Sal, Enxofre e Mercúrio

Durante o último estudo em nossa oficina, sob o tema VITRIOL, foi citada a Câmara de Reflexões e alguns signos presentes à sessão de iniciação maçônica. 

 

Alguns desses símbolos são obrigatórios, consoante anuncia o Ritual do REAA no Grau 1; como é o caso do SAL, do ENXOFRE e do MERCÚRIO, elementos fundamentais para a GRANDE OBRA. 

Diante dessa motivação, entendi oportuna a apresentação do presente trabalho.

A alquimia, além de aspecto espiritual, constitui uma verdadeira ciência que tem como finalidade compreender a matéria e o universo, ou seja, o microcosmo e o macrocosmo, além de tentar reproduzir de forma mais rápida o que a natureza leva milênios para conseguir.

Como em qualquer área de conhecimento, a alquimia possuía uma linguagem própria para tentar transmitir conhecimentos que não existiam ou palavras específicas para expressar termos conhecidos, que transmitia uma ideia rudimentar de algum evento. 

Assim utilizavam os termos Água, Terra, Ar e Fogo para explicar os quatro elementos, correlacionando-os respectivamente com os estados: líquido, sólido, gasoso e a energia. 

O fogo simbolizava todos os tipos de energia, inclusive a energia imaterial dos corpos. 

Para se avaliar o conhecimento da época, o conceito de estado gasoso não ficou conhecido pelo ocidente até o século XVIII com as pesquisas de Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794). 

Isto demonstra o quanto os alquimistas estavam adiantados em relação aos sábios de seu tempo.

Água - penetrante, dissolvente e nutritiva. 

Terra - solidez que estabiliza a matéria, suporte para o líquido. 

Ar - gasoso, expansivo, volátil. 

Fogo - energia que acelera o processo, aquece, ilumina. 

A terra e a água constituem estados visíveis, porquanto o fogo e o ar são estados invisíveis. 

O médico suíço Felipe Aurélio Teofrasto Bombasto Von Hohenhein (1493-1541) tornou-se famoso no meio ocultista sob o pseudônimo de "Paracelso"; embora a criopéia (teoria da transmutação de metais vis em metais nobres) tenha sido parte de seus estudos, foi o primeiro a voltar suas investigações sobre a Grande Obra para teorias curativas dos males humanos, ação hoje conhecida como metaloterapia. 

Ele percebeu que os quatro elementos, realidades materiais compreendidas dinamicamente, não eram suficientes para expressarem todas as características e assim adotou os termos Enxofre, Mercúrio e o Sal para expressarem os três princípios (comportamentos da natureza) e, da mesma maneira que os quatro elementos, não representavam as substâncias mencionadas em si, mas sim as suas propriedades materiais que poderiam ser retiradas ou acrescentadas às substâncias, possivelmente por reações químicas ou transmutações. 

Enxofre - princípio fixo - representa as propriedades ativas – combustibilidade, a ação corrosiva, o poder de atacar os metais, e também o princípio ativo ou masculino, o movimento, a forma, o quente. É considerado o embrião da pedra e alimentado pelo mercúrio, pois está contido em seu ventre. 

Também é considerada a energia animadora e constitui o objetivo da Grande Obra. 

Mercúrio - princípio volátil - representava as propriedades passivas - maleabilidade, brilho, fusibilidade, a fraca tensão de vapor, o escorregadio que toma várias formas. Além de designar a matéria, designa também outros aspectos como: o princípio passivo ou feminino, o inerte, o frio. 

O mercúrio, que também pode designar a matéria-prima, é considerado a mãe dos metais ou a água primitiva que deu origem a todos eles. 

Sal – princípio instável - é o meio de união entre as propriedades do Mercúrio e as do Enxofre, como uma força de interação, muitas vezes associado à energia vital, resistente ao fogo, que une a alma ao corpo. 

No ser humano, o enxofre seria o  corpo físico; o mercúrio a alma e o sal o espírito mediador ou, no conceito da antroposofia (estudo da natureza humana sob o aspecto moral): os elementos se refletem como forças básicas atuantes do espírito humano; e, por derradeiro, o enxofre seria o querer, o mercúrio o sentir e o sal o pensar. 

Portanto, a saúde seria o equilíbrio e a doença seria o desequilíbrio de todas as energias presentes no ser humano, tanto no corpo físico como espiritual. 

Na alquimia não existe matéria morta e todas as substâncias, animal, vegetal ou mineral, são dotadas de vida e movimento, ou seja, possuem suas energias características. 

Nesse diapasão, tem-se que:

  1. Chumbo - representado por Saturno. 
  2. Estanho - representado por Júpiter.
  3. Ferro - representado por Marte.
  4. Ouro - representado pelo Sol.
  5. Cobre - representado por Vênus.
  6. Mercúrio - representado pelo planeta Mercúrio.
  7. Prata - representado pela Lua.

Segundo Hermes Trimegistro (três vezes Grande Hermes), considerado pai e fundador da alquimia, o mundo é como um grande organismo (macrocosmo), enquanto que o homem é um pequeno mundo (microcosmo), esta é uma das interpretações da sua frase: "O que está em cima é semelhante ao que está em baixo". Tudo o que existe material ou espiritual constitui uma única unidade. O divino é expresso como sendo "o círculo cujo centro está em toda parte e a circunferência em parte alguma". Portanto, todas as coisas surgiram do mesmo Criador, o mundo terreno é constituído pelos mesmos componentes que o mundo celeste. 

(Omnia in unum – Tudo em Um). 

Atualmente conhecemos que a matéria e a energia provêm de uma mesma entidade. Einstein unificou a conversão interna entre matéria e energia, na equação E=m.c2 (E = energia liberada; m = matéria transformada et c = velocidade da luz). 

O próprio laboratório do alquimista é um microcosmo onde ele tenta reproduzir de maneira mais acelerada um processo semelhante ao da criação do mundo. 

O símbolo alquímico do ouroboros, que é a figura de uma serpente mordendo a própria calda formando um círculo, representa estas constantes transformações em que nada desaparece nem é criado, tudo é transformado como o princípio da conservação de energia, ou primeira lei da termodinâmica, postulada muito tempo depois. 

Conclusão

Numa paráfrase, atualizada e implementada, do que nos ensinou Lavoisier, podemos concluir que na natureza nada se cria tudo se transforma, se integra e se atualiza. 

Sob essa concórdia, pode-se afirmar que a Maçonaria ainda conserva muitos símbolos dos alquimistas, para armar a sua doutrina moral e espiritual. Um exemplo é, em muitos ritos, a chamada Câmara de Reflexão, onde o candidato à iniciação permanece, em meditação, antes da cerimônia, representa o útero (da terra), do qual o candidato nasce para uma nova vida, representa a "prova da terra", um dos quatro elementos aristotélicos. Nela, entre diversos símbolos representativos da espiritualidade e do valor da vida honrada, encontram-se as substâncias necessárias à Grande Obra --- sal, enxofre e mercúrio --- para lembrar, ao candidato, que ele deve percorrer o caminho do conhecimento para chegar ao aperfeiçoamento espiritual e moral, que é a Grande Obra da vida. 

José Roberto Rosas Júnior - Mestre Maçom  

ARLS Fraternidade Acadêmica Guarulhos 3253