Silêncio: coisa rara hoje em dia


Estimulada por uma crítica positiva ao filme “Passageiros”, romance de ficção científica estrelado por Jennifer Lawrence e Chris Pratt, fui ao cinema em busca de um pouco de diversão. Na sala lotada, a conversa animada de um casal obviamente no primeiro encontro – um barzinho seria melhor opção do que um cinema para bater papo -, a risada dos adolescentes e o teclar nos smartphones dos aficionados em redes sociais eram o contraponto para o silêncio devastador que o personagem Jim experimenta, sozinho, na nave estelar.

Silêncio é coisa rara hoje em dia, ainda mais na cidade do Rio de Janeiro. Subimos lentamente o caminho das Paineiras, fugindo do calor e do zumzumzum urbano lá embaixo. Mas eis que o som enfurecido de uma moto em alta velocidade, na zona sul, corta os ares e sobe até a floresta, aos nossos ouvidos. Um grupo de caminhantes senta ao nosso lado para se refrescar na pequena queda d’água – e mais uma vez somos involuntariamente tragados pela conversa alheia, em alto e bom som relatando seus feitos em outras aventuras, e eu apenas querendo um pouco de paz e silêncio.

Mesmo em casa, após um dia de trabalho e estudo, nos recolhemos ao quarto para uma noite de sono – e o barulhinho (bom para alguns) do aparelho de ar condicionado é companheiro de quem se defende do calor – e ainda pode pagar a conta de luz.

Em um mundo altamente conectado, em que todos têm algo a dizer online e offline, as oportunidades para reflexão e introspecção são – cada vez mais – um artigo de luxo.

Em 2011, a Organização Mundial de Saúde alertou que a poluição sonora é uma nova praga do mundo contemporâneo.

Os estudiosos atestam que o silêncio é fundamental para a transformação da experiência em conhecimento. A quietude é essencial para a saúde da mente humana. É preciso absorver o que está acontecendo à nossa volta, entender o que sentimos, pensar sobre o impacto das coisas em nossa vida. Sem esse “de-para” entre experiência e significado, ficamos presos a uma existência superficial, vazia.

O bendito silêncio pode ser conquistado, neste mundo barulhento. Meditação e oração são uma boa alternativa. Ler um livro em uma biblioteca, caminhar lentamente por uma exposição de arte, até mesmo a prática de alguns tipos de exercício físico podem nos transportar para esse espaço de quietude.

“O silêncio vale ouro” é um ditado presente em outros idiomas (em inglês, ”silence is gold”). Há indícios de que os egípcios antigos já tinham esse conceito. Em pleno século 21, o provérbio segue atual.

Roberta Cabral

Publicado originalmente em "Opinião e Notícias".
www.opiniãoenoticia.com.br

Silêncio é coisa rara hoje em dia, ainda mais na cidade do Rio de Janeiro. Subimos lentamente o caminho das Paineiras, fugindo do calor e do zumzumzum urbano lá embaixo. Mas eis que o som enfurecido de uma moto em alta velocidade, na zona sul, corta os ares e sobe até a floresta, aos nossos ouvidos. Um grupo de caminhantes senta ao nosso lado para se refrescar na pequena queda d’água – e mais uma vez somos involuntariamente tragados pela conversa alheia, em alto e bom som relatando seus feitos em outras aventuras, e eu apenas querendo um pouco de paz e silêncio.