O que podemos aprender com a rotina de pessoas geniais
Rotina é a organização diária. Divido essa palavra em três categorias: coisas que somos obrigados a fazer, algumas que devemos fazer e outras que desejamos fazer. A menos que você seja o Dorian Gray, um Jorge Guinle ou outro bon vivant herdeiro de muito dinheiro e tempo, é impossível estabelecer sua rotina apenas com a terceira categoria.
Por conta de um mundo digital cada vez mais cheio de informação, as interrupções e a perda de tempo aumentaram. Mas também por causa de eventos por vezes inesperados, como um congestionamento ou um vidro de molho de tomate que quebrou, uma rotina pode ser facilmente abalada. E, como se sabe, a falta de equilíbrio em uma rotina é prejudicial à produtividade.
A falta de equilíbrio em uma rotina é prejudicial à produtividade
Desde que minha filha nasceu, fiquei com minha rotina confusa. Comecei a ter dificuldades para fazer tarefas as quais era obrigado, negligenciei aquelas que deveria fazer - atividade física, por exemplo - e praticamente abandonei o que gostava de fazer.
Em busca de me reorganizar e porque seu um curioso convicto, comecei a ler sobre como pensadores, artistas e escritores, ou seja, gente criativa de diferentes períodos da História desenvolviam suas rotinas.
“Rotina, em alguém inteligente, é sinal de ambição”. WH Auden
Comecei a encontrar pontos em comum no dia a dia dessas cabeças privilegiadas. Percebi que esse era o primeiro passo de um exercício para desenvolver uma nova agenda na qual eu pudesse equilibrar minhas três categorias da rotina.
A primeira conclusão é tão óbvia que não é preciso esperar o fim do texto: não existe a receita definitiva para uma rotina perfeita. Mesmo entre os gênios elas são profundamente distintas.
Não existe a receita definitiva para uma rotina perfeita. Mesmo entre os gênios elas são profundamente distintas
Por isso, ajuda ter uma anotação mental na geladeira, na agenda ou no celular de sua rotina ideal, ou seja, daquelas coisas que você precisa, deve e gostaria de fazer a cada dia da semana se tudo correr de maneira sincronizada e sem contratempos. Muitas personalidades históricas como Benjamin Franklin anotavam como devia ser seu dia impecável (abaixo).
Outra dica é justamente não se decepcionar muito quando eventos não previstos impedirem a realização da rotina perfeita. Se para alguém o tempo desejável de leitura ou atividade física pela manhã é de uma hora, é bom considerar que meia hora é melhor do que tempo nenhum. Continue a buscar o ideal no dia seguinte. O escritor de A Metamorfose, Franz Kafka, também tinha dificuldades em lidar com sua rotina e cumprir suas demandas de trabalho. Não é fácil. A poeta e romancista Sylvia Plath só conseguiu montar uma agenda produtiva perto dos trinta anos. Ela morreu antes de completar trinta e um.
Outro ponto em comum é acordar cedo. Calma, não quero dizer que todas as pessoas inteligentes ou bem sucedidas caem da cama. Apenas que a maioria dos caras sobre quem pesquisei os hábitos diários se esforçavam para despertar não muito depois do primeiro galo cantar. O escritor Ernest Hemingway tentava acordar sempre às cinco e meia, mesmo que estivesse de porre na noite anterior. Mozart também levantava antes da maioria das pessoas. Uma justificativa me parece bastante plausível: ao amanhecer há menos gente, barulho e outras formas de ruído que podem atrapalhar nossos primeiros afazeres do dia.
Atividade física também é um hábito que essa gente criativa cultivava. Beethoven, por exemplo, tinha seu horário para fazer “vigorosas caminhadas”, já Freud gostava de andar em ritmo acelerado. Tchaikovsky também era adepto de longas andanças e até Balzac, um obcecado por trabalho, separava meia hora para exercícios.
Não adianta trabalhar o dia todo. Apenas ter uma rotina bem definida, sem trabalhar bastante não vai tornar ninguém acima da média. Porém, não é dedicando todos as horas e dias a fio para o trabalho que vai fazer alguém alcançar seus objetivos. Muitas dessas pessoas que foram extremamente produtivas em suas vidas dedicaram uma parte do tempo com pausas estratégicas. A poeta Maya Angelou tinha sempre um tempo separado para se deslocar e trabalhar em um local diferente. Victor Hugo passeava de carruagem. Charles Darwin tirava uma soneca, assim como Thomas Mann. Já Charles Dickens guardava meia hora para o que ele definia como “tempo livre”.
Texto baseado em artigos sobre o livro Daily Rituals, de Mason Currey (revista Esquire, jornal The Guardian e outras publicações)
Rodrigo Focaccio