Trabalho como forma de melhorar

Uma pergunta típica do caminho iniciático é para onde estamos indo e, geralmente, relacionamos isso com a de: Qual é o meu objetivo nesta vida? Ambas as perguntas têm respostas curtas e concisas, como nos direcionar para a Luz e servir a humanidade. O problema está em como fazer as duas coisas.

Muitos pensam que servir à humanidade só é possível se alguém se tornar um grande filósofo como Platão ou Aristóteles; um cientista como Einstein ou um médico como Fleming e se é verdade que todos eles contribuíram muito para o avanço da sociedade, não é menos verdade que todos nós, sem exceção, podemos fazê-lo.

Normalmente vivemos no día a día para o trabalho que nos tocou e que pode, em muitos casos, não ser do agrado nosso (por algo se chama trabalho). No wntanto, já no trabalho temos como servir aos demais ao nosso alcance. Se trata de algo tão simples como fazê-lo bem ou inclusivo melhor. Se você trabalha para o público seja amável, sorria, diga “bons dias que deseja” ou “ obrigado e até logo”; se é mecânico, eletricista, tubero… seja sincero em seu trabalho, cobre o adequado ao trabalho realizado, assessore a seus clientes corretamente; si é professor não se conforme em ensinar o mínimo que marca o plano de estudos, vá mais além, ponha a seus alunos o desejo de aprender mais e mais…Todos, em nosso trabalho, temos como superar-nos e servir aos demais.

Mas, muitas vezes não estamos satisfeitos com isso, precisamos de algo mais. E aí vem a vocação. A vocação deve ser tratada como mais um trabalho. Não devemos viver de e para a vocação da mesma forma que não vivemos de e para o trabalho. É necessário fazer o trabalho, é necessário e bom ter vocação e realizá-la; mas nossa vida não deve se ater exclusivamente a ela.

As vocações podem aparecer em qualquer momento de nossa existência na terra e não precisam – geralmente não – estar relacionadas ao trabalho que fazemos. Os seres mais avançados espiritualmente podem sentir a sua vocação desde cedo na vida, como acontece com as vocações religiosas de muitos homens e mulheres; mas o normal é que seja na meia-idade quando aparecem. 

A famosa crise da meia-idade se deve ao fato de que após décadas de trabalho materialista percebemos que já consumimos metade de nossa existência e continuamos no mesmo lugar, sem saber para onde ir ou como sermos úteis à sociedade.

Podemos ser um médico famoso, que salvou inúmeras vidas, que em algum momento a pergunta “O que posso fazer? Por que consegui salvar este paciente e não este outro? E perceberemos que há algo mais lá fora que não entendemos e que vale a pena entender. 

No caso que apresento, o médico pode chegar à conclusão de que não conseguindo salvar a todos, porque o objetivo final da vida é justamente a morte, se você pode ajudar a morrer com dignidade, pode melhorar tratando os pacientes como pessoas e não como meras estatísticas hospitalares, você pode ser gentil com parentes que perguntam sobre o estado de seu ente querido e um longo etc, e alguns, apesar de serem cientistas, descobrirão que ciência e misticismo não estão realmente em conflito, porque, como disse Paracelso : “Para curar o corpo é preciso também curar a alma”.

Não importa, neste momento, nem a causa que o gera nem a vocação que surge. O importante é que você perceba isso e aceite seu propósito na vida. Quem tem vocação encontrou um trabalho significativo. Uma vocação não é um trabalho. É uma relação transformadora em andamento que nos permite servir melhor a sociedade e nos eleva espiritualmente. Além disso, a vocação nos obriga a isso.

Toda a nossa vida foi definida em termos de realizações específicas. Na escola o importante era tirar as melhores notas e no trabalho o importante é ser o número um. Não importava pisar nos outros na subida, se ficavam para trás o problema era deles, era preciso subir cada vez mais. Nem a sociedade nem os indivíduos importavam, apenas a si mesmo importava. Agora a coisa mudou. Agora o tudo importa, a harmonia de tudo o Universo importa. É uma questão de contexto. Enfrentamos os fatos separadamente e obteremos sucessos ou fracassos, mas sabemos que não há mais vitórias ou derrotas, pois aconteça o que acontecer seguimos o caminho rumo ao nosso objetivo e se as vitórias nos aproximam delas e as derrotas também, o resultado final é que sempre nos aproximamos um pouco mais do fim. Das derrotas se aprende e, tudo o que está aprendendo está avançando. Quem tem vocação vive a vida com outro olhar, quando a vida é uma experiência mais ampla, rica e completa, as coisas acontecem de maneira diferente.

A vocação tem a qualidade de um chamado interior a seguir uma determinada direção, fazer-nos sentir o caminho ou dar-nos uma visão, um relançamento do futuro que é mais uma previsão do que um projeto. Quando nos preocupamos apenas com nós mesmos, fazemos planos para o futuro, é algo que deve ser cumprido sim ou sim, quando descobrimos nossa vocação de servir aos outros, fazemos previsões para o futuro. Queremos alcançar isto e aquilo, mas se não o conseguirmos nada acontece, sabemos que outros virão e continuarão o projeto de onde paramos. 

O trabalho para o bem da sociedade nunca se perde onde terminamos quando deixamos este mundo, outros o pegarão e continuarão. Somos mais um elo na caminhada contínua do Universo e, como disse no início, todos nós, sem exceção, somos necessários neste mundo. Do maior dos pensadores ao mais humilde dos agricultores. Pode o pensador fazer o seu trabalho se não se alimenta do que o agricultor planta e lhe vende?

Não existe trabalho ou vocação melhor ou pior se a pessoa faz como deve. Enquanto você não descobrir sua vocação e seu objetivo nesta vida, faça o seu trabalho da melhor maneira possível e não se arrependa ou se sinta menos do que ninguém se o seu trabalho for daqueles que a sociedade atual classifica como “baixo nível”. 

Pense que se o seu trabalho existe é porque é necessário. O Criador é sábio e tudo o que é criado é útil. Sem varredores de rua a sujeira nos cobriria em pouco tempo, sem zeladores ou porteiros, ninguém zelaria por nossas casas ou propriedades... todos precisamos uns dos outros e ninguém é supérfluo nesta roda que é a existência.
E sim, pode ter certeza que através do seu trabalho, seja ele qual for, você pode se aprimorar.

Mário Lopez
Fonte: Iluminando.org