PAZ

A história nos conta que os fenômenos políticos, sociais, econômicos, religiosos obedecem a um ciclo constante. Cíclico, porém mutável de acordo com regras de adaptação ao momento. Creiamos nessa teoria porem, mesmo com anacronismos verificados, a erudição nos alerta, que a repetição dos fatos históricos está relacionada com a evolução e desenvolvimento de nosso poder científico de observação e de domínio.

E assim, os impérios, as conquistas, todos os grandes feitos da humanidade obedecem ao ciclo natural de nascimento e vida. Não morrem, jamais, apenas desaparecem deixando seus registros, consubstanciados através da palavra e da obra que constroem a história que não se repete, apesar de contínua, registrando a evolução do homem através de suas transformações. E por maior ou menor que se queira determinar um valor, que possa identificar o grau de importância dessas mutações, verificamos que esse valor é função de um paradigma de comportamento, associado ao bem estar de um grupo social.

Entretanto, admitindo a consolidação altruística da vontade suprema, verificamos, através de uma análise interativa e pessoal, nossa efetiva participação neste processo do desenvolvimento histórico. Mas como determinar o envolvimento de cada um? Como determinar de que forma satisfazemos nossa capacidade, ora de produção, ora de participação?

A análise permite uma fórmula circular, onde cada pessoa pode verificar seu grau de satisfação, frente sua capacidade de produção e reciprocamente, analisar sua produção, frente sua capacidade de poder produzi-la. Não é tão simples, uma vez que a auto defesa insurge-se despertando os recursos de defesa, surgindo os conflitos. Conflitos que geram o medo, fazendo com que o homem se defenda com armas de grande poder que, de forma inescrupulosa, mas com perspicácia e determinação, invadem os corações, aviltam o comportamento com suas paixões. Assim o homem procura enganar a si próprio, permitindo o florescimento de sentimentos para que sejamos indiferentes ao passado, amemos somente presente porque tem medo do futuro.

Surge a necessidade de ter, a necessidade de ser superior. Tudo determinado, a partir de nossa capacidade de percepção e de raciocínio lógico, nos permitindo diferenciar não apenas o que é bom, ou mal. Mas nos permitindo também, submergindo nas profundezas de nosso ser, analisar, criticar, calcular e desferir comportamentos adequados à supremacia de nosso desejo de querer mais, de querer ser mais.

A principal causa de tudo isso, é a arma que o homem aprendeu a utilizar, a mais mortífera de todas: a arma da comparação.
Ele passou a olhar seu semelhante através de comparações, de medições. Ele tem que ser melhor, tem que ter mais, tem que poder mais. Em casa, na escola; criança, jovem, adulto, sempre comparamos e somos comparados. Sempre submetemos e somos submetidos a mensurações objetivas ou subjetivas através da palavra, do gesto. E assim é na família, na escola, no ambiente social ou de trabalho. Também na sociedade: eu sou mais, eu sou melhor; eu tenho mais. E da comparação nasce o ódio, a inveja, a ambição, a revolta. Nasce o vício, o medo, o conflito.

Criou-se um deus comparativo. O deus da divisão, o deus da desordem.

Comparar significa enaltecer alguém e destruir outro alguém. A pessoa a ser comparada é enaltecida, é mais inteligente, mais hábil, tem mais valor. Comparar a pessoa é mensurar entre aquilo que ele é com aquilo que ele deveria ser. Os pais assim o fazem com seus filhos desde o berço; os professores assim o fazem com as notas escolares, sublimando com os exames.

Nossa estrutura social institui a regra de medições, de comparações, de aferições. E a partir da comparação, surgem as divisões políticas, as classes sociais, as igrejas. Mas qual a necessidade de medirmos, de compararmos se sabemos que este tipo de atividade gera o conflito? Sabemos que essa realidade psicológica do espírito comparativo, gera a competitividade, transformando o homem: ele se torna agressivo e insensível. Enganamo-nos a nós próprios, pois temos medo de não ser o que realmente somos e ser aquilo que realmente não gostaríamos de ser. E diante desse antagonismo crônico que nos angustia e perturba, nos afastamos do ser completo tornando-nos agressivos e multiplicadores da cizânia. Nossos princípios são possuídos de injunções dogmáticas que nos aprisionam, acorrentam, subjugam.

Mas, se pudermos transformar todo esse emaranhado de artifícios, lógicos ou não, em séries numéricas, poderemos então observar, qual a suprema e determinante regra de todos os fenômenos históricos da humanidade. Desta humanidade que ainda não aprendeu, ou nega-se a aprender, que sua totalidade depende do estabelecimento da harmonia entre consciência e matéria. Que o equilíbrio está na sua totalidade, homem e universo.

Ainda mais neste mundo de normóticos. Sim, normóticos! Essa patologia da normalidade; estado pelo qual passa o homem moderno. É aquele indivíduo que não tem nada haver com nada. Não adianta falar em agressão à mata atlântica, buraco de ozônio, guerra entre judeus e árabes, tocar fogo em índio dormindo, entregar uma adolescente aos marginais, etc. Ele não é responsável por nada disso. Não lhe diz respeito afinal, seu campo de domínio não está sendo afetado. E este estado defensivo, contra qualquer dano possível à sua individualidade, apesar de tudo, leva-o à apostasia de sua natureza como homem, como ser humano completo.

Sabemos que o mundo passa por uma transformação, talvez a mais importante de todas e, queiramos ou não, fazendo parte dela. Nossa mente suplica que tomemos consciência de nós mesmos; que saibamos como harmonizar espírito e matéria, homem e universo; que sejamos homens completos; que o maior problema deste século, não está no plano horizontal, entre oriente e ocidente, entre leste e oeste; que o problema está no plano vertical isto é, entre o desenvolvimento material e a espiritualidade.

E, se vivemos momentos de angústia e contrastes extremos, creiam, são providenciais para que possamos ver, enxergar e sentir a necessidade de nossa transformação porque, se não soubermos, neste século, harmonizar e estabelecer de forma racional, as relações justas e perfeitas entre os quadrantes que determinam este equilíbrio, certamente não veremos o fim do século XXI.

A TV Senado apresentou o concerto com a Orquestra Sinfônica Infantil da Venezuela. Executavam a 4ª Sinfonia de Tchaikovsky. Uma peça muito difícil, própria apenas para músicos de muita experiência. Mas ali estavam, cerca de 120 crianças, com idade variando entre 13 e 16 anos, executando aquela obra, sob a direção de um maestro, também jovem de 16 anos que regia a orquestra de cor e com entusiasmo exuberante. Uma execução e interpretação magníficas.

A televisão, na mesma semana, também apresentou um documentário sobre as guerras internas na África. O repórter achou curioso o equipamento militar, nas mãos de crianças, que não sabiam sequer por que ou por quem estavam brigando, atirando e matando com armamento de última geração. Um quadro que se tornou ainda mais terrível, quando o repórter, ao entrevistar um dos fornecedores de armas, teve como resposta, rindo e satisfeito: “Nós fornecemos as armas para que eles briguem a vontade. Assim, nosso trabalho de exploração é feito sem muita dificuldade.....”  (exploração do solo, diamante e ouro)

Que contraste: de um lado um maestro frente uma orquestra de crianças, comandando um concerto, dirigindo uma oração, para uma platéia com momentos de nobreza de alma. De outro lado, também um maestro, dirigindo também uma orquestra de crianças, mas no lugar de instrumentos musicais, eram armas de guerra afinadas para a morte e destruição.
Onde está o homem que tem como paradigma, como divisa universal: construir templos para a virtude e cavar masmorras ao vício e assim transformar o homem através da moral.

Não sejamos normóticos; não sejamos indiferentes às vicissitudes da vida; não nos tornemos na classe alienada que existe apenas para trabalhar, acumular e desfrutar. É chegada a hora de abrirmos nossos corações, arregaçarmos nossas mangas e manifestarmos, não nossa ira, mas nosso amor, nossa solidariedade. Mostrarmos o quanto vale a fraternidade, quando existe a liberdade e a igualdade. Vamos mostrar, que o homem tem chances de sobreviver com trabalho, com amor, com dignidade.
Vamos formar a grande cadeia de união, todos, suas famílias, seus amigos e inimigos. Manifestemos nosso pensamento para toda a sociedade, quanto à preocupação por um mundo melhor, mais justo. Se um irmão está em dificuldade? Estenda sua mão, não apenas com aquelas palavras de consolo: Olha se precisar, é só dizer, ...! Não! Não! Segure sua mão, puxe-o com força, abrace-o, ame-o como a si mesmo.

Não podemos mais nos preocupar com análises comparativas. Sejamos um bloco, consolidado, único! Não podemos mais permitir, que a sociedade continue confinada e obscurecida através de seus conceitos dogmáticos através de símbolos e arquétipos.

Nós sabemos quais são os ensinamentos do Grande Mestre e, com esses ensinamentos podemos perceber que o mundo, nesta fase de sua história, está no ponto de aglutinação dos grandes princípios geradores da paz. Façamos com que nossos filhos, amanhã, tenham orgulho de sua história, de sua origem cantando novos salmos onde seus progenitores haverão de ser os protagonistas de suas felicidades e triunfos. Somos privilegiados em poder participar desta fase de transformação, porque ainda existe e permanece, altiva e nobre, em todos os corações, a essência da vida, o amor.

E com o amor, ela é mais real, existe e mostra as duas grandes dimensões: o mundo do ter e o mundo do ser. Sabemos que muitos lutam, apenas para ter. Outros entenderam a futilidade deste preceito e partiram em direção do ser.
Permita o Grande Mestre, estejamos em direção do ser.

Pedro Moacyr Mendes de Campos