O Mestre e o Aprendiz

Ele nos contou que conheceu um mestre instalado de uma Venerável Ordem – mesmo já em idade bastante avançada – que tinha o hábito de acompanhar em caminhada o mestre recém instalado da Venerável Ordem. Iam caminhando na direção do cume de um monte bastante alto existente na região. E lá chegando costumava ficar um longo tempo em silêncio contemplando o horizonte sem fim.

De lá não saia e em silêncio ficava até que a inevitável pergunta do mestre mais novo se fizesse presente.

– Como poderei ser um venerável mestre?

Meu amado irmão continue a olhar o horizonte e abra a sua compreensão na escuta das palavras dos irmãos que nos antecederam.

Dizem os antigos que um mestre caminha na direção do justo e perfeito quando diante de uma atitude realizada por outro irmão e que seja contrária aos seus interesses, não o condena. Ao contrário vê nesta contradição uma possibilidade de aprendizagem, de ascensão.

O outro é quem nos permitem a oportunidade de aprender e aquele que não preserva o dom do aprendiz jamais se revelará um mestre. Neste sentido é que em verdade respeitamos o outro e praticamos a tolerância preceituada pela Ordem.

Caminhei contigo até o cume deste monte para praticar o dom do companheiro. E estou ao teu lado não para ser o teu mestre, mas para preservar o dom do aprendiz que cultivo em mim.

Em verdade só existe um Venerável Mestre e ele em ti habita. Uns antigos o chamam do Cristo, outros do Desperto. Todavia, temos uma tradição na nossa Ordem de designar um irmão em cada grupo de obreiros como líder e a ele atribuir o título distintivo de Venerável Mestre, para que o mesmo receba este sinal como um símbolo da Ordem. Este irmão ostentará este símbolo durante o seu mandato de líder do grupo, findo o mandato voltará à condição de irmão igual aos demais.

Esta condição de temporalidade faz com que não tenhamos vários veneráveis mestres falíveis, mas apenas um irmão que está no cargo simbólico de venerável mestre de um grupo de irmãos. E nesta condição o líder é muito mais um que apura a sua capacidade de ouvir e de aprender, do que outro que ensina o que pouco sabe.

“Deixai que em teu coração brote um rio de lágrimas para que o teu ser beba da água viva” foram estas as últimas palavras que o mais velho lhe revelou. Desceram o monte em silêncio e no silêncio aquele que tudo isto nos contou se foi.

Hiran de Melo – obreiro regular do G∴O∴PB∴