Percepções e correlações com o mundo profano


 

 

Instrução, ao que percebo será esta uma palavra permanente na vida maçônica. Estaremos sempre envoltos a ensinamentos, balizas, manuais, landmarks e entre eles, uma forma de instrução velada, porém, de valor inestimado, de caráter prático, e que igual e juntamente com as outras ferramentas já citadas perfazem as instruções necessárias a construção do aprendiz maçom. A referida forma é o reflexo das 3 luzes de nossa loja e também dos demais IIr. Cada um entregando aos demais, um exemplo de conduta compatível com nossos landmarks. 

 

Quando começamos nossa viagem na vida profana, deparamo-nos com a ignorância total, não sabemos andar e quando aprendemos vamos logo tropeçando, não contemos nosso próprio corpo, nossa fala não é clara como pensamos que seja, a visão é turva, indefinida, nos guiamos pelas vozes que generosamente nos indicam um caminho, o qual confiamos e trilhamos com coragem, observamos um sorriso ou uma cara fechada que nos dirá se é hora de continuar ou de ficar parado, inerte ou quem sabe recuar. 

 

Nossa jornada iniciática em Loja possui também inúmeros obstáculos, ruidosos, doloridos, difíceis de serem transpostos, além da ignorância absoluta, a ausência de luz tornaria a tarefa impossível, não fosse pelo apoio e a instrução que nos guarnece conduzindo-nos a vencer tais dificuldades e alcançar o desejado caminho da luz. E nesse sentido faz-se novamente revelar a grandeza extrema dos valores da maçonaria, não aqueles que estão nos ritos e instruções, sem suprimir sua serventia, mas os valores praticados, aqueles que deveriam no dia-a-dia nos mostrar o caminho a seguir, as vozes das luzes que devem nos clarear o pensamento e servir como guia fiel. 

 

“Homens livres e de bons costumes”, ao contrário do pretenso significado que a interpretação profana pode dar a essa expressão, ela é um fortíssimo requisito aos candidatos que se submetem ao desejo de ingressar em nossa ordem. Ser livre é bem mais do que não ser escravo, assim como bons costumes é bem mais do que ter um trato polido com quem se relaciona. Ser livre é poder exercer suas convicções, orientadas por uma moral sã, significa poder dizer “não” quando o interlocutor gostaria de ouvir o “sim”, significa não entregar-se aos desejos e paixões as quais podemos sentir-nos seduzidos no trabalho em loja ou em nossas negociações profanas. Ser livre é vencer nossas paixões e submeter nossas vontades, com progresso e continuamente, evoluindo a cada idade alcançada. 

 

Nascer para a Maçonaria despojado de metais, privado da visão, nem nu nem vestido, é uma provação que mostra a possibilidade de termos nossas paixões vencidas bem como nossas vontades submetidas, é uma amostra da plena força que temos, apesar de o flagrante tentar mostrar o contrário, assim como atravessar tempestades e caminhar ao som das armas inquietas de forma convicta e honrosa, é também uma prova de coragem e despojamento do próprio orgulho tão comum do homem profano. Orgulho esse que atordoa e desorienta até colocar-nos de joelhos novamente a prova diante de nossas paixões, do egoísmo de nossas vontades. Ao nos percebermos despojados de metais nos colocamos no mesmo patamar dos que não tem e precisam, situação comum, sobretudo num país em que muitos tem pouco e poucos tem tudo, um clichê, tanto quanto uma verdadeira chaga da sociedade. 

 

Mas como encontrar um caminho, que seja justo e perfeito? Viajando. Desbravando a Terra, eis a instrução capaz de criar os alicerces para edificar a moral humana. Viajar do Ocidente ao Oriente percorrendo aquele caminho escabroso onde reina o caos a insegurança de um mundo desordenado, passional, marcado por excessos primitivos. Ao Sul, a primeira parada desta jornada, uma porta, onde ao ser atendido, concederam-me passagem. No segundo trecho da viagem, ainda sentindo um pouco do peso gerado por um ambiente também carregado e ruidoso, porém desta vez com um tom agudo tal qual pontas de espadas a me perseguir, riscando próximo a minha vida, soando suave como um alerta de presença, e por instantes mais intenso, instigando um possível combate, aquele necessário quando se busca o estado de equilíbrio. Já distanciando-me, novamente uma porta, desta vez no Ocidente, onde percebi que boas intenções aproximavam-se através da purificação pela água. Na terceira viagem a serenidade, a moderação das paixões características da idade madura. Mas ainda uma outra porta a qual finaliza com purificação através do fogo que habilita-me a receber a luz da verdade. Após confirmar em alto e bom som a sinceridade de meus votos, mostrar a coragem desejada e empenhar-me perseverantemente na busca da luz, entreguei-me ao julgo daqueles que poderiam me dar a luz da verdade. Então recebi através das espadas empunhadas em minha direção, os raios de luz que instantaneamente ofuscaram minha visão e me apresentam de forma moderada uma nova perspectiva de vida. 

 

Finda a viagem, reconhecer sobre todas as coisas que ali estamos por crer em uma verdade comum, faço a ligação definitiva com um juramento e a consagração. Juramento do qual não há traço de arrependimento, e que se renova em loja a cada dia trabalhado, agora já paramentado, com o avental, tal qual todos os demais IIr., para nunca esquecer o motivo que aqui nos traz, o trabalho incessante na busca do aperfeiçoamento da humanidade, o trabalho que permitirá nos manter neste caminho distinto, tranquilo e belo, característico de lugares tomados pela disciplina e ordem, sinalizado pela moral. 

 

Para todas as coisas existentes entre o céu e a terra, além dos homens, os mais complexos certamente, uma infindável quantidade de símbolos, o Sol, a Lua entre outros astros e constelações necessitam ser desvendados, assim como as colunas e seus signos. Por outro lado os 3 pilares já apresentados de forma mais clara são eles a Sabedoria, a Força e a Beleza, difusores de conhecimento. Figuras alegóricas que nos cercam, ferramentas de trabalho capazes de transformar coisas brutas e disformes em peças finas, modelos de comportamento para qualquer Ir., se manuseadas com sabedoria e vigor. 

 

E nesse paralelo entre a vida profana e a vida sob a abóboda celeste existe uma relação de comparação inegável e permanente a qual na verdade é um dos objetivos de nosso trabalho, tornar feliz a humanidade pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela igualdade e pelo respeito a autoridade e a crença de cada um. Porém na infância, pela incapacidade de falar, por não ter uma visão clara, por não ter inteligência suficiente para discernir entre o bem e o mal e nem habilidade para manusear as demais figuras alegóricas como Esquadro, Compasso, Nível e o Prumo, ficamos submetidos aos cuidados e exemplos de nossos genitores, nossos iniciadores que precisam estar realmente revestidos de tolerância, de igualdade, e de amor, pois neles é que se fundamentará um ser maduro capaz da mesma forma ser um Maçom agindo pelo aperfeiçoamento da humanidade.  

 

A grande verdade comungada entre nós pode ser a chave daquilo que buscamos na vida profana e sobretudo na vida maçônica. Encontrar as razões e a moral de tudo, discernir entre o bem e o mal, pronunciar ou calar, tudo deve ser revelado pela inteligência que o Grande Arquiteto, Ente Supremo e Criador do Universo nos concederá ao longo da infância, adolescência e maturidade, tudo dirigido por uma moral sã, regada com o amor entre os Irmãos. 

 

Cícero Braz de Bem 

Membro efetivo da ARLS∴ "Alferes Tiradentes" Nº 20

Florianópolis - Santa Catarina - Brasil