Tempo de mudanças

No dia 20 de março tivemos o equinócio de outono, marcando o início dessa estação. A data era largamente celebrada na Antiguidade: na Anatólia honra a Cibele; na Grécia e outras regiões eram realizados os mistérios de Elêusis em honra a Deméter e Perséfone; em Roma era comemorado o festival de Ceres, deusa dos grãos e da agricultura; na Escócia, o último feixe de grãos era ceifado de formas ritualísticas e amarrado em uma figura de palha que seria chamada de “Rainha da Colheita” e estaria repleta de poder fertilizador.

O outono é a estação que representa a maturidade, tanto da natureza quanto do Homem. Reflitamos sobre nossas atitudes durante o último ano; analisemos a nossa “colheita”, os frutos advindos dos caminhos pelos quais optamos por trilhar nesses 12 meses que se passaram. É o momento de pausa, reflexão. Nesse sentido, vale lembrarmos o que escreveu Plotino (205 – 270):

“Volta-te para dentro de ti e olha: se ainda não vês a beleza em ti, faze como o escultor de uma estátua, que deve tornar-se bela: ele, ora, tira um fragmento, ora aplica o cinzel, ora pule, ora limpa o pó, a fim de extrair um belo vulto do mármore. Como ele, tira o supérfluo, endireita o que está torto, clareia o que é fosco, até torná-lo brilhante, e não cesses de esculpir a tua própria estátua, até que a centelha divina da virtude se manifeste e vejas a temperança sentar-se num trono sagrado.” 

(Eneadas, I, 6, 9).

O movimento cíclico das estações, do dia, das horas e da programação da TV, não precisa se aplicar a nós. O livre-arbítrio, que nos foi dado pelo Grande Arquiteto do Universo, permite quebrar o paradigma do eterno retorno e não sermos escravos de erros que porventura tenhamos cometido. Equinócios e solstícios são marcos de mudança na natureza, e podemos enxergar essas datas como oportunidades, caso necessário, para mudarmos nossas atitudes.

Ser homens livres e de bons costumes é claro motivo de orgulho, porém, atentemo-nos para as forças que tentam nos transformar no que o filósofo árabe Al-Farabi (872 – 950) definiu como “servos por natureza”.

O que nos move é o juramento de trabalharmos para a felicidade da humanidade. É imperioso que quando todos são colocados à prova, nesses tempos em que a escuridão paira sobre nossa sociedade, lembremos que a luz da maçonaria, através da inteligência e capacidade de discernimento de seus membros, pode iluminar o caminho e impedir que o fundo do precipício seja o destino. Ainda dá tempo. Olhemos, nesse outono de 2021, para o resultado de nossas decisões, com prudência, equilíbrio e ponderação, características tão próprias da estação, e façamos escolhas que possam vir a premiar todos nós com exuberantes feixes de grãos na colheita de 2022.

Luiz Marcelo Viegas

Fonte: https://opontodentrocirculo.com/