Supostas origens da Sexta-feira 13 e sua relação com os Cavaleiros Templários
Sexta-feira 13 (treze) é popularmente conhecida como um dia de azar no imaginário ocidental. A data carrega a reputação de trazer má sorte, alimentando superstições, piadas e até franquias de filmes de terror que exploram seu simbolismo sinistro. Entretanto, a origem dessa crença é complexa e entrelaça de muitos eventos históricos, narrativas religiosas e influências culturais diversas. Nesta pesquisa pretendo idealizar como surgiu a superstição em torno da Sexta-feira 13, explorando desde antigas associações negativas ao número 13 e à sexta-feira, passando pelo trágico episódio da sexta-feira, 13 de outubro de 1307 – marcado pela queda dos Cavaleiros Templários – até outras possíveis raízes culturais da superstição e sua consolidação pelo imaginário popular ao longo do tempo.
O Número 13 como Símbolo de Má Sorte
Desde muito antes da combinação específica de sexta-feira com o dia 13, o número 13 isoladamente já era visto com receio em várias tradições. Culturas ocidentais têm historicamente associado o 12 à ideia de completude e perfeição (12 meses no ano, 12 signos do zodíaco, 12 trabalhos de Hércules, 12 deuses olímpicos, 12 apóstolos de Jesus, etc).
O 13, por sua vez, rompe essa harmonia numérica, sendo visto como irregular e potencialmente perturbador. Numerólogos e folcloristas costumam apontar que, por vir logo após o "número perfeito" 12 (1+2), o 13 adquire a fama de excesso desordenado – “um pouco além da completude”, tornando-se um número inquietante e associado ao infortúnio. Não por acaso, o temor específico e irracional do 13 ganhou até nome clínico: triscaidecafobia, termo grego que designa a fobia ao número treze.
Várias narrativas mitológicas e religiosas contribuíram para esta fama negativa do 13. Na mitologia nórdica, por exemplo, conta-se que houve um banquete entre 12 deuses em Valhalla quando um 13o convidado apareceu sem ser chamado – Loki, o deus da trapaça e da discórdia. Loki instigou um conflito que resultou na morte de Balder, o deus da luz e da alegria, lançando o mundo em trevas e luto. Esse conto escandinavo ilustra a ideia de que introduzir um 13o elemento em um grupo harmonioso de doze traz desgraça. Ecoando uma temática semelhante, na tradição cristã o número 13 também ganhou conotação sinistra: na Última Ceia de Jesus com seus apóstolos, eram treze os presentes à mesa – Jesus e seus doze discípulos – sendo que o 13º conviva a chegar foi Judas Iscariotes, justamente aquele que trairia Jesus.
Tal coincidência numérica alimentou a superstição, difundida em culturas cristãs, de que reunir 13 pessoas à mesa seria um mau presságio, “uma provocação à morte”. Não bastasse isso, a tradição ainda conta que dois dos participantes daquela ceia – Jesus e Judas – morreram pouco depois de forma trágica, reforçando o simbolismo funesto do número.
Curiosamente, nem todas as civilizações antigas viam o 13 como algo ruim. Para os egípcios antigos, por exemplo, o 13º estágio da vida representava a etapa da vida eterna após as 12 fases terrenas, de modo que esse número simbolizava transformação gloriosa, não desgraça. Todavia, culturas que encaravam a morte com temor acabaram reinterpretando negativamente essa simbologia. Com o advento do cristianismo medieval, muitos dos atributos antes positivos do 13 foram ressignificados sob uma ótica supersticiosa pessimista. O resultado desse processo histórico-cultural foi a cristalização, no senso comum ocidental, de que o número 13 “dá azar”. Exemplos modernos não faltam: até hoje é comum edifícios pularem o 13o andar ou aviões omitirem a fileira 13 de assentos, ilustrando a persistência desse receio numérico.
A Sexta-Feira na Tradição Religiosa e Folclórica
Isoladamente, a sexta-feira (dia da semana) também já ostentava uma reputação sombria em tradições judaico-cristãs e europeias, muito antes de ser combinada ao dia 13. Diversos eventos funestos teriam ocorrido numa sexta-feira, segundo a crença popular de inspiração bíblica: foi numa sexta que, de acordo com algumas interpretações, Eva teria convencido Adão a comer o fruto proibido no Jardim do Éden, condenando a humanidade ao pecado original; também numa sexta Caim teria assassinado seu irmão Abel, consumando o primeiro fratricídio da história sagrada.
Mais certo historicamente é que a Crucificação de Jesus Cristo ocorreu em uma sexta-feira – celebrada pelos cristãos como a Sexta-Feira da Paixão – o que por si só tornou esse dia carregado de luto e más lembranças.
Na tradição cristã medieval, a sexta-feira (especialmente a sexta-feira santa) era associada a penitência e sacrifício, consolidando uma aura de dia nefasto para novos empreendimentos. Proverbialmente, diversas culturas europeias consideravam arriscado iniciar projetos ou viagens em uma sexta-feira – caso dos marinheiros ingleses, que evitavam zarpar ao mar nesse dia da semana por temor de naufrágios ou má sorte na empreitada.
Além das raízes bíblicas, há quem aponte influências pagãs na má fama da sexta-feira. Uma lenda escandinava tardia menciona que Friga (ou Frigg) – deusa do amor e da beleza na mitologia nórdica, cujo nome originou “Friday” (sexta-feira em inglês) – foi demonizada quando os povos nórdicos se converteram ao cristianismo. Transformada em bruxa pelo imaginário popular cristão, Friga teria passado a se reunir toda sexta-feira com um sabá de 11 outras bruxas mais o demônio, totalizando 13 entes malignos rogando pragas contra os humanos.
Essa reunião diabólica semanal teria ajudado a espalhar pela Europa a superstição de que a sexta-feira, somada ao fatídico número 13, forma um coquetel de má sorte. Embora de veracidade duvidosa, tais relatos folclóricos ilustram como, já na Idade Média, sexta-feira e número 13 eram vistos separadamente como sinais de mau agouro em várias narrativas culturais.
Em resumo, tanto o número 13 quanto a sexta-feira carregavam individualmente um estigma negativo em diversas tradições religioso-culturais do Ocidente. Contudo, é importante destacar que a combinação específica da “Sexta-feira 13” como sinônimo do ápice do azar parece ser relativamente recente. Não há registro consistente, por exemplo, que durante a Idade Média alguém se referisse explicitamente à sexta- feira 13 como um dia particularmente amaldiçoado. A fusão das duas superstições (sexta-feira + 13) provavelmente ganhou força mesmo a partir do século XIX, em pleno contexto vitoriano. De acordo com estudos de folclore, essa associação “duplamente azarenta” do dia e do número foi uma invenção da Inglaterra vitoriana, no final do século XIX. Até então, o medo do 13 e o medo das sextas-feiras corriam em paralelo, mas só posteriormente passaram a andar de mãos dadas na cultura popular. É justamente nesse momento que eventos históricos específicos e produtos culturais começaram a consolidar a fama sinistra da Sexta-feira 13 – e nenhum episódio histórico contribuiu mais para isso do que o que envolveu os lendários Cavaleiros Templários no início do século XIV.
13 de outubro de 1307: A Queda dos Cavaleiros Templários
Entre os eventos históricos frequentemente citados para explicar a maldição da Sexta-feira 13, destaca-se o que ocorreu em 13 de outubro de 1307. Naquela data, uma sexta-feira, desenrolou-se na França uma operação coordenada que marcaria o início do fim da poderosa Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão – os famosos Cavaleiros Templários.
A ordem dos Templários, fundada por volta de 1118, formavam uma ordem militar-religiosa de elite que ganhou renome durante as Cruzadas, acumulando riquezas e influência por toda a Europa medieval. No alvorecer do século XIV, a Ordem havia se tornado extremamente rica, administrando castelos, fazendas, igrejas e um proto-sistema bancário que atraía a cobiça de poderosos monarcas.
Gravura colorizada de 1851 retratando Templários sendo queimados na fogueira no século XIV. A perseguição aos membros da Ordem do Templo começou de surpresa na sexta-feira, dia 13/10/1307, quando centenas de cavaleiros foram presos simultaneamente na França sob as ordens do rei Filipe IV (Filipe, o Belo).
Nas semanas anteriores, o rei enviara cartas secretas a todos os cantos do reino, a serem abertas naquele dia, acusando os Templários de heresia, idolatria e crimes abomináveis e ordenando a captura de todos os membros da Ordem. O motivo real por trás da ação era menos teológico e mais financeiro e político: Filipe IV estava profundamente endividado com os Templários e temia seu poder autônomo; eliminá-los seria uma forma de confiscar suas riquezas e neutralizar uma potencial ameaça ao trono.
Ao raiar daquela sexta-feira 13, as forças do rei invadiram os domínios templários e detiveram centenas de pessoas – não apenas guerreiros, mas também membros administrativos e até servos ligados à Ordem. Entre os capturados ilustres estava o próprio Jacques de Molay, o Grão-Mestre dos Templários, além de altos dignitários como o Tesoureiro da Ordem.
O destino dos Templários presos foi trágico. A maioria foi submetida a interrogatórios brutais e torturas para forçá-los a confessar os delitos de heresia e blasfêmia que lhes eram imputados. Técnicas típicas da Inquisição medieval foram empregadas – como o strappado, em que as mãos do prisioneiro eram atadas nas costas e ele era suspenso por uma corda, deslocando-lhe dolorosamente os ombros. Diante dessas torturas, não surpreende que em poucas semanas grande parte dos Templários “confessou” os crimes, incluindo o próprio Jacques de Molay, na esperança de clemência.
O papa Clemente V, que inicialmente ficou horrorizado com a ação unilateral de Filipe IV (afinal, os Templários respondiam teoricamente só ao Papa), acabou cedendo à pressão do rei.
Clemente V promulgou no ano seguinte (1308) uma bula ordenando a prisão de Templários em outros reinos cristãos, embora poucos monarcas fora da França tenham seguido adiante com perseguições semelhantes.
Em 1310, após alguns Templários retratarem as confissões obtidas sob tortura, Filipe IV mandou queimar na fogueira mais de 50 membros da Ordem acusados de retomarem a heresia.
Finalmente, em 1312 o Papa dissolveu oficialmente a Ordem do Templo (sem jamais dizer explicitamente que eles eram culpados) e transferiu seus bens remanescentes para os Cavaleiros Hospitalários.
No dia 18 de março de 1314, Jacques de Molay – último Grão-Mestre templário – foi igualmente executado em Paris, queimado vivo como herege relapso junto a outros dirigentes da Ordem.
Este violento epílogo marcou o fim dos Templários enquanto instituição medieval, mas o choque provocado pela queda repentina da Ordem reverberou através dos séculos.
A imagem de uma organização sagrada traída e destruída em um dia específico – justamente uma sexta-feira 13 – deixou forte impressão no imaginário popular. Lendas posteriores narram que, ao arder na fogueira diante da Catedral de Notre-Dame, Jacques de Molay amaldiçoou o rei Filipe IV e o Papa Clemente V, jurando que ambos prestariam contas diante de Deus em breve.
Coincidência ou não, naquele mesmo ano de 1314 o Papa morreu apenas um mês após a execução de Molay, e o rei da França faleceu alguns meses depois, alimentando rumores de que a maldição do líder templário efetivamente se cumprira. Relatos como esse permeiam a história dos Templários e contribuíram para aureolar de misticismo aquela fatídica sexta-feira de 1307.
Sexta-Feira 13 no Imaginário Popular Moderno
A consolidação da Sexta-feira 13 como o dia do azar deveu muito à difusão da superstição por meio do imaginário popular moderno, especialmente a partir do final do século XIX e ao longo do século XX. Um marco curioso ocorreu em 1907, quando o escritor americano Thomas W. Lawson publicou o romance “Friday, the Thirteenth” (em português, “Sexta-Feira Treze”). Nesse livro, um agente da bolsa de Nova York explora o pânico em torno da data para manipular o mercado financeiro – a própria premissa revela que, já no início do século XX, o conceito de uma sexta-feira 13 azarada estava suficientemente disseminado para ser explorado literariamente.
O romance de Lawson fez sucesso e ajudou a popularizar ainda mais a associação da data com caos e má sorte. Coincidentemente (ou ironicamente), poucos meses após o lançamento do livro, um grande navio cargueiro de propriedade do próprio Lawson naufragou nas costas de Massachusetts durante a noite de uma sexta-feira 13, episódio real que os jornais da época não tardaram em relacionar ao “castigo” da data. Histórias como essa alimentaram o fascínio do público e reforçaram a mística em torno do tema.
Nas décadas seguintes, clubes sociais e personalidades também contribuíram para o folclore da Sexta- feira 13. Nos anos 1880, em Nova York, formou-se o “Thirteen Club”, um grupo que se reunia desafiadoramente em grupos de 13 pessoas em sextas-feiras 13 para provar que nenhuma tragédia os atingiria – inclusive com a participação de ex-presidentes dos EUA. Apesar da tentativa de satirizar a superstição, o fato de tal clube existir já indicava a difusão da crença na sociedade.
Entretanto, foi com o advento da cultura de massa, do cinema e da mídia global que Sexta-feira 13 se fixou de vez no imaginário coletivo mundial.
Em 1980, a data ganhou notoriedade cinematográfica com o lançamento do filme de terror “Friday the 13th”, apresentando ao mundo o assassino mascarado Jason Voorhees. O enorme sucesso desse filme gerou inúmeras sequências, livros, jogos e produtos relacionados, cravando no público – especialmente o mais jovem – a associação direta da sexta-feira 13 com terror e tragédia.
A franquia Sexta-Feira 13 (no Brasil, iniciada com o filme “Sexta-Feira 13 – Parte I”) foi talvez a exploração midiática mais emblemática do tema, a ponto de o próprio título estampar sem rodeios a superstição. Desde então, referências à “maldição da sexta-feira 13” tornaram-se onipresentes em livros, programas de TV, histórias em quadrinhos e, com a internet, em memes e discussões nas redes sociais a cada ocorrência da data.
O imaginário popular também é reforçado por coincidências trágicas do mundo real. Diversos acontecimentos nefastos ocorridos em sextas-feiras 13 são lembrados como prova de que “algo naquele dia dá errado”. Por exemplo, na sexta-feira 13 de setembro de 1940, durante a Segunda Guerra, o Palácio de Buckingham em Londres foi bombardeado; em uma sexta 13 de outubro de 1972, um avião uruguaio caiu nos Andes (drama retratado no livro e filme “Vivos”); em 13 de novembro de 2015 – também uma sexta-feira – atentados terroristas abalaram Paris, matando 130 pessoas. Embora tais eventos trágicos obviamente não tenham relação causal com a data em si, eles acabam fortalecendo a aura mítica em torno do dia, pois confirmam na mentalidade supersticiosa a expectativa de desgraças na “temida” sexta- feira 13.
Por outro lado, há quem encare tudo isso com ceticismo bem-humorado ou até com visão positiva. Alguns observadores apontam que estatisticamente não há aumento de acidentes na data – pelo contrário, certas pesquisas sugerem até redução de incidentes, possivelmente porque as pessoas ficam mais vigilantes por precaução.
Em lugares como Montalegre, em Portugal, a Sexta-feira 13 foi ressignificada como ocasião festiva, com celebrações temáticas de bruxas e magia para espantar o medo com alegria comunitária. E vale lembrar que em muitas culturas o 13 e a sexta-feira não são vistos como malignos – ao contrário, podem representar fortuna e sacralidade. Ou seja, a superstição vive principalmente onde lhe damos crédito.
Conclusão
A crença na má sorte da Sexta-feira 13 é um produto fascinante da interação entre história, religião e cultura popular. Suas raízes remontam a antigas noções numerológicas e tabus religiosos, passando por eventos históricos de forte carga simbólica – com destaque para a dramática perseguição aos Cavaleiros Templários em 1307 – e evoluindo através de séculos de narrativas transmitidas pelo folclore e, mais recentemente, amplificadas pelos meios de comunicação de massa. Para nós (Maçons), conhecedores e guardiães de muitas tradições históricas e simbólicas, compreender a origem dessa superstição é apreciar como fatos e mitos se entrelaçam na formação do imaginário coletivo.
Ao olhar com rigor histórico para a Sexta-feira 13, desfazem-se exageros e lendas sem fundamento – como a ideia de uma linha direta e comprovada desde 1307 até hoje – mas também se revela o poder que eventos e histórias possuem de moldar crenças persistentes.
A Sexta-feira 13 continua a ser, no fundo, um espelho onde se refletem nossos medos e narrativas. Cabe a cada um decidir dar a ela um significado sombrio, supersticioso, ou enxergá-la apenas como mais um dia comum do calendário – um dia que, assim como a história dos Templários nos ensina, pode carregar lições sobre intolerância e esperança, mas não um poder místico sobre nosso destino.
Gabriel Ferreira Ramos da Conceição
M∴ M∴ - A∴R∴L∴S∴ "Liberdade e Harmonia" – nº 81 - Grande Loja de Santa Catarina
Or∴ Florianópolis/SC