Sabedoria x Conhecimento

A partir do mesmo momento em que alguém se torna um iniciado de qualquer escola esotérica/iniciática, fica claro que deve buscar a Luz e não poucos associam Luz com Sabedoria. O que não deixa de ser correto de certa forma. Com base em tudo isso, cometemos o erro, o grave erro, de acreditar que somos sábios quando alcançamos os altos graus dessa escola e conhecemos seus mistérios. Grave erro que nos leva ao vício do ego, do orgulho e da vaidade porque o que costumamos possuir é conhecimento; mas não a tão esperada Sabedoria.

A relação conhecimento igual a Sabedoria não é objetiva; o sábio sempre possui conhecimento, mas ter conhecimento nem sempre implica Sabedoria. Lembremos o simbolismo da Granada, que uma vez madura, espalha seus grãos. Assim é o sábio. Uma vez obtido o conhecimento, você deve aplicá-lo ao dia a dia e dar a conhecer por meio de suas ações. Você deve usá-lo para o bem e nunca para alimentar seu ego e vaidade pessoal. Não há nada de Sabedoria nesse caso.
A Sabedoria é uma qualidade humana. De homens iluminados. Só eles são os que aplicam ao mundo o que sabem. Ninguém discute que uma enciclopédia guarda uma grande quantidade de conhecimento; mas não é conhecido porque não pode aplicar esse conhecimento ao mundo material. É o homem que pode fazer isso. Para isso é necessário compreender esse conhecimento, internalizá-lo e aplicá-lo. Não tenho dúvidas do caminho que temos que percorrer: o caminho que nos leva do conhecimento à Sabedoria é chamado de interiorização, o conhecido VITRIOL”

Ter conhecimento é relativamente fácil – basta estudar – ser sábio é muito mais complicado. É preciso agir de acordo com esse conhecimento. A maioria dos maçons – entre os quais me incluo – possuímos conhecimento; mas estamos muito longe da Sabedoria, da Luz. Ser sábio é falar pouco e agir muito. O sábio fala o justo e apenas sobre o que realmente sabe. Se partirmos da base de que vivemos em um mundo material e que nossos sentidos nos enganam continuamente quanto ao que percebemos, que nossa consciência subjetiva adapta nossos sentimentos à nossa limitada compreensão e não à realidade, quem pode dizer que conhece a realidade das coisas? Quem pode ser classificado como sábio? Eu, claro, nem por acaso. 
Homens realmente sábios podem ser contados com os dedos da mão. Poderíamos citar Confúcio, Buda, Pitágoras, Leonardo DaVinci... e todos eles não se achavam sábios. Nada mais claro do que lembrar a famosa frase de Sócrates: "Eu só sei que não sei nada”

Para finalizar, deixo um texto de Christian Bernard, atual Imperator da ordem rosacruz AMORC e que considero muito esclarecedor sobre este assunto. Substitua a palavra Rosa-Cruz pela que define sua ordem ou escola e acredito, humildemente, que seria perfeitamente aplicável a você.

“Ser Sábio é conhecer perfeitamente todos os aspectos da dualidade humana e aplicar a maestria em todas as nossas relações com o próximo. Portanto, é sábio aquele que mostra o caminho sem nunca impô-lo e que nunca faz pelos outros o que eles mesmos têm interesse em fazer.

É sábio aquele que sabe se calar quando é necessário se contentar em ouvir e falar quando pode e deve ser ouvido.

O Sábio não é aquele que fala bem da Sabedoria, mas daquele de quem se fala bem em razão da Sabedoria dos seus atos. Isso significa que a verdadeira Sabedoria sempre ouve mais do que fala, fala muito menos do que age e nunca age sem refletir bem.

Mostrar Sabedoria não é querer reformar o mal que acreditamos ver nos outros, mas aceitar o bem que temos certeza de perceber neles. A missão da Sabedoria tem preservar a harmonia onde quer que esteja e fazer de tudo para colocá-la onde não está.
 
Segurar em sua mão a espada da Sabedoria não é fácil, mesmo para o mais nobre cavaleiro. A tentação é grande para se acreditar sábio sob o pretexto de que se carrega esta espada. Lembre-se de como "Excalibur", a espada do poder, quebrou quando por ignorância e orgulho e invocou seu poder mágico para matar o Cavaleiro Lancelot, símbolo da nobreza e do idealismo. Foi apenas por causa de seu profundo arrependimento e da tomada de consciência imediata e definitiva de seu erro, que a Dama do Lago lhe devolveu a espada da realeza. Se a usamos impunemente para satisfazer os desejos ilegítimos do nosso ego, fazemos dela um instrumento de demência e poder maligno. Não é por acaso que os antigos cabalistas sempre colocaram em seus ensinamentos a Sabedoria oposta à Loucura... 

...Devemos entender, antes que seja tarde demais, o que a palavra “sábio” realmente significa. Para isso é necessário que aprendamos por meio da iniciação que, assim como o hábito não faz o monge, a espada, seja ela qual for, não faz o cavaleiro. Carregar sobre si a espada da Sabedoria sem ser sábio é o mesmo que contemplar a luz do dia com uma venda sobre os olhos. Não é senão unindo o poder cósmico da Sabedoria às virtudes do sábio que se pode realizar o estado de Cavaleiro Rosa-Cruz. Porque os antigos místicos haviam entendido a necessidade dessa união, eles falavam da Sabedoria dos Sábios”

E agora? Sim, você que está me lendo. Você acha que realmente alcançou a Sabedoria por ser maçom? Você acha que será capaz de alcançá-la algum dia? Eu, certamente, não acho que seja capaz de me aproximar dela. E não se engane; reconhecer essa impossibilidade é o primeiro passo para poder optar por chegar.

Mario Lopez
Fonte: https://iluminando.org/

Tradução livre: Juarez Oliveira Castro