O tempo de cada um

 

Na fila do supermercado, os minutos passavam devagar. Ela olhava o relógio e pedia pressa no atendimento. Os outros caixas pareciam mais eficientes. Os carrinhos ao lado pareciam mais vazios. Do seu olhar, só ali encrencava. Somente ali emperrava. E nada era preferencial nela. Contudo de nada adiantava espernear. Ninguém acelerava a sua função para satisfazer o desejo que ela nutria de pagar a conta e ir embora daquele lugar. Por mais que quisesse, era preciso aprender a esperar. Porque era difícil, pensou em desistir. Porque era forte, resistiu. Afinal, ninguém disse que seria fácil aprender a respeitar que existe um tempo para quase tudo na vida. Há tempo de dormir e de acordar. O despertador nos avisa. O cansaço nos vence. O beijo de bom dia da mãe ajuda a despertar. Será que acordamos para aprender a dormir ou dormimos para conseguir acordar? Uma hora o sol dá lugar à lua e parte para iluminar outra parte do planeta. Nem ele pode reinar absolto o dia todo no mesmo lugar. Até ele precisa aproveitar seu tempo e dar passagem para que uma legião de estrelas tome conta do céu.

 

Há tempo de cair e de levantar. Agente vê no tombo que o menino leva enquanto aprende a andar de bicicleta. No salto alto da moça que quebra poucos minutos antes de chegar na reunião. Alguns sentam e choram. Alguns se levantam sozinhos. Se tivermos sorte, há até quem estenda a mão para nos ajudar. É, as quedas nos ensinam a gravidade das coisas da vida. A nossa humanidade ensina a ficamos de pé novamente.

 

Há tempo de gestar e de parir. Da semente ao fruto. Da ideia ao livro. Do sonho ao concreto. Há um intervalo de tempo necessário e precioso para que as coisas sejam o que podem ser.

 

Há tempo de sangrar e de cicatrizar. Na hora de cortar legumes para o jantar.

 

Na mesa de cirurgia. No ciclo feminino. Alguém aparece e diz: respira fundo que vai passar. Assopra. Traz um curativo para o machucado visível do joelho e o invisível a alma. Há um tempo de doer até sarar que precisamos respeitar. Até que fica tudo bem: a ferida se fecha e vira uma espécie de tatuagem que faz a gente se lembrar sem sofrer.

 

Nem demorou tanto assim para que chegasse a vez dia. Tanto drama interno que chegou a sentir vergonha da impaciência que havia tomado conta de si mesmo na fila do supermercado. Quanta bobagem essa pressa de tudo que a gente inventa de ter. Pedimos pressa e em seguida pedimos calma. O universo não deve entender nada.

 

Ela começou a enfileirar os produtos na esteira quando a atendente impediu a passagem com um bloco de madeira que dizia “caixa fechado”. Mas, moça, agora é a minha vez! Sinto muito, senhora. Já deu minha hora aqui e eu não posso ficar.

 

A vida e suas lições. Depois do capítulo do tempo de cada coisa, existe o do tempo de cada um - e esse pode ser mais demorado para aprender do que imaginávamos.

 

Thais Ferreira Gattás  

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