O que acontece com o cérebro quando morremos?

 

Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Charité, de Berlim, na capital da Alemanha, em parceria com cientistas da Universidade Cincinnati, nos Estados Unidos, realizou um estudo para descobrir o que acontece com o cérebro humano quando morremos. A pesquisa “Depolarização da difusão terminal e silêncio elétrico na morte do córtex cerebral humano” foi liderada pelo neurologista Jens Dreier.

 

Para a conclusão do estudo, os cientistas precisaram de autorização de parentes de diferentes pacientes em estado terminal para um monitoramento neural considerado invasivo. Os pacientes monitorados tinham sofrido acidentes de trânsito, vasculares cerebrais ou paradas cardíacas. Os participantes da pesquisa eram aqueles considerados com quadros irreversíveis.

 

Os pesquisadores notaram que os cérebros dos animais e dos humanos chegam ao fim de maneira semelhante. Além disso, de forma hipotética, os cientistas acreditam que, em determinado momento, o funcionamento cerebral pode ser restabelecido. Sendo assim, os pesquisadores queriam mais do que apenas observar o funcionamento do cérebro, mas também descobrir formas de como salvar vidas no futuro.

 

Em experimentos em animais feitos no século XX, os cientistas notaram que: o cérebro não tem mais acesso ao oxigênio quando o sistema cardiovascular para de funcionar; ocorre a isquemia cerebral, quando a ausência de componentes químicos leva a “inatividade elétrica” do órgão; o “silenciamento cerebral” acontece para que os neurônios conservem energia, mas é inútil, pois a morte chega antes da reabilitação.

 

Além disso, ainda segundo as pesquisas dos cientistas do século passado, os íons importantes escapam de células cerebrais e a recuperação do tecido torna-se impossível. “A lesão total e irreversível dessas células se desenvolve em menos de dez minutos quando a circulação cessa completamente”, explicou um cientista da equipe à rede BBC.

 

Para entender melhor o cérebro humano, os cientistas usaram dezenas de eletrodos para monitorar a atividade neurológica do paciente terminal. Em oito de dez pacientes, os neurônios tentavam impedir a morte. As células cerebrais funcionam com íons carregados, mas a manutenção do sistema se torna muito difícil quando a morte se aproxima.

 

Isso porque os neurônios se alimentam de oxigênio e energia química da corrente sanguínea. Quando o corpo morre, o fluxo sanguíneo para de chegar até o cérebro, fazendo com que as células cerebrais sejam privadas de oxigênio, obrigando-as tentar acumular os recursos que sobraram para manter o órgão vivo.

 

Desse jeito, os neurônios param de mandar sinais elétricos de um lado para o outro, o que seria um desperdício, e esperam que a corrente sanguínea volte ao normal, o que nunca ocorre. O fenômeno foi chamado de “depressão não dispersa” porque acontece em todo o cérebro ao mesmo tempo.

 

Após isso, acontece a “despolarização da difusão”, com uma grande liberação de energia térmica. Essa “onda cerebral” intoxica e destrói as células cerebrais. A medida que o oxigênio cai, a atividade elétrica também cessa em todo o cérebro, com a morte finalmente chegando ao paciente terminal.

 

“A despolarização expansiva marca o início das mudanças celulares tóxicas que eventualmente levam à morte, mas não é o ponto chave da morte por si só, pois essa despolarização é reversível até certo ponto, com a restauração do suprimento de energia”, afirmou Jens Dreier, do Centro de Pesquisas de Acidentes Cardiovasculares da Universidade Charité, de Berlim à BBC.

 

Com as novas descobertas, mais pesquisas devem ser feitas para aumentar as chances de ressuscitação de células. De acordo com Dreier, principal autor do estudo, “a morte é um fenômeno complexo”.

 

Fontes: 

 

BBC Brasil-Estudo pioneiro explica o que acontece com o cérebro no exato momento em que morremos