SERMÕES E LADRÕES

Padre Antônio Vieira escreveu os famosos "Sermões". Em muitos deles condena o mau costume dos que se apropriam do alheio. Também autor de "A Arte de Furtar" (1652), crítica contundente à corrupção no reinado de Dom João IV, faz o mesmo no "Sermão do Bom Ladrão" (1655). Solta o verbo: "Nem os reis podem ir ao paraíso sem levar consigo os ladrões, nem os ladrões podem ir ao inferno sem levar consigo os reis". Esgrimindo dialética exemplar e rica teologia, condena a ladroagem, sem conceder ao ato de roubar nenhuma comiseração.

"Em vez de os reis levarem consigo os ladrões ao paraíso, os ladrões são os que levam consigo os reis ao inferno". Segundo Vieira, a restituição do bem ao dono não implica em comutação da pena, posto que o dano já foi causado. Em especial se o patrimônio pertence ao Estado. Ladrões da coisa pública são mais perigosos, pois "ofendem a justiça pública, de que eles estão postos por defensores". E citando São Basílio Magno: "os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos".

Assim foi no Portugal dos tempos de Vieira, assim continua sendo no Brasil dos dias atuais. Hoje como ontem, aqui como lá "o verbo roubar se conjuga de todos os modos".

 

Barros Alves. Poeta e jornalista