Ontem ateus, hoje brilhantes


A denominação ‘ateu’ começou a ser questionada: se assevera que leva em seu mesmo conceito (‘sem Deus’) a crença em um ser superior. Por ele, não faltam propostas para chamar de outra maneira aos não crentes em divindades ou seres sobrenaturais. Nos últimos tempos, Richard Dawkins, Daniel Dennett e outros autores não religiosos tem promovido a adoção de um novo nome para quem se decantam por uma visão naturalista do mundo (em oposição à visão teológica): o nome ‘brigth’ (brilhante).

Poderia parecer uma etiqueta algo pretenciosa. No entanto, os promotores insistem em que esta é uma nova acepção do termo ‘brilhante’ que não deveria se confundir com a usual ou ordinária. Assim como o termo ‘gay’ (alegre) tem agora um novo significado adicional, diferente do antigo, o mesmo tem ocorrido com ‘bright’.

O matemático John Allen Paulos escreve a respeito: “Deixando de lado as objeções ao termo escolhido, sim creio que o intento de reconhecer a este grande grupo de população é um avanço mais que bem-vindo. Uma razão é que há muitos brilhantes, e sempre é saudável reconhecer os fatos. Outra é que, como disse Darwin acerca da evolução, “há grandeza nesta visão (naturalista) da vida”. Mas outra razão é que estas pessoas, serem chamadas como forem chamadas, tem interesse que alguma classe de organização poderia promover” (Elogio da irreligião, 2009, Tusquets).

Será que a denominação ‘bright’ será implantada no imaginário coletivo?

Será que esta palavra proliferará como outras noções que são filmadas por escritores e meios de comunicação e que em breve já estão sendo adotadas e usadas em muitos circuitos – como pós-verdade, millenials, aporofobia, sororidade?

Se lhes chame de livre pensadores, não crentes, céticos, ateus, agnósticos, incrédulos, humanistas laicos, naturalistas. laicicistas, irreligiosos, infieis, etc, os ‘brilhantes’ estarão rondando por nossas sociedades em grande número desde o período da ilustração. Ainda que esta denominação particular não prenda ou se desvaneça com o tempo, o que não desaparecerá é sua determinação para pensar serenamente por si mesmo e não cair como ovelhas nos poços mentais da ignorância e da superstição

ROGELIO RODRÍGUEZ MUÑOZ
Licenciado em Filosofia e Mestre em Educação, Universidade de Chile

REVISTA OCCIDENTE - Revista de Cultura, Política, Arte, Ciências Sociais, Humanidades e Ciência da Tecnologia - Março de 2023

Tradução livre feita por Juarez de Oliveira Castro