Pontes e Escadas - Uma reflexão sobre serviço, humildade e elevação
São tantas as invenções humanas que mal conseguimos nomeá-las — e muito menos compreendê-las em sua totalidade. A cada instante, novas ideias nascem, estruturas se formam, caminhos se abrem. Mas entre todas, duas criações me tocam de forma especial: a ponte e a escada.
A ponte liga margens, aproxima distâncias, vence abismos. A escada nos leva para o alto, degrau após degrau, conduzindo-nos a novos patamares de visão e consciência. Ambas me encantaram na infância. Continuaram a me fascinar na juventude. E ainda hoje, me inspiram como símbolos vivos do que significa servir.
Mas há um encantamento ainda maior: quando seres humanos se fazem ponte ou escada para outros seres humanos — ou até para outros seres vivos. Há quem use o corpo como estrutura, quem use a mente como travessia, quem use o coração como apoio. Ponte, quando amplia o alcance horizontal do saber. Escada, quando aprofunda a vertical da sabedoria.
Entre os que se dedicam a essa arte silenciosa de sustentar o outro, destaco o professor — sobretudo o do ensino primário. Ele é quem oferece os primeiros degraus. Ele é quem ensina a caminhar. Muitas vezes, conduzindo seus alunos a alturas que ele mesmo jamais alcançará. Ele foi ponte. Ele foi escada.
Ser ponte: a arte de ligar
Ser ponte é aceitar o papel de ligação entre margens que, sem ajuda, jamais se tocariam. Ser ponte é encurtar caminhos, oferecer passagem, abrir trilhas sobre abismos.
O ser ponte:
Traduza o saber e a experiência com clareza e empatia;
Escuta com abertura e acolhe com paciência;
Facilita o encontro entre ideias, gerações, culturas e afetos;
Constrói espaços onde o outro se sinta seguro para atravessar.
Na educação, na amizade, na fraternidade: quem é ponte não se vangloria por ser passagem. Alegra-se ao ver o outro chegar.
Ser escada: a nobreza de sustentar a ascensão
A escada é o símbolo do progresso silencioso. Não se move. Não conduz. Ela está ali para ser escalada. Ser escada é permitir que o outro suba — mesmo que seja sobre teus ombros.
O ser escada:
Renuncia à vaidade para permitir o crescimento do outro;
Suporta o peso das hesitações de quem sobe;
Reconhece que sua missão não é o topo, mas o sustento;
Encontra grandeza em ser degrau.
Ser escada exige firmeza, mas sobretudo humildade. A humildade de quem sabe que não precisa ser visto — apenas ser essencial.
Além do professor: o chamado universal
A metáfora é clara: ser ponte ou escada não é exclusividade de uma profissão. É um chamado ético e humano.
O pai e a mãe que sustentam os passos do filho.
O amigo que sustenta no momento da queda.
O líder que guia o grupo sem buscar o trono.
O cuidador que levanta quem já não pode caminhar.
Há os que se fazem ponte com a razão, outros com o afeto. Há os que oferecem o corpo, os que oferecem a história. Todos têm algo em comum: entregam-se. E essa entrega é, ao mesmo tempo, discreta e sagrada.
Num mundo que valoriza o ego e o brilho, escolher ser ponte ou escada é um gesto de rebeldia espiritual. É um ato de Amor.
Conclusão: o templo invisível
Ser ponte e ser escada é, em essência, viver para o outro sem se apagar. É entender que a verdadeira realização pessoal pode estar em possibilitar a elevação alheia. E isso não é renúncia. Isso é plenitude.
A ponte se realiza na travessia. A escada se completa quando alguém a sobe. E aqueles que foram travessia ou sustento — jamais serão esquecidos. Vivem na memória daqueles que, graças a eles, chegaram mais longe.
Estes são os verdadeiros construtores do templo invisível da humanidade.
São maçons — com aventais ou sem eles — iniciados não apenas em rituais, mas nas atitudes perante a vida.
São como o próprio templo: não um fim em si, mas um meio, um caminho silencioso que conduz à Paz e ao Amor.
Hiran de Melo
Presidente da Excelsa Loja de Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.
Descrição da Ilustração
A ilustração capta, com delicadeza e beleza, a essência simbólica da ponte e da escada. No centro, uma ponte graciosa une duas margens distantes — metáfora viva da conexão entre ideias, pessoas e saberes outrora isolados.
De uma das margens, uma escada se ergue suavemente, convidando ao progresso, à elevação. Figuras humanas cruzam a ponte e sobem a escada: umas conectam, outras ascendem — todas em movimento de construção mútua.
A paleta serena e acolhedora reforça a ideia de harmonia, apoio e transcendência. A imagem nos sussurra que, ao nos fazermos ponte e escada para o outro, erguemos juntos o templo invisível da humanidade.