Qual deve ser o trabalho do Aprendiz

 

Qual deve ser o trabalho do aprendiz, senão o de aprender com os mestres a dar seus passos regulares na senda que conduz à luz do supremo ordenador dos mundos, ao plano espiritual onde está construído o mais perfeito de todos os templos?

Assim, à medida em que o aprendiz vai ampliando seus conhecimentos, fortalecendo-se com a convivência fraterna e os trabalhos da oficina, vão se revelando a ele o concreto oculto pelo subjetivo; a verdade oculta pelo simbolismo; e, à semelhança de Saulo de Tarso na estrada de Damasco, caem-se-lhe dos olhos as escamas que o impedem de contemplar a luz da verdade e do conhecimento, por onde se pode chegar à chave da verdadeira vida, anseio de todo maçom fiel porém acessível apenas aos que conseguem alijar de si todo pensamento que não esteja voltado unicamente para a justa e perfeita união com a vontade do Grande Arquiteto do Universo e, por essa mesma vontade, com toda a fraternidade universal.

Tal como a obra reflete seu construtor, assim deve o aprendiz refletir as lições de seus mestres, as quais tem que buscar com o ardor de um peregrino.

Buda – o iluminado – há dezenas de séculos, disse a um discípulo que lhe pedia a síntese de toda sua sabedoria em apenas um verso:
“cessa de praticar o mal; aprende a praticar o bem; purifica teu coração. Tal é a religião dos iluminados.”

Esta, também, deve ser a procura do aprendiz, mesmo sabendo que a verdadeira compreensão entre as criaturas humanas só será plenamente atingida quando se elevarem em definitivo aos planos mais puros do espírito, além da carne e da matéria imperfeitas.

O reflexo do Grande Arquiteto do Universo deverá estar sempre em todo aprendiz, imagem e semelhança dele e de seu verbo materializado. Essa imagem é uma expressão ou continuação do grande Arquiteto pois ele é a luz que transporta a imagem e enquanto o aprendiz for capaz de receber e refletir essa luz, será sempre parte consubstancial dela e se identificará permanentemente com o criador. O grande pensador, Emerson, em seu ensaio sobre a super-alma, diz:
“não há na alma um limite ou vale onde Deus – a causa – cesse e o homem – o efeito – comece.”

Assim, é fundamental, inclusive para o maior fortalecimento da fraternidade maçônica, que o aprendiz empreenda todos os esforços no sentido de ser cada vez mais capaz de receber e refletir a luz dos planos superiores onde o espírito criador continuamente deixa correr seu eterno fluxo ordenador. Desses planos veio o homem e de volta para ele o impulsiona seu espírito, numa gradação sucessiva que o devolva ao ponto de origem mais enriquecido com as experiências acumuladas durante o processo, mais puro e incontaminado das misérias deste mundo imperfeito.

Ao longo de sua jornada maçônica terrena, deve o aprendiz cristalizar em si e em suas obras a certeza de que sua vida e todas as vidas são fundamentalmente uma só e que ninguém vive para si apenas. Todo homem é um ser em relação, feito para os demais e dependente dos demais e jamais será humano a não ser em conjunto.

É preciso que, por etapas sucessivas e graduais o verdadeiro aprendiz, aquele em que o espírito maçônico atingiu o nível do sacramental, se aperceba do mundo material; depois, do mundo da vida ou consciência para poder, finalmente, elevar-se até o conhecimento do seu verdadeiro ser. Ele deve ser como as pedras de um templo, preparadas de antemão para a edificação, como disse Santo Inácio, aquele que em criança sentou-se ao colo de nosso irmão maior, Jesus Cristo, numa notável passagem maçônica:
“sois erguidos às alturas pelo instrumento de trabalho do Cristo – a cruz – usando como corda o Espírito Santo e como guindaste a vossa fé, sendo o amor o caminho que conduz ao eterno.”

Pode o aprendiz sentir nessa lição a responsabilidade que lhe recai sobre os ombros. É, ainda, pedra rústica mas traz dentro de si o esboço da pedra polida e angular sobre a qual se edificará o homem livre. Precisa, pois, refletir intensa e profundamente porque está neste mundo. O Grande Arquiteto do Universo assim o quer, pois se assim não fosse aqui não estaria. Ele veio para o trabalho de construção do templo do Grande Arquiteto do Universo, da morada da fraternidade eterna.

E para essa tarefa formidável, conforme ensinam as instruções do grau 1º, tem os instrumentos de trabalho necessários colocados, por milenar sabedoria, nas mãos das três principais Luzes da Loja: a Régua de vinte e quatro polegadas, o Maço e o Cinzel. Com a Régua, conhece a justa medida; com o Cinzel, sente; com o Maço, age com perfeição. Através do sábio emprego desses instrumentos de trabalho, que são uma representação simbólica da Ordem e das forças inerentes à obra da criação, atingirá o aprendiz o estágio da pedra polida e pronta para o uso, do homem liberto das paixões e dos preconceitos.

Quando da iniciação foi dada ao aprendiz a luz. Mas, que luz foi essa? Aquela que rodeia os irmãos em Loja e lhes ilumina os trabalhos, ou aquela que, emanada da suprema e eterna fonte o deverá orientar para a verdade e a retidão, para a consciência de que tem maior sentido e utilização no plano divino do que jamais poderia imaginar? Cristo não disse,:
“conhecereis a verdade e ela vos libertará.”?

Em um antigo ritual da maçonaria, trolhava-se um irmão com a seguinte fórmula ritualística:
“de onde vindes como maçom? Do ocidente! E para onde vos dirigis? Para o oriente! E o que vos induziu a deixar o ocidente e dirigir-vos para o oriente? Buscar um mestre e dele obter instrução!”
É aos mestres, portanto, que o aprendiz deve buscar, para se colocar sob as luzes de sua experiência e para que seja ensinado a dar corretamente seus passos na arte real; e é fraternalmente que deve buscar essa instrução, mas sem esquecer-se que também deve, por si, aprofundar-se no estudo do pensamento divino, eis que as incontáveis galáxias e formas de vida do universo nada mais são do que a materialização da mente cósmica.

Na maçonaria aprende-se que os rituais e simbolismos trazem em seu bojo um sentido, um conceito. Cada maçom é um peregrino em busca do portão guardado pelo querubim da Espada Flamígera, como descrito no Livro da Lei. Mas, ninguém o atingirá jamais se não se elevar acima do externo e do material, se não se desapegar do continente para mergulhar no conteúdo, se não tiver raiado dentro de si a exata compreensão da razão pela qual está neste mundo.

Diz a velha sabedoria popular que por respeito ao santo beija-se a imagem; por respeito ao que significam, reverenciamos nossos rituais e simbolismos mas é forçoso que desde os primeiros passos o aprendiz os encare como um meio e não um fim em si mesmos, para que não se torne mero repetidor de toques, sinais e palavras e sim um digno aspirante à luz de onde veio e com a qual se refundirá um dia, num dos muitos caminhos do tempo.

Finalmente, como verdadeiro maçom, deve o aprendiz manter seus olhos espirituais para além das colunas do templo, voltados para os níveis superiores onde domina a verdade e nos quais todo obreiro livre anseia repousar ao terminar seu último trabalho.

Sustentando nossa Loja vemos as três grandes Colunas assim conhecidas Sabedoria, Força e Beleza, que nos remetem aos princípios básicos que devem dirigir o aprendizado maçônico, respectivamente:
Sabedoria – para através do discernimento, dar orientação aos nossos atos e pensamentos.
Força – que deve ter todo o maçom para superar as adversidades do mundo profano e aprofundar-se mais e sempre nos augustos mistérios da maçonaria.
Beleza – item importante e que deve estar sempre muito bem enraizado no coração de todo o maçom, para que sejamos instrumentos de proliferação do amor emanado através do Grande Arquiteto do Universo.

Descobrimos também no interior de nossa Loja as luzes, que dentre elas, o Sol representando o Grande Arquiteto do Universo. Está sempre simbolizando toda a glória e esplendor do criador, aquecendo-nos com seus raios energizantes e curativos, não apenas do corpo, mas principalmente, da alma.

O Pavimento Mosaico que, com seus quadrados brancos e pretos, remetem o maçom à humildade que lhe deve ser inerente, perante as mais variadas representações da fé no criador, orientando-nos para o caminho da tolerância e desapego aos preconceitos quando nos deparamos com conceitos diversos de religiosidade mas, que não representando nenhuma afronta às leis maçônicas, devem ser respeitadas e vistas como a exteriorização do amor ao Grande Arquiteto do Universo.
Esta tolerância, deve se dar apenas no sentido de desapego à conceitos pré-concebidos que nossa vivência no mundo profano eventualmente nos faz incorporar, e o respeito às religiosidades humanas tem a finalidade de busca a uma harmonia universal.

A Orla Dentada, simbolizando o princípio da atração universal a unirmos cada vez mais, nos mais variados níveis de convivência social, quer seja em nossos círculos de amizade, de família ou de fraternidade em torno de nossa Loja e com nossos irmãos em todo o mundo, através do amor fraternal.

O Esquadro e o Compasso, cujas pontas estão ocultas, nos lembra de que, enquanto não estiver completo o nosso trabalho de desbastamento da Pedra Bruta jamais poderemos fazer uso deste.

Foram-nos apresentadas as joias móveis que são:
Esquadro, representa a retidão que o Venerável Mestre deverá ter em seus trabalhos e sentimentos perante seus obreiros e a Loja.

O Nível, decorativo do 1º Vigilante tem em sua simbologia o direito natural, que é a base para a igualdade social, e que dele derivam todos os direitos.

O Prumo, que orna o 2º Vigilante simboliza o desapego ao interesse ou à afeição no trato com os obreiros.

O Nível e o Prumo se auto-completam e devem sempre co-existir para que através da justiça, imparcialidade e observância dos regulamentos maçônicos, os homens estejam sempre em posição de igualdade para responder ou se valer de seus atributos como maçons na busca da liberdade e justiça sem qualquer facilitação ou pendências para qualquer um, sob pena de, em havendo qualquer deferência à pessoa, ficar abalado o equilíbrio que deve haver para todos em todo o mundo.

Tomamos conhecimento também das joias fixas que decoram nosso templo que são:
A Prancheta da Loja, utilizada pelo Mestre na orientação dada ao Aprendiz rumo ao aperfeiçoamento na real arte maçônica.

A Pedra Bruta, em cuja superfície o Aprendiz deve trabalhar e polir até ser considerado obreiro competente e capaz, quando do julgamento do Mestre determinando estar a Pedra Bruta polida. Ela representa o obreiro, em seu estado anterior ao de sua entrada em nossa Augusta Instituição, cuja inteligência, costumes e atos estavam desfocados pela convivência no mundo profano.

É através do trabalho como Obreiro e do seu comprometimento e entrega aos nossos sereníssimos regulamentos e regras morais, de virtude e eterna vigilância à vontade do Grande Arquiteto do Universo que o Aprendiz Maçom poderá atingir a qualidade de Pedra Polida, para então poder se tornar um membro produtivo e um amplificador da doutrina maçônica.

A Pedra Cúbica é a obra acabada do homem no fim de sua vida, que através do labor e da exaustão, conseguiu atingir a plenitude da virtude, piedade, e do amor.

A Pedra Cúbica, ou pedra polida deve ser sempre o objetivo do maçom e deverá ser o porto ao qual todos nós deveremos encaminhar a nau de nossas vidas à partir de agora.

Este porto, cujo solo tem origem divina, será a recompensa de uma vida de entrega, desapego e trabalho na construção de templos à virtude e masmorras ao vício e às trevas, que infelizmente, permeiam nossas vidas, mas que são sempre vencidas, quando em contato com a luz e a grandiosidade do Grande Arquiteto do Universo.

Será através das simbologias e orientações apresentados que certamente iremos direcionar nossos passos rumo ao nosso aperfeiçoamento humano, e também de toda a humanidade.

Laércio Bezerra Galindo
Mestre Maçom (Instalado)
ARLS∴ “Amparo da Virtude” Nº 0276
Grande Oriente de Pernambuco - GOB