O que é relevante para o maçom?

Certa feita, um estudante, recém-chegado à escola de uma cidadezinha do interior de Minas, questionou o professor sobre a relevância dos textos que este havia lhe encaminhado nos últimos três dias, ou seja, desde sua matrícula naquela instituição. Segundo o aluno, ele já pensava em deixar a escola pois, até então, não havia encontrado nada de importante nas leituras que lhe foram disponibilizadas, a não ser uma pequena compilação sobre diferenças de comportamento de auxiliares de clérigos franceses e ingleses. O professor perguntou se ele teve o interesse de pesquisar o livro, com mais de mil capítulos sobre diversos temas, que estava com acesso liberado desde o momento da matrícula. O aluno meneou negativamente a cabeça, agradeceu ao professor e foi se dedicar a descobrir o que oferecia aquele grande livro. 

Acreditamos que nossa Sublime Ordem também é um grande livro, com temas diversificados, merecedores de nossa atenção. Listamos alguns pontos e pedimos a vocês, caros leitores, que reflitam se eles têm algum significado para nós, os maçons.

É relevante ler o que escreveram os grandes filósofos? É interessante ler o que pessoas escreveram sobre o que escreveram os grandes filósofos? E quando falamos de grandes filósofos, nos referimos aos homens e mulheres da Antiguidade, dos tempos Modernos e também os de agora, nossos contemporâneos. Esses pensadores nos ajudam a compreender melhor o mundo? Esses pensadores ajudam a nos conhecermos mais e melhor? Ou nada do que disseram e dizem, nada do que escreveram e escrevem, é relevante para o maçom?

Conhecer a história da Maçonaria é importante? Saber quem eram os maçons operativos, e como construíram as grandiosas catedrais góticas, tem algum significado em nosso meio? Saber qual era o ambiente político na Inglaterra do século XVII e início do XVIII, é algo pertinente para nós, maçons? Ler sobre a Maçonaria na Escócia do século XVI é aconselhável? Estudar sobre as origens da Maçonaria, vale a pena? Ou o melhor é não perder tempo com isso, já que me contaram tudo e eu, agora, já sei porque ouvi em Loja que essas origens “se perdem nas brumas do tempo”?

Ler sobre como as redes sociais podem, e conseguem, alterar o pensamento e as decisões de milhões de pessoas pelo mundo, é algo a ser considerado no estudos que fazemos? Entender como os algoritmos funcionam, fazendo com que o usuário passe a viver em uma bolha digital, tem alguma importância para nós?

Incentivar os Aprendizes e Companheiros a construírem o hábito da leitura, é pertinente? A Loja dispor de uma biblioteca com títulos, temas e autores diversos, é interessante? Ou basta restringirmo-nos a ler Rizzardo Da Camino? Ter acesso a blogs sérios, com milhares de textos publicados, tem alguma significância?

Participar de grupos de discussão, onde diversos assuntos são tratados, nos ajudam a crescer como maçons? Nossas reuniões são produtivas? Nossas Lojas são bem geridas? É necessário que nossos Aprendizes, Companheiros e Mestres apresentem pranchas de sua autoria ou podemos ficar satisfeitos com cópias mal feitas de textos retirados da internet? Ter Mestres capacitados e participativos, é importante para o desenvolvimento do quadro da Loja? Levantamos templos à virtude e cavamos masmorras ao vício (O que isso significa para nós?)?

Pode ser que, para alguns de nossa Sublime Instituição, nada disso tenha importância. Talvez sejam indispensáveis apenas as medalhas colocadas no peito e os diplomas recebidos. Pode ser que o imprescindível em nossos encontros sejam os ágapes. Será?

Por outro lado, há um número expressivo de irmãos que têm compromisso com o estudo e a leitura. São maçons engajados na busca do autoconhecimento, do aprimoramento enquanto pessoas e cidadãos para, assim, cumprirem bem o papel que assumiram quando foram iniciados. Para estes, as condecorações e diplomas recebidos são frutos de suas atitudes e não metas alcançadas; sabem aproveitar a oportunidade de aprendizado oferecida no decurso de seus estudos, em sua Loja ou nos graus superiores; compartilham com os irmãos o conhecimento adquirido, auxiliando os Aprendizes e Companheiros na jornada que devem trilhar, colocando em prática o escopo da tão decantada Plenitude Maçônica. Podemos dizer que, para estes, nossa Ordem e o nosso futuro são, enfim, relevantes?

Luiz Marcelo Viegas

Fonte: https://opontodentrocirculo.com/