Política e Maçonaria

Durante muitos anos, muitos acreditaram que a Maçonaria é uma instituição essencialmente política, que pretende governar os povos e procurar a solução dos seus problemas.
Surpreendidos com o fato de a Maçonaria não exercer essa intensa ação política que lhe é atribuída no mundo profano, alguns se perguntam, desiludidos, qual é então a verdadeira missão da Ordem, e se é possível que possamos viver absortos no estudo de questões éticas e filosóficas enquanto a humanidade sofre as consequências de sua organização defeituosa.
Eles acreditam que isso significa um abandono dos antigos e verdadeiros princípios maçônicos para se dedicar a questões egoístas e desconectadas dos sentimentos e das necessidades da coletividade.
Não acreditamos que aqueles que pensam assim estejam certos.
A Maçonaria não é, na verdade, uma instituição política que pretenda governar ou dominar o poder civil com o objetivo de fazê-lo servir a determinadas convicções. Não é alheia, nem poderia ser, às grandes convulsões das sociedades, mas, como instituição essencialmente filosófica e moral, busca a verdade que deve guiar, antes do braço e da palavra dos homens, o seu espírito e a sua ideia.
Ela está convencida de que é inútil, quando não prejudicial, apresentar ideias e palavras que carecem de fundamentos sólidos e que significam apenas ligeiras variações dos remédios tantas vezes propostos e tantas vezes testados com um fracasso quase inalterável.
Antes de agir e antes de estar em condições de conduzir os outros homens, o homem deve ter plena consciência e domínio de si mesmo, e sua mente deve estar iluminada e sua vontade guiada por alguma convicção central que lhe permita apreciar, no conjunto, a harmonia da vida, a sabedoria do misterioso plano que a rege e a missão que cada homem desempenha em sua passagem pela Terra.
Seus ensinamentos abrangem, é verdade, a totalidade do conhecimento humano, mas não pretendem conhecê-lo em detalhes, e sim descobrir as leis fundamentais do Universo. Ele ensina com poucas palavras, mas orienta seus adeptos com fatos tangíveis e invariáveis, representados por sua organização e evocados por seus símbolos.
O ensino é recebido por graus, o que significa que, embora os homens sejam iguais em sua essência, diferem em suas aptidões e em seu desejo de aperfeiçoamento, e que é loucura considerá-los absolutamente iguais.
Concluída a tarefa de instrução em um grau e cumpridos todos os deveres que este impõe ao adepto, o irmão está em condições de receber uma promoção e adquirir certos direitos.
No entanto, ele não reconhece posição social nem fortuna e leva em conta apenas o mérito e a verdadeira essência dos homens para julgá-los.
Não está claramente expresso assim um plano político e de organização social no sentido mais elevado da palavra?
Democraticamente em sua essência, hierarquicamente em sua função, como poderia pregar fora o que não prega dentro de seus templos, nem se entregar à volubilidade das palavras ou ao que expressa com fatos?
O caos não deve ser substituído pela ordem, nem o descontentamento pela felicidade, se não houver melhorias e se não for levada a convicção necessária ao elemento básico da sociedade, que é o homem.
A sociedade humana, organizada com base no mais amplo exercício dos direitos que cada um se atribui ou acredita ter, não conseguiu saciar seu descontentamento e já está passando por tentativas e tropeços. As ideias e as soluções são sociais, são econômicas, mas não são morais, ou seja, não tendem a transformar a consciência do homem, a dar unidade às suas convicções, esperança aos seus anseios, mas uma esperança que enalteça seu espírito e fortaleça sua vontade.
A solução salvadora deve vir com uma nova verdade que faça os povos compreenderem que a vida não é o exercício constante de um direito, mas o cumprimento perpétuo de um dever.
Fonte: Revista Maçônica de Chile
Nº50 - Ano V - Julho de 1928
Tradução livre: Juarez de Oliveira Castro



