Otimista ou pessimista? Qual a melhor opção para se enfrentar uma crise?

Um país em crise há anos. Gente que aposta em uma recuperação que não vem. Gente que espera um cataclisma que pode não acontecer. Entre pessimismo e otimismo, talvez a resposta esteja em saber usar bem esses dois estados de espírito.

Estamos mal, mas sempre pode piorar ou o importante é torcer e acreditar que o melhor vai acontecer? Ser otimista ou pessimista, eis a questão. De que lado você está?

Lamento dizer que é difícil achar respostas simples para problemas complexos. Mas talvez seja possível encontrar algumas pistas. Afinal, é melhor ter dúvidas sinceras do que certezas inúteis.

Não é preciso ser psicólogo para perceber que pelo retrato das redes sociais o diagnóstico é claro e objetivo: pessimismo é defeito, otimismo virtude. Na mundo corporativo o pessimista também não parece ser visto com muita benevolência. Mas será que as coisas funcionam assim?

“Não sou pessimista, o mundo é que é péssimo".              José Saramago

A ciência já identificou que o pessimismo pode estar ligado a pessoas mais suscetíveis à ansiedade, estresse e depressão. Alguns especialistas garantem: otimismo traz benefícios para a saúde, ajuda a superar traumas e obstáculos e também é capaz de fazer com que o otimista enxergue oportunidades onde a maioria não vê.

Há até um esforço de cientistas para tentar “consertar” mentes pessimistas que podem estar relacionadas com a depressão. Em 2013, um estudo feito com irmãs gêmeas na Inglaterra, uma pessimista e a outra otimista, chegou às evidências de que até nossos genes estão envolvidos nessa disputa. Inclusive esses genes podem se alterar de acordo com as influências do ambiente, o que os cientistas chamam de epigenética. Ou seja, as pessoas podem se tornar mais pessimistas do que outras devido às suas experiências de vida.

Mas cientistas também indicam que o pessimismo pode ser útil para a sobrevivência. Uma pesquisa feita na Alemanha mostrou que os pessimistas, aqueles com menores expectativas sobre o próprio futuro, tiveram respostas melhores em sua saúde e renda com o passar dos anos.

É o que chamaram de pessimismo defensivo. Pessoas que tendem a ver o copo meio vazio podem se antecipar aos desafios e se preparar para as dificuldades que ainda virão. Na outra margem do rio, onde estão aqueles que “acreditam sempre no melhor”, uma crise pode ser fatal. O otimista convicto pode ser o protagonista da famosa frase que você já viu circulando por aí: “na subida do Everest existem centenas de corpos de pessoas altamente motivadas”.

Sobre isso, a ciência também tem um caso de estudo. Em 2006, um tornado na cidade de Iowa, nos EUA, causou um estrago gigantesco, mas os cidadãos não desanimaram. Reconstruíram-se e seguiram a vida. Só que o excesso de otimismo levou muitos perderam a capacidade de acreditar que poderiam ser vítimas de um novo evento climático.

O pensamento positivo desenfreado pode nos levar à crença de que dois raios - ou tornados - não caem no mesmo lugar. Só que em 2008 uma nova tempestade atingiu a mesma Iowa e os estudiosos relataram casos de pessoas que não se preveniram o suficiente para um novo desastre por não acreditar que eles pudessem ocorrer novamente. 

A (falsa) expectativa é o primeiro passo para a decepção.

Mas a questão é complexa. Afinal, se você é pessimista como o Charlie Brown, mas acredita que isso sempre o ajuda em suas decisões, no fundo você parece bem otimista.

Em um livro lançado em 2018, o psicólogo e linguista canadense Steven Pinker fala que o otimismo e o pessimismo são, além de tudo, também uma questão de política. Podem existir pessimistas de esquerda e de direita e otimistas também em ambos espectros.

Para ele, ruim mesmo é o fatalismo, seja otimista ou pessimista. Pinker atribui ao pessimismo fatalista, por exemplo, um efeito catalisador para a ascensão de políticos como Donald Trump que apostaram - e ganharam -- na linha do "contra tudo que está aí". De acordo com sua tese, as pessoas deixaram de acreditar no progresso do sistema político. Os pessimistas fatalistas desistiram da capacidade humana de produzir um futuro melhor.

Mas não podemos esquecer do otimismo fatalista, o lado da mesma moeda do exemplo anterior e igualmente nocivo: nada preciso fazer porque tudo vai dar certo. Ou, talvez, qualquer coisa que eu fizer vai dar certo de algum jeito.

“A prece é realmente boa, mas enquanto pede a Deus, um homem deve ele mesmo dar uma mão”.  

Hipócrates

Uma questão complexa e atual como o aquecimento global ajuda a identificar como otimismo e pessimismo podem coexistir e colaborar na mesma direção. Para o bem ou para o mal.

Uma questão complexa e atual como o aquecimento global ajuda a identificar como otimismo e pessimismo podem coexistir e colaborar na mesma direção. Para o bem ou para o mal.

Você pode ser um otimista irrecuperável e acreditar que o aquecimento global não existe. Tudo é balela de cientistas conspiratórios . Vai continuar saindo por aí jogando óleo diesel na atmosfera sem remorso e evitar ter filhos para que eles não vivam em um planeta inóspito.

Você pode ser um otimista irrecuperável e acreditar que o aquecimento global não existe. Tudo é balela de cientistas conspiratórios . Vai continuar saindo por aí jogando óleo diesel na atmosfera sem remorso e evitar ter filhos para que eles não vivam em um planeta inóspito.

Nesses dois casos, otimistas e pessimistas dividem o mesmo sentimento: o fatalismo. No primeiro, o pensamento positivo turva a inteligência. No segundo, o negativismo bloqueia a ação.

Mas sempre que apresentarem só duas opções sobre um tema cascudo, é prudente procurar uma terceira ou até quarta via. Sobre o aquecimento global, um artigo do Financial Times mostra que podemos ser otimistas como Bill Gates. Ele acredita - e não é o único - que de uma perspectiva histórica da humanidade “é muito melhor ter nascido agora do que em qualquer outra época e que será melhor nascer daqui a vinte anos do que hoje”. Para ele a tecnologia criará meios para evitar uma catástrofe ambiental e continuará melhorando o bem-estar da humanidade.

Na verve pessimista, David Attenborough, famoso apresentador e historiador inglês, acredita que andamos muito mal e, se mudanças dramáticas não acontecerem, estamos muito próximos de jogar o planeta e nossa espécie no lixo da história. Sem a necessidade de um meteoro.

Bill Gates criou um fundo de 1 bilhão de dólares para pesquisas científicas sobre energias alternativas. Attenborough dispara seu alarme em seus programas na BBC: é preciso agir mais rápido do que temos feito até agora.

Mas entre o otimismo de um e pessimismo de outro há um ponto em que ambos concordam: o aquecimento global é um problema e muitas coisas precisam ser feitas.

Pessimista ou otimista, o importante é não ficar parado à espera que o pior, ou que o melhor, vá acontecer.

Rodrigo Focaccio

Formado em jornalismo, fui assessor de imprensa, social media, community manager e editor de conteúdo digital. Após mais de 15 anos trabalhando com redes sociais e conteúdo digital, aprendi como resolver problemas em pouco tempo, a me recompor de um erro, a correr riscos inteligentes e produzir conteúdos com o menor custo possível. Atualmente, trabalho como profissional independente para empresas, executivos e empreendedores. Entre 2016 e 2018 fui consultor de comunicação exclusivo para o LinkedIn, como produtor e editor de conteúdo (texto, imagem e vídeo) e executando campanhas locais e globais nos canais da marca. De 2010 a 2015 fui editor de conteúdo digital quando trabalhei por dois anos como editor de todos os canais sociais da Pepsi Brasil. No meu lado B mantenho um canal de vídeos no YouTube sobre literatura, cultura e arte.

Fonte: https://www.linkedin.com/