Os Números e Suas Propriedades

INTRODUÇÃO

Os números representam uma importantíssima forma de compreender, organizar e de situar-se no mundo. Da mesma forma, são essenciais para o simbolismo Maçônico.

No Grau de Companheiro foi tratado sobre os números em geral e sobre os primeiros. Agora, no Grau de Mestre, completa-se o simbolismo com o estudo dos números 7, 8, 9, 10, 11 e 12.

Para permitir algum aprofundamento e oportunizar uma pedagogia, uma aprendizagem mais efetiva - oxalá uma faísca para a vivência cotidiana -, apresentar-vos-ei nesta P.: A.: uma delimitação mais precisa: o número 7, que representa a perfeição e a integração entre os mundos físico e espiritual. É o número que aproxima o homem de Deus. Na filosofia, seria a integração entre o imanente e o transcendente.

Falo-vos deste tema porque constantemente ouvis e até participais de debates acalorados sobre a possibilidade de algo sobrenatural e as formas de viver essa crença.

Não se trata aqui de um conteúdo sobre institucionalização da fé na forma de religião, nem a tentativa de convencer ninguém pela religião A ou B. Apenas quero-vos dizer que a integração entre as dimensões humana e transcendental é um caminho para cooperar no equilíbrio da vida pessoal e na busca do bem comum para a construção de um edifício social mais justo e fraterno.

DESENVOLVIMENTO

Sobre o aspecto interpretativo específico do simbolismo do número 7, diz o Complemento:
O número quatro simboliza a Terra com os seus pontos cardeais, ao passo que o três simboliza o Céu. A união entre eles, ou 4 + 3, leva ao 7 que, à sua vez, simboliza o Universo totalizado e dinâmico, isto é, em seu eterno e completo movimento. (GRANDE LOJA DE SANTA CATARINA, 2017, p. 11)

O 7, então, é o número perfeito, pois aproxima o homem esclarecido pela sua inteligência, da sua consciência, do Absoluto, do GADU. O próprio avental que usais é composto por uma aba triangular, três partes, e uma base quadrada, número quatro, perfazendo o total de 7.

Na verdade, o número 7 tem simbologias, relações e interpretações em várias dimensões: na arte, na música, nas religiões, na geografia, na ciência, na filosofia, na arquitetura, no calendário, nas culturas em geral. Contudo, aqui a delimitação é tão somente pelo prisma da espiritualidade vivida pelo homem, ou seja, exatamente a forma de viver a integração entre vós, humanos, e Deus.

É possível afirmar que a crença no transcendente está presente em todas as culturas. Afinal, não há culturas ateias, embora o ateísmo se encontre em indivíduos ou grupos de todas as culturas.

No caso próprio da Maçonaria, é desnecessário discorrer sobre crer ou não crer. Afinal, um dos vossos Landmarks, ou seja, leis imutáveis, diz o seguinte: “A crença no Grande Arquiteto do Universo é dos mais importantes Landmarks da Ordem. A negação dessa crença é impedimento absoluto e insuperável para a Iniciação!”

Mas a forma como se organiza ou se vive essa crença, pode, sim, ser objeto de reflexão e aprofundamento. Afinal, a crença no transcendente ou os temas Deus e Fé podem estar organizados em forma de religião, ou seja, a institucionalização do sagrado na forma de ritos, liturgia, doutrina e leis. Outros tantos preferem uma vivência e crenças livres de formatação. As denominações diferentes de Deus: Allah, Yahweh, Shiva, Bramma, Buda, Tupã, God, Gott, Dios... revelam alguns caminhos para isso. Também há pessoas que preferem não dar nome àquilo que chamam de crença para além da imanência.

Após vencidas as duas questões – a da fé e a forma como ela pode ser vivida – é salutar dizer que a simbologia do número 7 tem duas dimensões que podem ser ressaltadas para a vossa Fraternidade: a da espiritualidade pessoal e a da relação do compromisso com o outro. Aliás, duas dimensões totalmente complementares, já que seria difícil crer isoladamente ou solitariamente, embora a experiência mística tenha muito de singularidade. Vossas experiências espirituais subjetivas têm também uma dimensão coletiva.

A espiritualidade, ou a experiência de Deus, não se baseia apenas nos sentimentos, mas, e sobretudo, na vossa adesão corajosa a um projeto de vida. A verdadeira experiência do amor de Deus leva-vos necessariamente ao amor para com os irmãos. É impossível amar a Deus e não amar os irmãos. A Bíblia é muita clara nisso: “Se alguém declarar: Eu amo a Deus!, porém odiar a seu irmão, é mentiroso, porquanto quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não enxerga.” (1 Jo 4,20).

E o amor deve ser um gesto concreto. Uma espiritualidade que não seja uma tinta que se passa ou uma capa que se coloca, mas sim uma vida assimilada e assumida em cada momento da existência. Ela é a força que anima o engajamento, é a mística de todo compromisso. Ela tem que descer do cérebro, entrar nos braços, nas mãos, nas pernas, nos pés, no coração. A espiritualidade é a alma que anima a ação.

A espiritualidade, que muitos chamam também de mística é aquela disposição da interioridade e a conexão com a exterioridade. É aquilo que vos alimenta, que vos deixa de prontidão, vivos. É a energia vital, o sopro da vida. Quando adquire constância, torna-se integrante do vosso jeito genuíno e autêntico de ser. Não é um exercício de introspecção, mas muito mais um percurso pedagógico no sentido de se tornar sempre mais autêntico consigo e presente no mundo.

Ou seja: Para que serve a espiritualidade, a fé? Para a vida moral! Para combater os vícios e elevar templos às virtudes!!!! Exatamente por isso, é imprescindível dar um sentido social à própria fé. Ela é um exercício ou vivência pessoal, mas é também um movimento que vos leva ao outro, a vós mesmos e ao mundo.

Em outras palavras, a fé leva-vos à empatia, que é a capacidade psicológica de sentir o que sentiria outra pessoa, caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Reconhecer no outro a vossa pele. A arte de se colocar no lugar do outro. Está intimamente ligada ao altruísmo - amor e interesse pelo próximo - e à capacidade de ajudar.

Aristóteles usava o termo "em-pathein" no sentido de "animação do inanimado”. Colocar vida onde não há, onde deixou de ter vida, onde as forças esmoreceram. Colocar PAIXÃO no outro! Colocar espírito, coragem, disposição, sopro, respiração!
A empatia revela-se na reciprocidade com o outro e na responsabilidade para com a comunidade, no acolhimento, na solidariedade estrutural, ou seja, a vivência prática da fé é a mística da empatia, é COMPAIXÃO!

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A integração da vida e fé, embora possa parecer, não é apenas uma dimensão abstrata, ela pode se concretizar em nós mesmos e, com certeza, é perceptível ao vosso lado: no amigo cristão, no vizinho muçulmano, no conhecido de uma religião oriental, no professor espírita, na colega que freqüenta o terreiro umbandista ou a macumba, naquele que acredita em algo superior à matéria e assim por diante.

A experiência de fé é esse sentido fundamental capaz de harmonizar todos os sentidos parciais. O sentido da fé é ser o núcleo integrador de todos os sentidos parciais na vida humana (BIRCK, 2004, p.19). Obviamente, vós podeis viver uma fé e não ir de encontro ao outro, mas seria, todavia, uma experiência parcial.

Para o professor Bruno Odélio Birck, a vivência da fé situa-se no que podemos chamar de “região do sentido”. O sentido é o que determina o modo de ser e o destino da vida de cada indivíduo. Ludvig Feuerbach, crítico da fé e da religião, pensa que essas são fontes de alienações, que teriam um alto poder de projetar “falsos mundos”, de desviar o indivíduo de sua verdadeira realidade humana. De fato, quando a vivência da fé torna-se um caminho praticamente cego, é possível que isso tenha fundamento. Prova disso são as atrocidades que as próprias religiões patrocinaram na história da humanidade. Razão pela qual a vivência da fé é também um exercício de tolerância e respeito.

Agostinho de Hipona já afirmava: “O coração do homem não descansa enquanto não repousar em Deus”. É nesta busca constante de Deus e de respostas aos problemas mais profundos e angustiantes da vida que encontramos a explicação e a origem das múltiplas e mais diferentes formas de viver a fé nos cinco continentes, e que ajudam a orientar a vida e os costumes dos povos.

Em termos de hipercompetitividade, de concorrência extrema constante e de processos desumanizantes, a fé e a espiritualidade fazem toda a diferença em qualquer ambiente. Há uma diferença entre fé (inerente à natureza humana) e religião (institucionalização de doutrina, ritos e práticas). A primeira pode ser vivida e praticada por todos. A segunda é uma opção pessoal que pressupõe respeito e tolerância.

Acreditais! Olivier Clément afirmou: “Nossa época tem necessidade de homens que sejam como as árvores, plenos de uma paz silenciosa que se enraíza, ao mesmo tempo, na terra e no céu”. Eis o sentido do número 7. Transcendência e imanência são dimensões constitutivas da vida.

Talvez, um dia, e esse é o sentido de vos aperfeiçoardes neste Templo, as pessoas possam olhar vossas ações e atitudes e dizer: - Ele é tão humano que parece divino!

Mauri Luiz Heerdt
Obreiro da Loja "Alferes Tiradentes" Nº 20
Florianópolis-SC

REFERÊNCIAS
BARBOSA, Pedro Montenegro. Ética e política. Cultura e fé. Porto Alegre, ano 15, n. 59, out./dez. 1992.
BIRCK, Bruno Odélio. O sentido da religião para o ser humano. Jornal Mundo Jovem, Porto Alegre, mar. 2004.
GRANDE LOJA DE SANTA CATARINA. Complemento I à 1ª Instrução de Mestre Maçom: os números de suas propriedades. Florianópolis, 2017.