Perseverança - Qualidade da Vida.

Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Frase popular.

 

 

Perseverança é certamente uma virtude importantíssima  na obtenção dos objetivos a que se propõe. É bem sabido que na vida, frequentemente, não se obtém sucesso em tudo que se almeja alcançar e se a um insucesso corresponde a desistência, pouca chance se tem de alcançar os objetivos desejados. Não é sem motivo que o título de Mestre da Perseverança é o ápice da série de graus que, no Rito Brasileiro, se denomina Loja Complementar. Entretanto cabe assinalar que este trabalho não é restrito aqueles que se dedicam a Rito Brasileiro, e sim a todos abrangendo Costuma-se dizer que o maçom, ao atingir o grau de Mestre atingiu a Plenitude maçônica.

Entretanto, muito ainda resta a aprender. O grau de Aprendiz é dedicado à simbologia, o de Companheiro ao trabalho e o de Mestre em sua significação superior, consagra o princípio de que a Vida nasce da Morte. Em sua acepção direta, exalta o cumprimento do dever, com o sacrifico da própria vida. Mas que é preciso para o fiel cumprimento do dever? Isto o recém exaltado mestre ainda tem que aprender. Esta a razão de o Mestre precisar de um certo tempo, com frequência à sua Loja Simbólica e a outras Lojas para poder desempenhar funções.

O modo mais natural de acelerar a aquisição de conhecimentos maçônicos é ingressar nos graus filosóficos, uma espécie de pós-graduação maçônica.

De modo análogo o jovem ao concluir uma universidade, completou o curso superior, tendo uma profissão definida. Entretanto, desde 1962, quando o Professor Coimbra, no Rio de Janeiro, criou o Mestrado em Química, que a pós-graduação no Brasil vem tomando vulto. De forma análoga, o mestre maçom pode desejar se aprofundar nos conceitos maçônicos e seguir uma pós-graduação, a pós-graduação maçônica, mais difundida no mundo é o que começa com o Real Arco, como nasceu nos Estados Unidos da América (não confundir com o sistema praticado na Inglaterra, que não tem características de  hierarquia de graus). Este sistema de aperfeiçoamento do homem em si, visando o aperfeiçoamento da humanidade, é constituído por uma série de graus dispostos hierarquicamente, em uma estrutura coerente  e sem duplicidade com o outro sistema, muito popular no Brasil, que é o Rito Escocês, Antigo e Aceito, com seus 33 graus.

Os dois sistemas trazem ensinamentos distintos, tanto que muitos sobem a Escada do Conhecimento pelos dois lados, Real Arco e Escocês. Em ambos se usam lendas, muitas tiradas da Bíblia e apresentadas como complemento da lenda do 3º grau.

Com efeito, na maçonaria tradicional usa-se a metodologia didática de apresentar lendas e destas lendas extrair um conteúdo filosófico. O Rito Brasileiro, ou na também chamada “maçonaria renovada” não se faz uso de lendas, o aprendizado sendo transmitido diretamente em discussões filosóficas sobre as virtudes básicas do maçom. Note-se que na maçonaria do Rito Brasileiro, não se faz apelo a um Livro da Lei específico, geralmente a Bíblia, como base do conteúdo dos graus, ficando, portanto adaptada a qualquer religião. Trata-se de um rito teísta, aceitando todas as religiões como caminhos válidos na busca do aperfeiçoamento do homem.

A Loja Complementar do Rito Brasileiro (no Rito Escocês Antigo e Aceito o correspondente chamam-se graus Inefáveis aos Graus de Perfeição) é composta de dois pentatlos. O primeiro termina no Grau 9, Mestre da Justiça; o segundo no grau 14, Mestre da Perseverança.

A perseverança é uma deliberada, energética e próspera atitude individual de insistir numa rota de ação independentemente dos possíveis obstáculos ou impedimentos que, por ventura, apareçam no caminho. Ela é uma natural capacidade humana que auxilia as pessoas no processo de conseguimento dos seus objetivos.

A perseverança, numa rota honorável, também pavimenta fascinantes trilhas que guiam o indivíduo pelas paisagens da superação, da inovação e do aprimoramento onde, a cada novo passo caminhado, existem inexprimíveis possibilidades, assim como renovações, pois a pessoa passa por um exuberante processo de modificação, assim como auto-valorização.

Ademais, ela é tão inerente a cada indivíduo como as asas são para os pássaros. Basta observar as crianças quando estão aprendendo a caminhar, quantas vezes elas caem antes do fantástico êxito de manterem-se firme, sem nenhum apoio externo? Imaginem se todo o bebê desistisse na primeira tentativa? Imagine se toda  criança parasse de tentar a aprender se ela não conseguisse repetir as primeiras palavras que ouvisse?

Indubitavelmente, na fase pueril da vida, a perseverança assemelha-se mais à um processo de repetição mecânica que induz à memorização da habilidade ou conhecimento expostos pelos familiares ou sociedade do que à uma resoluta idéia resultante de uma volição pessoal.

Mesmo assim, a cognição desta realidade que permeia a vida humana é de primordial importância para a vida de qualquer ser humano, pois, com o passar do tempo, normalmente afetados por uma miríade de circunstâncias exteriores, assim como internas, muitas pessoas, de alguma maneira, esquecem-se desta característica que lhes é nata e, como consequência, paulatinamente, acabam abdicando do processo de lutar pelo que elas desejam, acabam procrastinando o início de alguma atividade até o dia que o desejo tenha desaparecido da mente e, como resultado, aquelas veneráveis faíscas que instigavam, motivavam e inspiravam a pessoa, acabam ofuscando-se.

Ademais, depois de certa altura da vida, tais indivíduos concluem que, infelizmente, o tempo  já passou e que, consequentemente, já não é mais possível voar até a nuvem encantada do sonho pessoal. Então, normalmente segundo o “status quo” social, as pessoas casam-se e, quando os filhos aparecem, todos aqueles desejos não satisfeitos, em muitos casos, são transferidos para os descendentes. (Esta é uma das grandes causas dos conflitos entre pais e filhos, mas este é um assunto para outro dia).

 No entanto, tais pessoas esquecem-se que Arthur Rubinstein, aos 90 de idade, interpretava Chopin como ninguém. Oscar Niemeyer, esta imortal luz brasileira, mesmo depois de um século de vida continua presenteando o mundo com sua pródiga e arquitetônica imaginação. Nelson Mandela,  uma estrela de perseverança, passou 27 anos na prisão por acreditar num ideal de liberdade, igualdade e fraternidade. Na Índia, muitos Mahatmas (grandes almas) investem décadas de suas existências na busca do conhecimento sobre a real essência do homem. Além disso, neste fascinante planeta, existem milhares de exemplos que demonstram a magia da perseverança na vontade humana.

∙ Falou-se aqui no ser humano. Será que a “perseverança” é apenas uma qualidade humana? Exemplos de outros seres vivos demonstrando “perseverança” se encontram por toda parte.

∙ Do meu jardim vejo o João de Barro construindo sua casa em um poste. Vem a chuva de verão e sua casa é destruída antes de ficar suficientemente sólida. Ele a reconstrói e repetirá este processo até que não chovendo por dois dias, ela fique suficientemente sólida para não ser destruída.

∙ Conheço uma cadela preta que me adora. Mas ela não gosta de ficar presa no quarto. Se estou no quarto, lendo e fecham a porta ela fica deitada chorando e querendo sair, mas se está sozinha come a porta e vendo o insucesso em conseguir abrir, uma vez ela se jogou contra a janela quebrando vidro e saindo. O desagradável é que ela é zangada, e tem que ficar presa quando vem alguém de chapéu, destes que os jovens costumam usar com a pala para trás, (ela odeia) ou pega uma vassoura. Ela ataca.

∙ Tenho uma fonte no meio da sala e tinha umas tartarugas nela. Elas podiam entrar e sair da água. Havia uma que preferia explorar a casa. Tentava incessantemente escalar a mureta que cercava a fonte. Caí várias vezes até que conseguia. Era persistente na busca de seu objetivo de “Fugir da Fonte” e explorar a casa. Dando falta dela ia encontrá-la debaixo de um móvel. Depois levei todas para o jardim, com uma fonte e tudo. Ela cismou de vir nadar na piscina! Como chegava lá, não sei. Felizmente acabou e a piscina ficou só para humanos.

∙ E até entre os vegetais encontra-se exemplos do que pode ser chamado de “persistência”. Pense em uma árvore que mesmo sendo arrancada, várias vezes, novamente volta a crescer. A árvore, respondendo à sua natureza, persiste em crescer naquele local. É válido afirmar que este comportamento de vários vegetais (o chardom que geralmente não se deseja em um gramado) é intrínseco à sua constituição que permite que um pequeno pedaço de raiz produza uma nova planta. E porque não considerar que “persistência” não é apenas uma virtude, mas uma propriedade da vida. Propriedade dada no momento da criação, pelo Supremo Arquiteto do Universo e que foi dada para assegurar a vida.

Como foi apresentado, os benefícios da perseverança, assim como de sua natureza, é inerente à própria existência de seres vivos. No caso dos humanos é na perseverança que se  encontra as energias, as volições e a coragem para ir em busca dos seus sonhos, independentemente da idade e da situação em que se encontra e, como resultado, tal indivíduo usa da sabedoria que lhe foi dada com sua própria vida para com toda força de que dispõe, decorar suas ações com uma encantadora, iluminadora e inesquecível obra de arte pessoal.

* Jorge Muniz Barreto

ARLS... Lealdade nº3058, GOB-SC, Rito Moderno - ARLS... Delta Brasileiro, nº3691, GOB-SC, Rito Brasileiro.

Entre em contato com o autor do artigo: muniz.barreto@gmail.com


Fonte: JB News.