Quem é o nosso Próximo?

“Existem dois modos de se propagar a luz: ser a vela, ou ser o espelho que a reflete” (Edith Wharton).

Comportamento maçônico – O comportamento é um reflexo da personalidade e, obviamente, pode ser por meio do conhecimento (instrução) alterado; moral é o elemento básico do comportamento; a sociedade espera que seus membros aperfeiçoem o comportamento; normalmente, o comportamento tende a seguir pelo caminho do bem; em sentido inverso, o mau comportamento passa a ser um desvio de conduta. Com a iniciação maçônica a instituição não pretende transformar o homem profano em um ser perfeito, diferente dos demais, criando uma figura especial.

Obviamente, como acontece nas religiões, o indivíduo que se dedica a amar o próximo exteriorizará um comportamento social, honesto, confiante e cada vez melhor.

No entanto, o comportamento maçônico difere do comportamento profano. A diferença reside no fato de o maçom viver em Loja e conviver com outros maçons, em uma permuta constante de suas virtudes que afloram do seu interior espiritual. O irmão que ama seu irmão, obviamente, o atenderá nos momentos de necessidade.

Diz o sábio ditado: “Dize-me com quem andas que te direi quem és”. O maçom deve ter sempre presente o fato de que pertence a um grupo seleto, formado por iniciados. O seu comportamento deve ser excepcionalmente bom, em todos os sentidos.

Ao maçom não é lícito desconhecer a missão de auxiliar o próximo quando se identifica com os ensinamentos maçônicos. Como maçom é induzido a se dedicar à felicidade dos semelhantes, não somente porque a Razão (1) e a Moral (2) nos impõem esta obrigação, mas por que esse sentimento de solidariedade nos fez Filhos Comuns do Universo e Amigos de todos os Seres Humanos.

NOTA – Razão (1) – A razão é a “liberdade do pensamento” que elabora o conhecimento, após momentos de meditação. A Maçonaria, que é filosoficamente eclética, usa a razão com equilíbrio, aliando-a ao significado esotérico dos símbolos.

Os homens que são governados pela razão, isto é, os que buscam o que lhes é útil sob a condução da razão, não cobiçam para si mesmos nada que não desejem também  para os outros homens, e assim são justos, de boa-fé e honestos.

Moral (2) – A Moral significando “costumes”, “conduta”, “comportamento”, com as características de que os atos não devem ferir a suscetibilidades de outrem.

A Moral apresenta-se sob vários aspectos: Religiosa ou Teológica, que diz respeito ao cumprimento dos preceitos divinos, ou seja, é o comportamento que beneficia a coletividade.

Moral individual é o comportamento orientado pela razão; essas espécies de moral devem andar juntas.

A Moral Maçônica apresenta-se um pouco diferente, embora compreenda as modalidades referidas. É a arquitetura moral desenvolvida em sua jornada maçônica.  Ela não diz respeito ao bom costume, que é o comportamento exigido da criatura humana.

A Maçonaria vai além do comum: exige entre os Irmãos uma dedicação de comportamento que sobrepuje as obrigações comuns. Não basta um bom comportamento; esse deve ser acompanhado por um conjunto de virtudes, como a tolerância, o amor, a dedicação, o sacrifício e da disposição de servir e trabalhar como servo de uma justa e boa causa em favor da humanidade.

A Moral deve ser sempre exercitada, para que surta os efeitos desejados. Quantas oportunidades temos de atender ao próximo. Na família poucos são aqueles que não têm o dependente de maior carinho e atenção? Quantos adolescentes, nossos próximos, parentes, vizinhos ou conhecidos, convivem em intimidade com o problema da violência, do álcool, do crack e outras drogas ilícitas?

A parte humana do ser é propensa à prática da maldade, da frieza e do egoísmo; a parte divina, porém deve sufocar esse instinto que tanto prejudica a nós próprios e aos demais.

A Caridade - Vivemos num mundo cada vez mais competitivo, em que muitas vezes a caridade, que muitos traduzem por amor, é deixada em segundo plano.  A época atual é também de acolhida cada vez maior da mensagem maçônica, fundamentada na tolerância e solidariedade, é um fator a comemorar. É algo inspirador nestes dias de falta de solidariedade, violência e egoísmo. Para que desperte no maçom o sentimento de altruísmo e solidariedade ao próximo e aos necessitados, a Maçonaria proclama em seus Princípios e Postulados praticar a Caridade e a Beneficência de modo sigiloso sem humilhar o necessitado.

Além do exercício individual da caridade, a Loja Maçônica em conjunto, por intermédio do hospitaleiro, faz de forma discreta a caridade, em duplo aspecto; dando os óbolos recolhidos em cada sessão aos necessitados; dando o exemplo, ensinando as virtudes, condenando os vícios, dando moral a quem precisa, buscando a aproximação para amenizar o sofrimento.

Deus, nosso Pai, coloca os necessitados sempre em nossos caminhos, perto de cada um de nós para facilitar a solidariedade e a bem-aventurança de servir ao próximo. O concurso propiciado pela caridade fraternal, repartindo os bens da alegria, a ajuda de qualquer espécie, o ombro amigo, estaremos levando a palavra de conforto, procurando amparar o irmão agoniado que pede socorro. Não procuremos motivos para escusar-nos.

A caridade não espera encontrar o próximo em farrapos para descobrir sua miséria; nosso próximo, afinal de contas, pode e deve ser amado mesmo que não seja infortunado.

Compreensão – Conter em si. Perceber os conceitos que se pode compreender. No sentido moral, a compreensão apreende conjuntamente não só um ato em si, mas as motivações, os agravantes ou atenuantes que o determinaram. A faculdade de compreender é fator importante para bom relacionamento entre os homens. O espírito de compreensão é desenvolvido por todos os meios pela Maçonaria, mas o esforço pessoal é fator indispensável para que seja mantido o clima de paz e de concórdia entre os obreiros de uma Oficina.

Amor Fraterno - Entre si, os maçons cultivam o amor fraterno como se fosse uma crença; trata-se de uma postura mística, uma vez que sem o afeto, o respeito e a amizade, nenhum corpo maçônico poderá sobreviver.

Essa amizade revertida em amor produz seus frutos, que são a tolerância, a percepção, o afeto e a sinceridade, entre outros. Um aperto de mão caloroso, um abraço afetuoso, palavras gentis, compreensão, o aceitar conselhos, o aconselhar, enfim, o comportamento essencialmente familiar faz do maçom um ser humano seleto.

Seremos conhecidos para sempre pelo amor que oferecemos. Abramo-nos ao amor e o amor atenderá, embora reconheçamos as próprias limitações e dificuldades, conforme esperamos que façam conosco, quando for a vez de nossa necessidade.

As mães sofrem a acusação de dar preferência por aquele filho, tendo-o como “favorito”, quando na verdade ela sente e oferece a dosagem maior de amor especificamente para “o próximo mais necessitado”, procurando amparar o filho mais agoniado que lhe pede socorro. Estará ao redor do filho que dela mais precisa, intervindo por ele e o esperando com braços abertos ao final do caminho, às vezes, até rompendo regras e caminhando ao lado ou  levando-o carregado às costas.

O amor quebra barreiras, que justifica certa porção de estima e confiança, une facções, destrói preconceitos, cura doenças... Não há vida decente sem o amor.  E é certo, quem ama é otimista e muito amado e vive a vida mais alegremente...

Concluindo – O ato de prestar auxílio ao próximo não constitui em si um dever, mas o reflexo de uma personalidade bem formada. Não importa que haja ainda muito por fazer. De tudo o que fica são as lembranças de nossas ações; é o amor de Deus e dos verdadeiros amigos que nunca nos abandonam; são aquelas pessoas desconhecidas que se preocupam com o próximo; é a fé que todos nós temos e que renova a esperança; assim, sempre temos algo a dar àqueles que nos cercam em aflição. O que não devemos é permitir que alguém se afaste de nós sem sentir-se melhor e mais feliz.

Assim, deduzimos que NOSSO PRÓXIMO SÃO TODOS OS NOSSOS SEMELHANTES!

 

* Valdemar Sansão