Revolução Humanitária

Embora a sociedade em geral tenha uma ideia errada sobre a violência, pensando que ela tem aumentado nos últimos quatro ou cinco séculos, o que aconteceu foi exatamente o contrário.

Steven Pinkler, autor de “Os Anjos Bons da Nossa Natureza”, vasculha a história da humanidade para comprovar tal informação. No livro ele faz uma trajetória desde os primórdios da vida humana na terra, comentando sobre as guerras gregas, o império romano, as Cruzadas, os grandes conflitos na China, Índia, Oriente Médio e Europa.

Analisa também a tragédia que foi a colonização das Américas e da Austrália, a escravidão e a servidão.

Também relata o prazer que a matança nas arenas romanas provocava no povo. Uma reação semelhante ao comportamento do público que comparece hoje em dia a um jogo de futebol. Tínhamos ainda as fogueiras que queimavam judeus, hereges e bruxas e as mortes de pessoas em câmaras de tortura de formas atrozes.

Nem os animais eram poupados. A matança de animais em volta do império romano era tão bárbara que muitas espécies ficaram ameaçadas de extinção.

Na Europa medieval amarrar um gato e içá-lo numa fogueira para ver o bicho tentando se salvar das chamas, provocava gargalhadas em reis, rainhas e em seus súditos.

A empatia certamente era algo inexistente. As pessoas não se chocavam com o sofrimento dos outros. A vida humana valia muito pouco e, dependendo do caso não valia nada, principalmente se fosse de outra classe social, raça, vila, província ou país.

A invenção da prensa móvel possibilitou as pessoas ter acesso à leitura, tornando-se um instrumento de sensibilização com relação à dor que os outros sofriam.

O comércio reduziu as distâncias e criou dependência entre os povos, diminuindo os conflitos e as guerras. A invenção da etiqueta, das regras e normas sociais e, principalmente da higiene promoveram um processo de humanização nunca vista na história humana.

Certamente muitos estão pensando na falta de racionalidade desta afirmação, afinal vemos inúmeros casos de violência explícita nos noticiários a todo momento.

Terrorismo, bombas que explodem em maratonas e passeatas, aviões que se chocam contra prédios, assassinatos, sequestros relâmpagos, homens bombas, enfim são incontáveis as situações de extrema violência vivenciadas em nossa cidade, país ou qualquer canto do mundo.

Na verdade, afirmam os analistas do comportamento social, a mídia massifica, deturpa e destaca a violência, dando-nos a ideia de que as coisas estejam ficando cada vez mais complicadas. Também temos o fenômeno educacional. Quanto menor a educação, maior será a audiência provocada pela violência. Ela é um fenômeno que não precisa de inteligência para ser compreendida. Também, é claro, temos muitos sentimentos primários que fazem da violência algo necessário.

Estão aí os filmes, principalmente americanos, repletos de violência explícita, os games e esportes, onde podemos presenciar um ser humano dando “murros” na cada do outro, levando o público ao delírio e os patrocinadores a ganhar “rios” de dinheiro.

E é neste contexto onde estão instaladas as organizações. Portanto, não é surpresa nenhuma que muitos líderes e principalmente profissionais de RH trabalhem incessantemente para administrar os conflitos dentro das empresas.

Na realidade, somos muito “bichos” ainda. Temos um pouco de verniz humanitário, mas o instinto mostra suas garras, não importa onde você esteja. Dentro das empresas isto parece estar mais forte nos últimos anos. Competitividade pressupõe concorrência e competição desenfreada, onde para muitas pessoas a falta de ética é uma das premissas básicas de sobrevivência.

Vivemos, até o momento uma situação onde o stress e a depressão são as maiores mazelas.

A psicopatologia será o mal das próximas décadas, profetizam profissionais que analisam o atual ambiente extremamente competitivo das corporações.

Estaríamos retrocedendo e contrariando a teoria da revolução humanitária?

Está aí um assunto a ser tratado de forma corajosa por todos aqueles que se preocupam com a qualidade de vida das pessoas no ambiente organizacional.

Pedro Luiz Pereira

Hunter, especialista em gestão de Empresas e Desenvolvimento Organizacional, Consultor, Professor de MBA. Presidente da ABRH – Joinville. E-mail: Pedro@grupoabra.com.br.

Originalmente publicado no Jornal “Notícias do Dia”.

A empatia certamente era algo inexistente. As pessoas não se chocavam com o sofrimento dos outros. A vida humana valia muito pouco e, dependendo do caso não valia nada, principalmente se fosse de outra classe social, raça, vila, província ou país.