Ser simples

O desejo de ser simples minimizou nossas necessidades em formas tão genéricas que esquecemos como é ser.

Cada dia que passa tenho mais certeza que nossa vida é feita de ciclos. Vivemos, crescemos, evoluímos e amadurecemos. Temos opinião e mudamos de opinião. Um ciclo que se fecha não significa que chegamos ao fim, na verdade, é um novo início e para começar de novo precisamos avaliar tudo que passou, aprender com as coisas ruins, guardar as coisas boas no coração e seguir.

Tenho vivido esse momento de iniciar um novo ciclo e posso dizer com sinceridade que é caótico. A gente questiona tudo e, muitas vezes, tudo que se acreditou uma vida inteira se desfaz como areia que escorre pelos dedos da mão.

Fomos criados em uma sociedade guiada pelo tempo onde temos a sensação de estar sempre atrasados. Uma cobrança que chega veloz por todos os lados exigindo que você seja coisas que nem tem certeza que quer ser ou que consegue ser. Não existe problema nenhum em não conseguir. Quando você consegue entender isso, você muda a sua vida!

Estude, faça uma faculdade, trabalhe, seja chefe, ganhe dinheiro, compre um apartamento, emagreça, seja saudável. Até coisas legais como a nova onda de ser empreendedor perde seu significado quando alguém olha para você e fala que hoje o mercado exige profissionais empreendedores. Não faz sentido!

Estamos tão preocupados em ter que deixamos de lado a essência de ser. Cada dia em que se aumenta essa velocidade do mundo esquecemos que vivemos com pessoas diferentes, com necessidades diferentes e sonhos completamente diferentes. “Emagreça 15 kg em 1 mês”, “deixe os homens aos seus pés”, “15 passos para alcançar o sucesso”, estas são algumas chamadas que encantam nossos olhos todos os dias em revistas e sites. Minimizamos nossos desejos em coisas tão genéricas e formas padrões para serem consumidas por todos, independente de quem sejam. Isso não é ser simples, é ser insano!

Neste meu novo ciclo comecei a questionar tudo isso e mesmo com todas as incertezas que surgem neste caminho ainda turvo a única certeza que tenho é que não quero guiar meus desejos pela cobrança, pela necessidade de ter. Eu escolhi sentir, ser guiada pelo caminho do amor e pela troca de experiência que só é permitida quando se está com pessoas. Quando se está conectada a pessoas. Quando se sabe ouvir as pessoas.

Desde quando comecei a trilhar esse novo caminho, meu maior desejo é conseguir ser mais simples. Descomplicar e tirar dos ombros todas as cobranças que mais pesam do que facilitam a caminhada. E então - por acaso - enquanto ouvia o rádio a caminho do trabalho me deparo com esse texto:

"Simplicidade não é pobreza, falta ou escassez. É equilíbrio. E ninguém é mais rico do que aquele que aprendeu a viver com equilíbrio. Às vezes a gente ouve alguém dizer que certa pessoa é muito simples. E com isso ela quer dizer que esta pessoa é pobre, ou que não tem tudo que alguém deveria ter. A gente até entende, mas fica com a sensação de que há algo errado neste modo de falar. Simplicidade não é problema, é coisa boa. O simples não é um coitado, é um bem-aventurado. O simples não vive abaixo da linha. Nem acima, o que às vezes é tão ruim quanto. Simplicidade é a capacidade de escolher equilibrar-se na linha, com sabedoria e contentamento. Por isso, o simples não deseja ser grande; esse é o soberbo. Mas também não deseja ser pequeno; esse é o complexado. O simples deseja apenas ser útil a todos e colher os frutos das sementes que lançar. Outra coisa: o simples não deseja o máximo; esse é o ganancioso. Também não deseja o mínimo; esse é o resignado. O simples deseja o necessário, pois quer apenas uma vida regalada, e não ser escravo de seus bens. Enfim, o simples não deseja saber tudo; esse é o pretensioso. Também não deseja saber nada; esse é o preguiçoso. O simples deseja saber viver, com fé, alegria e relacionamentos felizes."

Parece tão simples, mas você já consegue viver assim? Eu ainda não, mas estou tentando dia após dia.

Jóyce Bandeira

Aquariana inquieta e publicitária apaixonada por moda, TV, cinema e nas coisas boas da vida. Em minha última viagem descobri que sou apaixonada pelo sentimento de se apaixonar. O frio na barriga que vem antes da descoberta, o sentimento de aprender algo novo e ver que o mundo é sempre muito maior e mais lindo do que você pensa.

publicado em sociedade por Jóyce Bandeira.