Saudade mata a gente

 

Os colunistas sociais costumam dizer que os jovens que viveram o período de 1950-70 tiveram a ventura de gozar as delícias dos "Anos Dourados". Aquele período, pós-2ª Grande Guerra e que, talvez, por isso tenha sido uma época de imenso desenvolvimento. 

 

Foi também uma fase de paz e de felicidade. 

 

Um analista perspicaz que viveu àquela época, com excelente humor, assim a descreveu: "Eu pertenço a uma geração que deixou muita saudade. Uma geração que não teve medo nem vergonha de se sentir feliz. Soubemos degustar o suco da vida sem destroçar o fruto. Uma geração que via Copacabana como a "Princesinha do Mar". 

 

Hoje, a princesinha casou, teve filhos e mudou sem deixar endereço. Uma geração que conhecia São Paulo como a elegante e charmosa "terra da garoa".

 

Hoje, São Paulo cresceu, engordou e perdeu o charme. Quem a viu não a reconhece. 

 

Eu pertenço a uma geração que viu o biquíni nascer... E, nada mais além. 

 

Hoje, a mulher de biquíni é como noiva abandonada. 

 

Foi na minha geração que a TV nasceu: primária, incipiente e amadora, querendo vencer sem apelações. Tanto que o primeiro beijo demorou a acontecer. Agora, o beijo é no horário infantil. 

 

O sexo fica para a sessão vespertina e o explícito nas novelas da noite. Hoje, se você se descuida, a guerra sai da telinha e cai em cima de você. 

 

E pensar que a gente se emocionava muito mais com Chaplin, que sequer falava. 

 

Eu pertenço a uma geração que namorava nas matinés de domingo, comendo pipoca e chupando drops. Que esperava o filme começar para buscar a emoção de um beijo roubado. 

 

Hoje, o "escracho" dos motéis acabou com o mistério do escurinho do cinema. 

 

É, seu moço, eu pertenço a uma geração que encarava a virgindade como virtude, não como vergonha, que estudava para ficar culta e vencer na vida. Não para ficar esperta e corrupta. 

 

Uma geração que valorizava a amizade, não o interesse. Que fazia coisas bobas, como abrir a porta para uma mulher e ceder o lugar no ônibus. 

 

É, meu amigo, minha geração vai deixar saudades. Ela viveu anos dourados de verdade: com pique, com tesão e com alegria...

 

A gente era feliz e nem sabia!

 

 

Rui Pinheiro Silva

 

Coronel reformado do Exército