Parando de correr

 
O ato de correr é solitário. Mesmo quando se corre em grupo, o ritmo das passadas é individual e nos força deixar o pensamento fluir para dentro da mente. E a cada respirada, o corredor tem a sensação de estar se orientando silenciosamente pelos seus pontos cardeais mais pessoais.

O cenário pouco importa: na areia fofa da praia, no parque arborizado da cidade ou na pista de cooper do condomínio fechado de classe média alta.

A beleza do exercício está presente no movimento d emocrático dos passos apressados. As passadas firmes e ritmadas não se importam em saber qual é o seu time do coração, seu partido político, sua religião ou quanto você tem em sua conta bancária. Quando corremos, somos iguais pois não temos muita certezas além do chão que pisamos.

Da linha de partida à de chegada, todo o tipo de situação pode acontecer: um novo amor, uma vitória, uma derrota, uma gravidez inesperada ou simplesmente nada. Eis o mistério desse percurso entre dois pontos. Por mais que tentemos adivinhar o que vem pela frente, só saberemos se continuarmos. E assim, corremos: para esvaziar a cabeça ou para encontrar alguma resposta. Há quem corra para esquecer ou até mesmo para se lembrar. Gente que corre em prol de uma causa nobre ou apenas para cumprir uma mini maratona e se gabar aos amigos depois. Pessoas que correm pelo prazer da superação ou que correm pela obrigação de perder 3 quilos.


Mas não é a velocidade que nos torna melhores, é a distância percorrida que nos torna mais experientes na jornada da vida. E aí está a grande lição dessa correria toda: aprender a correr é muito mais fácil do que aprender a parar e contemplar.




Durante o percurso, encontramos diversos obstáculos. Frio, fome, sede. De alguns, conseguimos desviar. Mas se optarmos por atalhos, perdemos a paisagem da travessia. Chegaremos mais rápido, com certeza. Mas não é a velocidade que nos torna melhores, é a distância percorrida que nos torna mais experientes na jornada da vida. E aí está a grande lição dessa correria toda: aprender a correr é muito mais fácil do que aprender a parar e contemplar.

Portanto, se hoje o seu dia estiver corrido demais, force uma pausa: o ritmo das nossas histórias pede, vez ou outra, um freio para que a jornada continue vibrante e fortalecida. Cá entre nós, nos tempos de hoje, aprender a parar, mesmo que por alguns minutos, é como encontrar o norte depois de muito tempo correndo em círculos na estrada.
* Thaís de Ferrand
é roteirista, escritora, cronista ou tudo junto e misturado. Escreve todas às sextas-feiras para o jornal Notícias do Dia e é colaboradora do jornal Psicologia em Foco. Além disso, atua como criadora de conteúdo para os mais diversos veículos de comunicação.