PEQUENO ESTUDO SOBRE A TROLHA

 

Muito falamos em símbolos e simbolismos, mas será que realmente sabemos ou entendemos o que realmente significam.

Nicolau Aslan, em seu livro Estudos Maçônicos sobre o Simbolismo (Editora Aurora, 1967) nos dá uma clara idéia sobre o assunto.

Pelo sistema que se fundamenta nos simbolismo, ou seja, na interpretação dos símbolos, a maçonaria se desenvolve, e desenvolve seus membros, de uma forma muito pessoal e autodidática.

O símbolo é criado para ser estudado, analisado, comportando diversas interpretações. Como afirma J. Carneloup, escritor Maçom: “um símbolo admitindo apenas uma única interpretação não será um verdadeiro símbolo”.

Quando analisamos ou interpretamos um símbolo, o fizemos de modo muito pessoal e cada Maçom deve buscar a verdade por estudos e investigações próprias. Como diz Aslan: “É firmando um pé na Tradição e outro na Ciência, que o mantém na senda do progresso consegue o Maçom o equilíbrio perfeito”.

O simbolismo é, talvez, a ciência mais antiga que se conhece e também base de instrução adotado nos tempos primitivos,  e, se relembrarmos, a primeira instrução de aprendiz baseia-se nos nossos principais símbolos.

Mas o que é um símbolo? Pelos dicionários, símbolo é a representação gráfica de uma idéia ou princípio. Para Aslan, símbolo é algo que substitui uma coisa, ou é algo que se refere a uma coisa que está em lugar de outra.

Nossa Ordem é muito rica e sábia no uso de símbolos e da simbologia para instruir seus Obreiros e, assim, incentivá-los a estudar e pesquisar cada vez mais.Em cima disto partimos para um breve e simples estudo sobre um de nossos símbolos, que muitos utilizam como identificação, mas talvez lguns não saibam seu real significado. Este símbolo é a “TROLHA”, símbolo do M\M\.

Sempre me causou certa curiosidade mostrarmos uma “colher de pedreiro” e identificarmos como “Trolha”, pois esta identificação não coincide com o que é definido por vários de nossos dicionários e mesmo com definições de publicações estrangeiras, senão vejamos:

Do Novo Dicionário da Língua Portuguesa – Aurélio Buarque de Holanda Ferreira – 2ª Edição. Rio de Janeiro – Editora Nova Fronteira, 1993, tiramos:

“TROLHA – Do Latim, Trulla, colher de mexer panela; escumadeira. ESPÉCIE DE PÁ  NA QUAL O PEDREIRO TEM A ARGAMASSA QUE VAI USANDO. DESEMPOLADEIRA.

“DESEMPOLADEIRA – Instrumento de pedreiro que consiste numa tábua ou régua, com empunhadura no centro e é empregado para alisar ou desempolar (aplainar, alisar) o reboco”.

Do Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa – F.J. Caldas Aulete – 2ª Edição, Volume 2. Lisboa – Typographia da Parceria Antonio Pereira, 1923, temos:

“TROLHA – Pá de pedreiro na qual está a cal amassada de que ele vai se servindo”.

Nos escritos maçônicos temos, também, encontramos definições e simbolismos, conforme veremos a seguir.

No Dicionário de Maçonaria – Joaquim Gervásio de Figueiredo – 4ª Edição – São Paulo – Editora Pensamento, 1990, assim se define:

“TROLHA, Latim Trulla, Trullem – 1 – Espécie de pá achatada, usada pelo pedreiro para aplicar a argamassa. 2 – Sob a forma triangular, é adotada pela Maçonaria como instrumento simbólico com que se aplica a argamassa humana destinada a realizar a unidade, tal qual o pedreiro cimenta as várias pedras para formar  um só todo, que é o edifício. Instrumento de trabalho essencialmente construtivo, é o emblema característico do amor fraternal que deve unir todos os Maçons, e o único cimento que os operários maçônicos podem empregar para a edificação do Templo da solidariedade humana e do seu próprio caráter. Com tal significado, é usado no Rito Moderno ou Francês durante a quinta viagem da elevação de Aprendiz para companheiro, e na Ordem Real de Heredom e de Kilwinning, onde o recipiendário, com a Trolha em uma mão e a Espada na outra, presta seu juramento. – 3 – Passar a trolha, significa esquecer as injúrias e as injustiças.

Do Manual de la Masoneria, el Tejador de los Ritos Antiguo, Escoceses, Frances e de Adopción – Andres Cassard – 6ª Edición, tomo segundo. Nova York – El Espejo Masónico, 1871, consta:

“TRULLA O CUCHARA DE ABAÑIL – Esta hierramenta es emblema de la indulgencia de que se debe animar a todo mason, el cual debe estar dispuesto a perdonar las faltas, defectos y errores de sus semejantes".

Na bibliografia maçônica, quase que por unanimidade, Trolha é definida como “colher de pedreiro”, que serve para aparar arestas, eliminar as nossas imperfeições. Aqui encontramos a divergência de identificação da Trolha entre o mundo profano e a mundo maçônico. Enquanto naquele é uma tábua, ou régua de madeira com empunhadura no centro, aqui é o que conhecemos como “colher de pedreiro”, que sabemos de usos e aplicações diversas nas construções.

Os autores a identificam com a “colher de pedreiro”, que sabemos ser utilizada para a colocação do material para ser alisado pela trolha ou régua do pedreiro, mas seu simbolismo é de aparar arestas, corrigir imperfeições, o símbolo do Perdão.

Bem escreve Boanerges Barbosa de Castro, em O Templo Maçônico e seu Simbolismo, Editora Aurora, 1977, que diz:

 “Com a Trolha o pedreiro mexe e mistura a massa tornando-a uniforme, perfeitamente igual e com todos os materiais  que a compõem, unificados. Na maçonaria a Trolha representa o amor fraternal que reúne, iguala e torna unidos os Maçons”.

Para Osvaldo Wirth, a Trolha é o Símbolo da Benevolência esclarecida, Fraternidade Universal e profunda Tolerância que distinguem o verdadeiro Maçom.

Além de ser o símbolo do Mestre Maçom, é a joia do cargo de Arquiteto.

Como vemos, temos nossos símbolos e nossas simbologias. Muitas vezes Eles nos deixam um pouco confusos quando os relacionamos com o mundo profano, como é o caso da Trolha, mas assim Eles estão cumprindo com seu objetivo, que é o de motivar, incentivar e, até, forçar o Maçom ao estudo, a pesquisa, a busca da Verdade, para que faça jus à denominação de FILHO DA LUZ.

* MARCO ANTONIO PEROTTONI

Loja "Cônego Antonio das Mercês" – GORGS

Porto Alegre – RS