltando à redação depois de uns vinte minutos, sentou-se ao lado do jornalista e começou a descrever como era o ipê. O jornalista ajeitou o papel na máquina e começou a escrever. Depois que acabou a breve narrativa do aprendiz, o jornalista deu mais umas tecladas na maquia, parou e retirou o papel e o entregou ao aprendiz:

- Ué. Não tem nada escrito aqui. Perguntou o aprendiz meio intrigado com a folha em branco nas mãos.

O velho jornalista deu um leve sorriso e pegando a folha de papel das mãos do aprendiz solenemente explicou a sua metáfora:

- Se tiver que aprender alguma coisa na vida aprenda por si mesmo. Mesmo que eu fizesse um belo relato de suas palavras nesta folha de papel seria algo somente meu e eu estaria meramente copiando o que você viu como um plágio de sua admiração pelo ipê. Eu teria que ir lá fora, observar o ipê e através de minha visão descrever da minha maneira este espetáculo da natureza. Portanto comece a descrever o que viu por si mesmo e assim não dependerás de ninguém para forjar dissimulações por você, de ser a sombra de suas reportagens que apenas te tornarão um mero falsificador de seus méritos. Mesmo que isto perdure um dia alguém saberá que você era apenas um pseudojornalista. Venha. Sente-se em meu lugar. Pegue a máquina e descreva o ipê.

O aprendiz meio atônito sentou no bureau e começou a datilografar enquanto o jornalista sai para tomar um café. Ao voltar viu o aprendiz com a folha de papel na mão e a pegou para ler. Nada estava escrito.

- Bom. Pelo menos você tentou. Exclamou o jornalista.

- Do jeito que eu vi o ipê e pela beleza indescritível que ele representou para mim eu acho que só Deus poderia descrevê-lo com tanta fidelidade, pois é a sua criação que o tornou tão belo. Eu não me atrevo a fazer isto. Respondeu o aprendiz.

- Vejo que você aprende rápido as lições da vida. Como eu te disse não podemos plagiar nada pelos olhos ou obra de outrem e neste caso Deus é inimitável. Mas você terá a oportunidade de descrever as notícias e os acontecimentos da vida pela sua própria ótica. E nisto eu posso te ajudar ensinando a pratica de como descrever uma notícia. Tome um café.

Estendendo uma xícara de café, o jornalista sentiu simpatia pelo jovem aprendiz que demonstrara humildade e filosofia e com o tempo o ensinaria muito do que aprendera nos longos anos de jornalismo.

* Ir... William Spangler - M...M...

ARLS..Diamantinense, 205

Diamantina MG

Publicado originalmente no JB News Nº 1497