Religação

 

A Maçonaria fomenta o desenvolvimento de bons conceitos de vida em sociedade quando constrói a sensibilidade para com a dimensão mística que tira o homem de sua condição de simples predador da natureza.

 

Ao abraçar a alimentação Metafísica do homem no Deísmo, filosofia naturalista que crê na criação do universo por inteligência, a Maçonaria Especulativa cria meios ao homem de religar-se diretamente, sem intermediários, ao Criador dos Mundos. O objetivo das religiões é intermediar a religação do homem com o divino, através do que obtém poder sobre os povos. O objetivo da Maçonaria não é acabar com as religiões, mas livrar o homem do obscurantismo e fanatismo de modo que possa evoluir em liberdade.

 

O Universo e sua crescente complexidade é a definitiva prova de que existe um Princípio Criador inteligente que dota as criaturas de livre-arbítrio. Isto é suficiente à busca do maçom na religação com o divino. Tal posição é humilde e destituída do raciocínio de a Terra ser o centro do Universo e do Antropocentrismo, de o homem ser a única criatura eleita, predileta e exclusiva da divindade. O Princípio Criador revela-se nas leis da natureza e não se intromete na sequência de fatos da natureza nem na vida da criatura. O tempo e seus eventos correm por conta de leis fixas no princípio. O ato criativo leva em conta a mais ampla liberdade de cada criatura tomar suas próprias decisões e responder pelas consequências. O Princípio Criador apenas deu partida e regulamentou os processos naturais e a correspondente evolução em graus de complexidade crescente.

 

No respaldo da Filosofia Deísta define-se que o homem que acredita numa divindade que interfere nos assuntos da natureza ou da criatura não é livre. Para promover a liberdade, a Grande Loja Unida da Inglaterra se declara deísta. Todo maçom se alinha com esta filosofia quando na iniciação vê a Luz, a capacidade de usar o próprio entendimento sem a direção de outro (do alemão Aufklärung, em português, Iluminação: Kant). A Iluminação significa deixar de se arrastar submisso na confusão dos doces e fáceis dogmas revelados pela religião, onde Voltaire declara que na incapacidade “é mais fácil simplesmente aceitar as declarações oficiais”.

A postura isenta do maçom com respeito à prova científica da existência de deuses o leva a não ser qualificado adepto da Teologia Natural, parte da filosofia da religião que tenta provar a existência de deuses e seus atributos. A Maçonaria não discute ou debate a este respeito porque não é de seu interesse ou competência. A vantagem disso é de o maçom não ser qualificado “ateu natural”. Ele simplesmente não discute com teístas. É Deísta por opção até que se manifeste a Luz espiritual que revele a verdade neste aspecto. Fugir destas elucubrações de tentar explicar deuses pela razão ou em resultado de experiência é assunto que fica ao cargo das religiões teístas com sua Teologia da Revelação.

 

O maçom também não segue a Teologia Transcendental que exige a concepção racional a priori (Kant) ou a Filosofia Vedanta que mergulha na comprovação científica de deuses e conceitos.

 

A especulação maçônica normalmente não envereda no Eruditismo, ostentação ou mania de erudição tão comum nos meios intelectuais. O maçom deixa de ser escravo do ego. Pratica a especulação filosófica maçônica e busca alcançar a Verdade. O Eruditismo esconde a religação em meio a complexos pensamentos e verbosidade ardilosa que mais confundem que esclarecem. O erudito religioso, em razão da crescente necessidade prosélita de domínio político, descarrega seu fardo teológico carregado de dogmas inexplicáveis, complicados e recheados de Eruditismo proposital, de modo a definir exclusividade sobre as coisas divinas existentes naturalmente dentro de cada indivíduo.

 

A viagem do maçom para dentro de si mesmo depara-se com a assinatura do Criador dos Mundos ao descobrir lá dentro um universo microscópico semelhante ao grande universo de fora. A manifestação divina está dentro da criatura e nunca teve necessidade de religação. A religação das religiões é geradora de massas de manobra para o vil sistema humano de domínio e exploração que esmaga o homem que não aprendeu a andar sem o entendimento de outro.

 

Aprender a andar com os próprios recursos exige aporte de imensa responsabilidade: primeiro para si mesmo e depois para aqueles que ainda não sabem caminhar pelo Universo sem a direção de outros. Libertar o homem em sentido lato é a linha mestra da Filosofia Maçônica. A atividade religiosa implica na religação consigo mesmo, o que é absurdo: não há necessidade de religação. Desligar o homem do Criador pelo pecado, gerando culpa, é interesse de poder das religiões. A manifestação divina está em todo lugar. Principalmente naquilo que se encontra presente dentro de toda criatura do Universo, o sopro de vida, o ato de amor que permite a percepção do universo pela inteligência. Tudo está interligado e dispensa religação. O Grande Arquiteto do Universo está em permanente ligação com suas criaturas. É só aprender a andar! Deslocar-se livremente pelo universo e modificar aquilo que as leis naturais permitem.

 

Charles Evaldo Boller
Aug.·. e Resp.·. Loj.·. Simb.·. Apóstolo da Caridade, nº 21.
Grande Loja do Paraná

 

O.·. de Curitiba-PR.