Sentindo na pele

 

A gente até pode tentar aprender de outra maneira, mas não consegue. Só depois que sentirmos na pele é que entendemos aquilo tudo que pessoas falavam de boca cheia nos filmes e seriados. Só quando arriscamos a ponta dos nossos dedos conseguimos captar o perfume do que lemos em livros e textões da internet.

 

Quando sentimos no própria carne, ganhamos uma tecla a mais no misterioso teclado de quem somos. Você caminha seus passos de sempre e passa a incluir no vocabulário: agora eu entendo isso. Com a experiência, vem uma sensação de orgulho e de susto ao mesmo tempo. Com a bagagem, vem um conhecimento que você não consegue repassar a quem ainda não bebeu da fonte. Ainda bem, assim cada um pode ter a chance de experimentar a vida nas próprias mãos.

 

Nem tudo a gente pode sentir, mesmo que a gente queira muito. O branco nunca conseguirá sentir o que é e como é estar na pele do negro. Mesmo que abrace. Mesmo que compartilhe nas redes sociais que não é racista. Há uma memória da alma que vai além da carne e do que podemos tocar. Hão conseguimos enxergar os tons dessa história como quem mora nela. Não conseguimos ganhar essa tecla no teclado. Só conseguimos, quando muito, aprender a respeitar, se tivermos uma boa dose de humanidade correndo pelas veias da nossa pele branca.

 

É, sentir na pele nem sempre é um mar de rosas. Pode arder até incomodar. Pode machucar até doer; Pode coçar até sarar.

 

O tempo que levar. E a gente ainda com a vida corrida demais até para amarrar o cadarço do sapato. Por conta disso, quase ninguém anda querendo sentir. É muito fácil curtir. É mais simples o touch que o toque, É mais seguro não se arriscar além do sofá. Pena é que o virtual ainda e sempre estará à léguas de proporcionar as maravilhas que a realidade é capaz de nos fazer sentir. Os arrepios que levantam todos os pelos do corpo. A mão gelada de adrenalina no aperto de mão qu sela seu destino. O coração acelerado que parece que vai sair pela boca a qualquer instante. O frio na barriga que se confunde com a sensação de borboletas dançando no seu estômago. O vento que bagunça os cabelos quando colocamos a cara fora da janela.

 

Somente à flor da pele é que conseguimos sentir o que é nosso, o que é do outro e que é que do mundo com mais empatia. Se a gente não molha os pés, não sente se a água é gelada ou quente como dizem. Se a gente não se arrisca a cair, não sente a alegria de voar. Desconheço um aplicativo que tenha sido inventado e seja melhor do que sentir. Quero passar longe de um game interativo que substituia a grandiosidade de viver Coisas de quem viu. Coisas de quem verá.

 

Thais Ferreira Gattás

thaisferreiragattas@gmail.com

Publicado originalmente no “Notícias do Dia”.