Se fosse possível...

 
Na juventude eu não pensava muito no amanhã. Parecia que as coisas continuariam caminhando como sempre, sem grande mudanças, sem muitas pedras no percurso, sem atropelos e aflições.

Também não pensava muito no passado, afinal o que passou, passou, e se escolhi isto ou aquilo, se optei pelo assim ao invés do assado, é porque assim deveria ser, é o que eu deveria viver.

Com o tempo, fui cada vez mais abandonando esta atitude conformista, tanto em relação ao futuro que ainda tenho para viver quanto às escolhas que fiz no passado. E com todos, às vezes me pego pensando no "e se", a eterna dúvida que carregamos, dúvida que não tem resposta, mas que volta e meia vem assombrar os nossos pensamentos.

E se eu tivesse terminado o mestrado que abandonei em meio, teria seguido carreira e tido sucesso? Teria alcançado a realização profissional, sentiria prazer e alegria em ensinar? E se não tivesse casado e tido filhos, estaria feliz hoje sem uma família grande, sem meus netos e a renovação de vida que representam, sem o sopro de juventude que alegra uma vida que poderia ter se transformado em monótona, ranzinza e solitária, sem a presença deles? E se não tivesse saído do interior, estaria vivendo ainda lá, na mesma cidade, tomando o chimarrão da tarde com as mesmas pessoas, comentando os mesmos assuntos, vivendo as mesmas preocupações, anos a fio? Não há como saber, quando a isto não há volta nem existe mudança possível, só resta admitir que as escolhas foram feitas e agora o que resta é tirar o melhor proveito delas. 

"E como todos, às vezes me pego pensando no "e se", a eterna dúvida que carregamos, dúvida que não tem resposta, mas que volta e meia vem assombrar os nossos pensamentos".


Olhando para trás vejo muita coisa que hoje, depois de mais vivida, eu não faria de novo, se fosse possível voltar no tempo. Mas olhando para a frente, tenho a esperança de ter aprendido, nestes anos todos, a fazer melhores escolhas, e a vislumbrar os resultados e as consequências das decisões que tomo hoje para minha vida futura. Tenho a esperança de que pelo menos para isto me sirvam os erros cometidos e as opções equivocadas, afinal dizem que é vivendo e errando que se aprende.

Se fosse possível dispor de uma "janela" que nos desse a oprtunidade de olhar para trás e ver como teria sido a vida se tivéssemos optado pelo plano B de cada momento, não sei se eu gostaria de olhar por ela, mas a possibilidade me atrai. Mas como esta janela não existe, o jeito é continuar vivendo, procurando errar menos, e aprender mais.
* Kátia Farret
Articulista e escritora.
E-mail: katiafarret@hotmail.com