O Karma

“Toda causa tem seu efeito; todo efeito tem sua causa;

Tudo sucede de acordo com a lei;

Casualidade não é se não um nome para a lei não reconhecida;

Há muitos planos de causa; mas nada se escapa a esta lei”.

(O Cabalion [1])

O texto acima pertence a um dos principais livros de Ciência Hermética jamais escrito e atribuído ao célebre Trimegistro; o qual, se fazemos caso às lendas, viveu no Egito, sendo a figura principal do Hermetismo, não em vão o termo hermetismo deriva de seu nome: Hermes.

A lei da física que nos diz que toda ação tem uma reação parece haver demonstrado cientificamente esta lei hermética faz tempo mediante esta simples equivalência:

· Causa = ação

· Efeito = reação

No entanto, a física como ciência dedicada ao estudo do material não tem se preocupado, nem o fará nunca, por verificar se esta lei se cumpre também no plano não material; isto é, se realmente é uma Lei Universal. Devemos ter claro que a Ciência Sagrada ensina desde sempre que todas as leis criadas pelo UM [2] são sempre Universais e Perfeitas; não há exceções a estas regras. JAMAIS!

A lei de causa-efeito é conhecida no ambiente esotérico como karma: palavra de origem sânscrito que podemos traduzir por “ação”. O Karma é a Lei fundamental que governa todas as ações; mantém o equilíbrio e o restaura quando se perde. O karma é eterno e imutável, é a Harmonia absoluta tanto no mundo material como o espiritual. Sem crer em uma vida eterna da alma e na reencarnação o karma não pode ser compreendido em sua plenitude.

Para os ocidentais, isto, para nós, o karma pode ser bom ou mau e se encarrega de premiar ou castigar, este conceito está coxo de uma perna para não dizer das duas.

O hindu ensina que o efeito é intrínseco à causa. A ação, a causa, é a metade de uma operação que se completará somente quando ocorra o efeito, a reação. É dizer, o karma inclui causa e efeito e não somente o efeito como se crê. Se rompemos a Lei da Harmonia devemos estar preparados para aceitar os efeitos. Ao se produzir uma ruptura na Harmonia o karma “trabalha” para restaurá-la; portanto, o karma nem castiga nem recompensa. Outra crença equivocada! O karma só ajusta e como ajusta por meio de Leis Universais não o faz para premiar ou castigar se não para cumprir a Lei, a única Lei, porque isso é o correto, dá igual se nos parece bom ou ruim.

Vivemos em um maravilhoso planeta azul ao que chamamos Terra, apesar de que a maior parte de sua superfície é água. Todas as leis da natureza que o governam são Universais e, portanto, sujeitas à Harmonia Universal e a Lei do karma. O Karma, portanto, nos afeta mas “não é nosso” assim que não podemos dizer que “tenho um karma mal”; o correto, como muito, seria dizer que “o efeito do karma não é bom para mim” e, ainda assim, seria uma apreciação falsa. O efeito do karma sempre é justo, sempre restaura o equilíbrio seguinte às Leis Universais ditadas pelo UNO. Podemos crer que o efeito é mal, mas o equilíbrio, a Harmonia Universal e as Leis Universais criadas pelo UNO jamais podem ser más.

Karma e Reencarnação

Dizemos que sem a reencarnação não se pode compreender plenamente o karma. Muitas vezes não somos capazes de ver o efeito do karma. Não vê-lo não implica que não exista; mas outras vezes não o vemos simplesmente porque ainda não tido lugar o efeito. O conceito de tempo, como o entendemos em nosso plano de existência, não afeta para nada o karma. O karma atua no eterno e no limitado tempo da vida humana. O efeito pode ser imediato ou precisar de várias vidas humanas para ter lugar... mas que são uma centena de vidas humanas no espaço temporal da eternidade?

Não existe melhor maneira de explicar algo que usar um sinal simples de entender. Suponhamos que você lança uma pedra ao ar. Esta pode cair no solo ou pode cair sobre um telhado e ficar ali dias, meses ou anos. Tanto tempo pode ficar ali que você se esquece dela. Mas um dia o dono da casa decide limpar o telhado, sobe ao mesmo e lança a pedra ao solo. Seguindo as leis da física, a energia acumulada pela altura se descarrega sobre a terra quando esta a golpeia... E o tempo em nada influi na dita energia liberada! Essa energia é a mesma que se a pedra tivesse caído no solo no dia que você a lançou. Basicamente podemos afirmar que o karma atua em três fases claramente diferenciadas.

1.       Lançamento da pedra – Ação geradora – karma em formação.

2.       Pedra no telhado – Tempo ou espera – karma “em potência”.

3.       Caída da pedra – Efeito produzido – karma equilibrado.

Tudo o que fazemos, agora ou mais tarde, tem seu efeito. Estas linhas que estão lendo não sabes quando foram escritas e não sei (nem saberá) quando as estais lendo; não conheço, aparentemente, o efeito produzido pelo meu trabalho. Mas é um engano. Faz tempo escrevi outros trabalhos que alguém leu e gostaram, me propus criar este blog e escrever nele, o tempo tem passado e alguns me têm animado a seguir... tenho escrito isto, agora mesmo tu o estais lendo, pensarás sobre o karma, igual me escreves um e-mail e me dizes que tem gostado (ou que é uma porcaria de trabalho. Quem sabe?); mas esse e-mail, esse contato será o efeito que “premia” meu trabalho.

Vemos que toda uma série de causas têm ido provocando seus efeitos ao largo do tempo e que há afetado a muita gente (meus leitores, meu pondo de vista dos temas, minha investigação para escrever sobre eles, o fazer pensar a alguns de meus leitores...). O qual nos devolve ao que já comentei: o karma não é pessoal, seus efeitos são Universais.

“Cada vez que o homem pensa, sente ou atua, uma mudança se origina na parte invisível de sua natureza; uma força... é gerada; que no sucesso, irresistivelmente encontrará ao homem... donde o equilíbrio da ação pode ocorrer ou, sem lugar a dúvidas, ocorrerá”. (“O Enigma da Vida” – Nils Anmeus).

Cada vez que atuamos estamos modificando o mundo no qual residimos e o karma se ativa. O karma trabalha permanentemente, toda a eternidade, cada segundo (se isso tem sentido no “Tempo Eterno”), equilibrando-o todo. Daqui vem o problema de não darmos conta de seus efeitos e causas; mas a reencarnação, como já disse, nos dá a resposta ao problema. O efeito que o karma carrega sobre meus ombros pode ser devido a uma causa criada por mim em uma vida anterior. Nos resta explicar como atua o karma para intentar ver isto com maior claridade. Não é fácil fazê-lo, o karma usa infinitas formas para conseguir seu equilíbrio pois infinita é a criação, infinito o tempo e no infinito trabalha, mas podemos por alguns exemplos.

Família – Ao reencarnar o fazemos na família que nos possa proporcionar o melhor lugar para evoluir. Os atos realizados em encarnações passadas têm marcado nossa evolução espiritual e o que ainda devemos de aprender. O karma nos situa em um ou outro lugar. Quantos irmãos são tão diferentes entre si que não o parecem? Se somente aplicássemos a herança genética seria muito complicado explica-lo; mas se pensamos em karma e reencarnação tudo se volta claro e cristalino. Por exemplo, podemos encontrar dois irmãos, uma amável e outro tirano; o amável terá que sê-lo apesar dos impedimentos de seu irmão tirano; o tirano terá um modelo que o mostre o caminho correto e pode modificar. O karma atua para dar a ambos o lugar do ensinamento necessário:

· Nem sempre é simples fazer o correto, e fazê-lo sem impedimentos tem menos valor (ao amável).

· Sempre se pode ser amável e se pode modificar quando um quer (ao tirano).

Azar – Uso esta palavra por claridade, mas a estas alturas já sabemos que nada sucede por azar, o karma atua seguindo Leis Imutáveis pelo que o azar não existe. Todo sucesso na vida humana, desde o mais frequente até o mais em desuso, está governado pela Lei do karma.

O tempo entre causa e efeito, que vimos que não se ajusta ao conceito de tempo humano, faz que no momento do efeito nem sempre sejamos capazes de recordar ou identificar a causa e o chamamos azar. Entretanto, que não saibamos a causa não implica que não exista do mesmo modo que não poder ver um objeto na escuridão não implica que esse objeto não exista.

“A Sabedoria Antiga nos diz que todos esses sucessos são os efeitos retardados de causas plantadas mais cedo nesta vida, ou talvez, em uma encarnação prévia, e desde então esquecidas.

Quando o tempo é devido para o equilíbrio dessas causas, “O entalhe no tipo [3]” da própria natureza interna do indivíduo o guia até um problema ou o salva dele... são os meios que o karma utiliza para executar seus fins”. (“O enigma da vida” – Nils Anmeus).

Exemplo de ação do karma

Vamos a relatar agora uma série de atos reais que sem a presença do karma não seriam muito simples de explicar, ao menos que você acredite de pés juntos no azar. Dado que não quero agoniá-lo com desgraças, a maioria dos exemplos são “bons” para quem sofre o karma, ainda que não o foi para quem o rodeavam em algum caso.

·         Em um colégio do Texas morreram 413 meninos em uma explosão, somente um se salvou ao recolher um papel debaixo de sua cadeira justo nesse momento. A cadeira atuou como escudo diante dos escombros.

·         Um mecânico perdeu o sentido por uma fuga de CO2 no interior de um veículo, ao perder o sentido sua cabeça caiu para frente, sobre o volante, e a buzina tocou sem parar até que seus companheiros acudiram a ver o que sucedia e o resgataram a tempo.

·         Um homem amaldiçoou o ataque que o fez perder seu avião; o avião se estatelou e ninguém sobreviveu.

·          O 8 de maio de 1902, a cidade de São Pierre foi destruída pela erupção do Monte Pelé (na realidade um vulcão). O único sobrevivente foi encontrado no interior da prisão da cidade que estava intacta.

·         Durante um terremoto, uma trabalhadora do escritório saiu à rua e morreu por uma quebra de parede. Seu escritório não sofreu nenhum dano, se não tivesse saído não lhe havia acontecido nada.  

Estes exemplos bem poderiam ser catalogados como azar mas são produzidos pelo karma, se tudo fosse fruto do azar o mundo estaria imerso no caos e não é assim, o Universo é perfeição criada pelo UNO. Outros exemplos mostram o poder do karma; eventos que parecem ilógicos, impossíveis... só podem ser explicados se aceitamos que o karma atua para alcançar o efeito e restaurar a Harmonia.

Um homem cai do quinto andar e só torce o tornozelo; outro escorrega na calçada, bate com a testa no solo e morre. Não nos diz a razão e a lógica que deveria ser ao contrário? Que um escorregão não deveria ir mais longe do que uns simples arranhões e uma caída de um quinto andar deixaria feito papa sobre o asfalto?

Aprendamos já! O karma não entende de razões humanas. O karma atua só para conseguir o fim necessário; não pensemos mais em outros detalhes que escapam ao limitado intelecto humano.

O karma atua a seu devido tempo, nem antes nem depois e quando o faz não existe lugar seguro que nos possa proteger nem lugar perigoso do qual não possamos escapar. Nada nos protegerá se não merecemos sê-lo e nenhum perigo nos prejudicará se não merecemos sê-lo. O que nos espera virá que seja bom ou mau. O outro passará longe.

História do servente do mercador

Ocorreu uma vez, faz muito muitíssimos anos, que um rico mercador de Bagdá enviou a seu servente al mercado a comprar provisões.

De imediato o servente regressou com a face pálida e tremendo disse a seu amo: Quando estava comprando no mercado fui empurrado por uma mulher e voltei a vê-la. Então vi que era a morte a que me havia empurrado. Ela me olhou e me fez um gesto ameaçador. Oh! Meu bom amo te suplico! Empresta-me um cavalo para poder sair da cidade e escapar a meu destino. Cavalgarei até Samara e a morte não me encontrará ali. Assim que o mercador o prestou um cavalo, o servente montou nele e cravando as esporas em suas ancas o cavalo partiu a todo galope, caminhando-se até Samara. Depois o rico comerciante foi ao mercado e viu a morte entre aquela multidão.

“Escuta” – Disse. “Por que o fizeste um gesto ameaçador a meu servente quando o viste aqui esta manhã?”

E a morte disse: “Eu não o fiz nenhum gesto ameaçador, foi só um gesto de surpresa. Estava atônita de vê-lo no mercado de Bagdá, porque eu tinha uma reunião com ele esta noite em Samara”.

O ser humano crê em seu destino, o livre arbítrio, nos permite decidir que atos realizar e isso põe em funcionamento o karma. Alguns creem que, por ele, que o destino está escrito já que nada escapa ao karma, mas esquecem que o karma só ajusta, só equilibra, as ações as temos antes realizado em nós.

Como o homem atua constantemente o karma pode mudar. Recentemente, em Espanha, um ladrão, alguém mau, entrou a roubar em uma casa e, entre outras coisas, roubou uma série de fitas de vídeo donde, diante seu assombro, apareciam delitos de pederasta. O ladrão entregou as fitas à polícia, que assim pode desarticular uma rede de abuso de menores, mas para ele não teve mais remédio que confessar-se ladrão. Sua boa ação compensava com a confissão do roubo, que bem poderia ter ficado calado, duvidando muito que o dono da casa denunciasse o roubo sabendo que ditas fitas comprometedoras estavam entre o despojo; mas o fez, se confessou culpado para denunciar depois. O ladrão não foi preso nem acusado. O karma atua mas tu fazes as eleições!

Recordem que não existem as causalidades se não as causalidades: tudo tem um porquê, um motivo, uma razão de ser.

Tudo segue a Lei imutável do karma.

Notas

[1] O Cabalion é um documento do século XIX que resume os ensinamentos da filosofia hermética, também conhecidos como os sete princípios do hermetismo. Sua autoria se atribui a um grupo anônimo de pessoas autodenominadas Os Três Iniciados, ainda que as bases do hermetismo se atribuem a um alquimista místico e deidade de algumas lojas ocultistas chamado Hermes Trimegistro, cuja existência se estima no Egito antes da época dos faraós, e segundo a lenda foi guia de Abraão.

[2] Nos textos herméticos costuma-se usar o termo UNO para indicar a Deus, o Criador, o Ser Supremo ou qualquer equivalente que qualquer religião ou crença empregada para definir.

[3] Em sua obra, Nils Anmeus, compara os atos com formas definidas como os tipos de controle de uma máquina. A máquina do karma deve ler os tipos e em virtude dessas formas (que são únicos) os identifica e os vai ordenando procedendo a seu tempo, a realizar a ação que corresponde.

E como sempre vos digo: Investiguem e aprendam, não deem nada por definitivo, é a única maneira de alcançar a Luz.

* Mario Lopez

Nascimento: 9 de outubro de 1968.
Estado civil: Casado
Domicilio: Galicia - Espanha

Rosacrucismo
Membro da sociedade Rosacruz AMORC - Espanha.

Maçonaria
Mestre maçom sob Obediência da Grande Loja de Espanha.
Loja capitular sob obediência do Supremo Conselho para o Grau 33 de Espanha.
Mestre maçom da Marca (Distrito de Espanha).
Nauta do Arca Real
Companheiro do Arco Real de Jerusalém.
Graus Crípticos (Super excellent master).