O que eu aprendi com a frustração

Eu estava no finzinho da faculdade de Jornalismo - e uma coisa que eu tinha naquela época era cara de pau. Foi quando me ofereci a uma vaga de estágio em um site que acompanhava há alguns anos, e fui chamado para uma entrevista. Poucos dias depois estava lá, frente a frente com um jornalista que admirava, sendo avaliado. Confesso que não lembro do teor do papo, mas da prova que veio depois eu nunca vou esquecer: eram cerca de sete páginas de teste, que incluía não só escrever notas, mas também ler (e transformar em notícia) press releases em italiano (língua que, confesso, não domino até hoje) e inglês.

A resposta veio depois de alguns dias: não fui aprovado. O entrevistador havia gostado de mim, mas, na visão dele, eu ainda não estava preparado para a função - tudo explicado em um longo feedback, justificando a necessidade de alguém melhor preparado. Admito: foi duro ouvir um “não” - ou melhor, ler aquele “não”.

Corta para alguns anos depois. Meu nome finalmente apareceu creditado naquele site que eu tanto admirava. Mais do que isso: aquele mesmo jornalista, que não lembrava muito da minha pessoa (o que é completamente compreensível, afinal devem ter sido centenas, milhares de entrevistas com jovens candidatos), estava elogiando alguns textos meus, indicando-os aos leitores de seu blog.

Como o mundo dá voltas, não é?

A diferença, lá atrás, foi entender a mensagem: eu realmente estava cru. Aquele feedback ajudou-me a entender melhor minhas falhas e o que precisava melhorar. Transformei a frustração da negativa em força para me empenhar. Não foi fácil, claro. É muito difícil para qualquer um começar a vida profissional, afinal as oportunidades nunca aparecem para quem não tem experiência, e esse cenário é ainda mais cruel no jornalismo. Ainda assim, fui atrás. Bati muito a cabeça, dei muito murro em ponta de faca... E fui aprendendo com as frustrações que se somaram.

Com a maturidade e experiência que tenho hoje, posso dizer: aprendi mais com os “nãos” do que com os “sins”, mais com as falhas do que com as conquistas. Também tenho certeza que muito ainda tenho que aprender - e falhar.

Por isso, ainda guardo aquele e-mail que recebi em 13 de outubro de 2005. É ele que me faz perceber tudo que evolui e tudo aquilo que ainda preciso melhorar.

Se minha experiência pode dizer algo a você que lê este texto, é o seguinte: não tenha medo do “não”. E, quando ele chegar, não se irrite ou se deixe levar pelo sentimento de frustração. Ouça o que ele tem para lhe dizer. Será uma valiosa lição.

Do outro lado, se é você é o responsável pela negativa, gaste alguns minutos para embasá-la. Devolva ao universo tudo aquilo que ele lhe ensinou. Todo mundo sairá ganhando.

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