O Mestre e a Discrição

A capacidade de ser discreto pode ser exemplificada de várias maneira, uma vez que, a depender da ocasião, esta relação contida se fez desde a supressão de informação, até a distorção de assuntos. É de certo que a curiosidade é inerente ao ser humano, e são inúmeros os métodos para se conseguir informações, “perguntas erradas não se respondem certo” escutei certa vez do Ir∴ Marcelo Bezerra, MM adormecido que reside na Ilha de Palma de Mallorca/ESP.

Assim como o Mestre Hiram Abiff, o Mestre Maçom deve fortalecer em si o compromisso de Videre, Audire e Tacere. (Ver-Ouvir-Calar)

Discrição é uma característica que qualifica a pessoa que é discreta, que não chama atenção, ou seja, que é recatada, modesta, humilde e delicada em suas ações. Do latim, discretione; do grego, diakritikótita.

Temos ainda como característica, a reserva, autocontrole, compostura, decoro, prudência, resguardo, sensatez, tato, tino, jeito, privacidade…

Normalmente a discrição em nossas atitudes, é utilizada para guardar uma informação, manter segredo sobre algo. Esse tipo de postura ajuda a proteger detalhes que podem ser grandes valia para outras pessoas, mesmo que esta seja apenas motivo de curiosidade, sendo assim, devemos ter sempre prudência no que abrimos de informação, seja em nossa vida particular ou profissional, e não seria diferente na vida maçônica.

O conhecimento que se trata sobre determinado assunto, pode ser transmitido por palavras, gestos, manuscritos fáceis ou difíceis de entender, vai depender do tipo de informação a que se deseja e o critério para a transmissão.

Podemos identificar na passagem bíblica abaixo, que uma informação foi emitida por carta entre dois Reis, logo, esta correspondência estaria repleta de formalidades da época e outras linguagens próprias da realeza. Podemos vislumbrar como parâmetro, que não era algo a ser transmitido por comunicação oral. Segue abaixo:

    Em, 2 CRÔNICAS 2: 11-13 - “11. Hirão, rei de Tiro, respondeu numa CARTA que enviou a Salomão: É porque o Senhor ama seu povo, que te constituiu rei sobre ele. Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que fez os céus e a terra, que deu ao rei Davi um filho sábio, inteligente e prudente, que vai construir um templo ao Senhor, assim como um palácio real. 12. Envio-te, portanto, um homem hábil e entendido, Hirão-Abiff, 13. filho de uma mulher da tribo de Dã, e de um pai tírio. Ele sabe trabalhar em ouro, em prata, em bronze, em ferro, em madeira, em púrpura azul e violeta, em linho fino e em carmezim; ele sabe fazer todas as espécies de esculturas e elaborar todo plano que se lhe confie. Trabalhará ele com teus artífices e com os de meu senhor Davi, teu pai”.

No detalhe da passagem acima, podemos obter a seguinte informação importante, de que o Rei Hirão estava enviando “um homem hábil (capaz, competente, engenhoso, habilidoso, jeitoso e talentoso) e entendido (conceituado, erudito, sabedor e conhecedor), por tanto, a informação na carta, trata de detalhes específicos de alguém especial. Comparo o detalhe do envio desse “presente uma joia que não deveria ser exposta aos olhos de todos, sendo DISCRETO na transmissão da informação.
Sabemos, é claro, que para uma carta ser violada e divulgada, seria necessário o conhecimento da existência da carta, a necessidade sobre as informações, o “modus operandi” para obtê-la, e por fim como absorver o conteúdo, visto que seria necessário a interlocução de alguém letrado à época.

A discrição pode ser revelada por nós através da nossa necessidade de dar conhecimento aos outros, pelo uso da força ou como veremos abaixo, com o uso da persuasão.

Em, JUÍZES 16: 15-19 - “15. Dalila disse-lhe: Como podes dizer que me amas, se o teu coração não está comigo? Eis já três vezes que me enganas, e não me queres dizer onde reside a tua força. 16. Ela o importunava cada dia com suas perguntas, instando com ele e molestando-o de tal sorte, que ele sentiu com isso uma impaciência mortal. 17. E Sansão acabou por confiar-lhe o seu segredo: Sobre minha cabeça, disse ele, nunca passou a navalha, porque sou nazareno de Deus desde o seio de minha mãe. Se me for rapada a cabeça, a minha força me abandonará e serei então fraco como qualquer homem. 18. Dalila sentiu que ele lhe tinha aberto todo o seu coração; e mandou dizer aos príncipes dos filisteus: Subi agora; porque ele me abriu todo o seu coração. E os príncipes dos filisteus foram ter com ela, levando o dinheiro em suas mãos. 19. Dalila fez que seu marido adormecesse nos seus joelhos, e chamando um homem, mandou-lhe que rapasse as sete tranças de sua cabeça. Ela começou a dominá-lo, pois sua força o deixou”.

Nas duas passagens acima, conseguimos vislumbrar diferentes formas de transmitir informações, onde uma segue de forma reservada e outra, não. O assédio de Dalila, nada mais representa a possibilidade de se conseguir que o segredo seja quebrado, simplesmente por insistência.

O Mestre Secreto é o guardador do templo, responsável pela entrada e saída de todos, sendo o portador de sua chave. A seguir veremos a referência feita por Salomão ao destino da Arca da Aliança:

Em, 1 REIS 8:1-8 - “1. Então convocou Salomão junto de si em Jerusalém os anciãos de Israel e todos os chefes das tribos e os chefes das famílias israelitas, para irem buscar na cidade de Davi, em Sião, a arca da aliança do Senhor. 2. Todos os israelitas se reuniram junto do rei Salomão no mês de Etanim, que é o sétimo, durante a festa. 3. Vieram todos os anciãos de Israel e os sacerdotes tomaram a arca do Senhor. 4. Levaram- na, assim como a Tenda de Reunião e todos os utensílios sagrados que havia no tabernáculo: foram os sacerdotes e os levitas que os levaram. 5. O rei Salomão e toda a assembleia de Israel reunida junto dele conservavam-se diante da arca. Sacrificaram tão grande quantidade de ovelhas e bois que não se podia contar. 6. Os sacerdotes levaram a arca da aliança do Senhor para seu lugar, no santuário do templo, no SANTO DOS SANTOS, debaixo das asas dos querubins. 7. Pois os querubins estendiam as suas asas sobre o lugar da arca, e cobriam por cima a arca e os seus varais. 8. Estes varais eram de tal forma compridos, que se podiam ver as suas extremidades do lugar santo, diante do santuário, mas não de fora, e ali ficaram até o dia de hoje”.

Esse detalhe marca a presença e posição do Mestre Secreto no templo e, neste desfecho, marcamos a importância na retidão deste Mestre, fazendo reflexão na guarda de segredo e retidão da palavra, para VER e ser prudente ao observar, absorvendo e distinguindo detalhes, saber ouvir como forma de entender antes o que alguém pretende ou necessita, e calar, de forma a manter os segredos intactos. 

A história nos ensina o quão grave pode ser a revelação de segredos e o cuidado na revelação de assuntos sigilosos.

Luiz Agberto Fragoso de Oliveira
ARLS∴ “Fraternidade Primeira” Nº 1
Grande Oriente de Alagoas - GOAL

Fonte: Revista Cultural Virtual - “Cavaleiros da Virtude” - Ano XI - Nº 060 - Fev/2024

REFERÊNCIAS
- BÍBLIA SAGRADA. Livro de 2 Crônicas. Capítulo 2, versículos 11-13
.
- BÍBLIA SAGRADA. Livro de Juízes. Capítulo 16, versículos 15-19.

- BÍBLIA SAGRADA. Livro de 1 Reis. Capítulo 8, versículos 1-8
.
- SUPR. CONCL. DO RITO BRASILEIRO. Documento do Rito Brasileiro no48, Simbolismo da Discrição.

- SUPR. CONCL. DO RITO BRASILEIRO. Manual do 4º grau do Rito Brasileiro. Loja Complementar. Ed. 2017.